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Crítica

Black Panther #1 | Crítica

Ta-Nehisi Coates questiona as noções da realeza em sua esperada estreia nos quadrinhos

15.04.2016, às 15H59.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H44

A Marvel Comics acaba de publicar a primeira edição da nova HQ Black Panther, e o resultado é ambicioso na medida, como se poderia esperar da estreia como roteirista de quadrinhos do romancista e jornalista Ta-Nehisi Coates, autor que chega à editora com status de astro literário, neste ano em que o Pantera Negra completa meio século de histórias.

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O arco intitulado "A Nation Under Our Feet" (em referência ao livro homônimo de 2003 de Steven Hahn, sobre a migração da população negra dentro dos EUA do Sul para o Norte nas décadas que se seguiram à Guerra Civil americana) enfoca o Pantera Negra diante de uma revolta popular em Wakanda, estimulada por um grupo superhumano misterioso, com contornos de guerrilha insurgente.

A avançada nação africana vive um momento de crise que permite esse levante. Wakanda vem sacudida por sagas recentes, da inundação promovida por Namor à invasão de Thanos, mas a HQ inteligentemente usa isso mais como motivador de uma instabilidade social do que propriamente como ponto de partida da trama. Com a exceção da morte da irmã de T'challa, que parece ter uma importância secreta nesse arco, não há nada de pontual nas histórias passadas que precise ser conhecido para que o leitor ocasional compreenda melhor a nova fase de Black Panther.

Aquele temor sempre recorrente de que um romancista possa não se adequar à mídia dos quadrinhos logo se dissipa aqui. A edição começa com recordatórios, principalmente, mas a ação se faz presente, reapresentando o Pantera e seus poderes, e a HQ é literária e cinemática em medidas iguais. Coates não perde tempo e já estabelece contextos e personagens em dilemas sobre lei e ética, poder e responsabilidade, sobre a função das mulheres num patriarcado, e simultaneamente cria situações de ação variadas, que aliam o tribalismo e a tecnologia de Wakanda de forma criativa.

A impressão que fica mais latente é a de um autor que conhece a mitologia por trás do que está lidando, e a envolve com um texto cheio de gravidade, cheio daquela solenidade das tramas palacianas. O traço do desenhista Brian Stelfreeze, embora finalizado com linhas e cores que não dão ao desenho uma cara soturna, está cheio de sombras que logo de cara impõem a T'challa os pesados problemas inerentes ao trono.

Quem esperava de Ta-Nehisi Coates uma história instigante de viés de esquerda, que questionasse as noções da realeza e do direito adquirido, tem nessa Black Panther #1 um primeiro capítulo bem promissor. As duas encarnações mais recentes da série, em 2009 e 2011, tiveram apenas 12 edições cada. Ainda que o Pantera de Coates também seja breve - quando o escritor foi anunciado, a Marvel disse que ele ficaria pelo menos um ano à frente da HQ - é notável e já evidente o esforço de criar um arco que deixe sua marca.

Nota do Crítico
Ótimo

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