HQ/Livros

Crítica

Batman - Endgame | Crítica

Scott Snyder revisita temas em arco que celebra a teatralidade

01.05.2015, às 16H16.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H30

O público hoje em geral, e muito leitor de quadrinho em específico, não parece interessado em alimentar sua própria suspensão de descrença. Em toda história solo de super-herói que descamba para o caos, esse leitor sempre pergunta: "Mas por que ele não chamou a Liga da Justiça para ajudar? Por que não convocou os Vingadores de uma vez?". É a eterna versão super-heroística daquela demonstração clássica de Consumo Pragmático: "Por que Frodo não pegou carona na águia para chegar na montanha logo?".

None

O roteirista Scott Snyder abre "Endgame", o seu mais recente arco na HQ do Batman, já prevenindo-se do resmungo: a Liga está doente, atacada pelo mais recente vírus do Coringa, e não poderá ajudar o vigilante neste novo encontro do Morcego com seu nêmesis. Ao começar a história com um confronto épico entre Batman e Superman, que passa pelo The Gotham Royal Theatre de forma retumbante, o roteirista também dá a essa narrativa - originalmente pensada para ser a despedida de Snyder e do desenhista Greg Capullo da série - um tom superlativo.

Em essência, "Endgame" não é tão diferente assim de outras bat-histórias: a cidade novamente é consumida por uma epidemia viral, alguns vilões provisoriamente se aliam aos heróis para acudir, e a vida de coadjuvantes-chaves (Gordon, Alfred) fica no limite para engrossar o caldo. Tematicamente, este arco não é sequer inédito dentro da passagem de Snyder pela série: em "Cidade das Corujas", o antagonista também tentava convencer Bruce Wayne e o leitor de que sua lenda pessoal era maior e mais longeva do que a do Batman.

É o tom superlativo - principalmente a disposição de Snyder e Capullo para contar uma história de desdobramentos grandiloquentes sem perder de vista o entretenimento mais imediato - que torna "Endgame" uma história tão irresistível. Desde "Zero Year", Snyder leva ao limite, mais do que muitos roteiristas se permitem, a noção de que Gotham é só um palco montado para receber duelos de lendas. A imagem do Gotham Royal Theatre retorna ao final desta história porque ela serve perfeitamente de bookend: a capacidade de regeneração da cidade nada mais é que a cortina que fecha e reabre no teatro, diariamente.

"Endgame" transforma essa teatralidade em tema de uma maneira inteligente, tanto nas pequenas sacadas de ação (o gás que Batman libera na cidade para combater a Liga é como uma versão amplificada da bomba de fumaça dos ilusionistas) quanto ao lidar com a suposta imortalidade do Coringa, o caráter atemporal das lendas transformado em elemento de cena. A capa da edição #40, com Batman e Coringa representados como São Jorge e o dragão, é uma das muitas contribuições do desenhista Greg Capullo, sempre com seu traço ao mesmo tempo leve e grave, para esse esforço de engrandecer o duelo.

No mais, o palhaço é o vilão preferido da galera porque é ele que representa, acima de tudo, essa noção do espetáculo pelo espetáculo. Há um prazer na sua inconsequência que nos parece proibitivo. Quem sabe a relação de amor e ódio que nós nutrimos pelo Coringa não seja a mesma que mantemos hoje com nossa suspensão de descrença?

Nota do Crítico
Ótimo

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.