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Crítica

Cenas Marcantes | Crítica

HQ é reflexo da dispersão artística de Dave McKean

17.01.2013, às 14H37.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H51

A estética de Dave McKean ajudou a dar cara aos anos 90. Ou talvez antes, daquele finalzinho dos anos 80, época em que era moda falar de pós-modernismo, palimpsestos, perda de referentes e bricolagem. McKean dava imagens a esta conversa confusa sobre a mistureba cultural que ia se aprofundando.

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Como os bons artistas, McKean demonstra ter grande preocupação em dominar técnica (fotografia, desenho, pintura, criação tipográfica, manipulação digital) e ser um ótimo executor: o cara que se atém a um cronograma profissional até o projeto estar pronto.

Também como bom artista, seus interesses variam bastante. Fora as capas de Sandman que o notabilizaram, mais uma e outra produção, não se vê o compromisso regular de McKean com um único grande projeto, nem uma única mídia.

Cenas Marcantes é reflexo desta dispersão de McKean. O álbum, que saiu originalmente em 2001, reúne várias histórias curtas que o artista produziu sobretudo nos anos 90. Todas têm cara de experimentais. Não pelo óbvio - de fazerem experimentos de narrativa e de técnicas -, mas porque parece que McKean está tendo a experiência de descobrir como contar histórias em quadrinhos por conta própria.

É claro que nesta época ele já tinha ótimas referências. Já havia trabalhado em belas HQs com Neil Gaiman (Violent Cases, Orquídea Negra, Sinal e Ruído), com Grant Morrison (Asilo Arkham). Também passou a década de 90 envolvido em um de seus outros poucos trabalhos longos, Cages, que escreveu e desenhou.

Cenas Marcantes, contudo, dá a impressão de iniciante tateando no escuro. São HQs que ou exageram no didatismo, como "Suas Roupas Estão Mortas", ou, pelo inverso, no hermetismo, como "A Verdade é Dita Aqui". É complicado entender onde McKean quis chegar com algumas imagens, ou que sensações queria passar.

Apesar disto, há HQs que se deve reler pelo resto da vida, como "Sua História". E é impossível negar que todas as páginas, independente de didatismos ou do hermetismo, são assombrosamente lindas.

A edição brasileira segue o formato exato da última versão do álbum que saiu nos EUA, pela Dark Horse, em 2009. O único problema é que algumas fontes tipográficas da original se perderam, substituídas por similares (como em "Sua História") - o que, para um obra de design tão milimetricamente apurado quanto a de McKean, é um ponto negativo. Outro negativo é que, sendo uma produção de tiragem baixa e distribuição restrita, o álbum ficou bastante caro.

Apesar destes poréns, é bom ver uma retomada na obra de McKean no Brasil - e torcer para que seja um ensejo para a publicação de Cages, seu grande trabalho solo.

Cenas Marcantes
(tradução de Cassius Medauar)
NewPop, Brasil, 2012
184 páginas, 23 x 30 cm, colorido
R$ 69,90

Nota do Crítico
Bom

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