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Scott Pilgrim, Brian Michael Bendis e um guia de compras para o resto do ano

31.03.2009, às 00H00.
Atualizada em 20.12.2016, ÀS 03H08

SCOTT PILGRIM 5

Faz anos que não jogo videogame (motivo: me vicio muito fácil e viro mais inútil). Mas lembro de algumas conversas da época em que jogava, e que vez por outra ouço de novo: o debate Nintendo versus "as outras".

Scott Pilgrim

None

Lá Fora

None

Brian Michael Bendis

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Kabuki

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Enquanto há o esforço de várias produtoras em aumentar a complexidade dos games nos gráficos, nas histórias e no realismo - o roteiro de um GTA, a sensação de uma metralhadora nazista destruindo suas entranhas -, a Nintendo caminha para o lado contrário. Seus consoles e games são baseados em jogabilidade, em um envolvimento mais simplista do jogador com um universo também mais simples e menos realista.

Ou eu estou enganado e isso foi efeito de algumas horas brincando naqueles games babaquinhas do Wii, tentando abanar o monstro subindo a montanha, passando o barbeador e arrancando pelo do nariz... E de lembrar que um encanador bigodudo juntando moedinhas e matando dragões para salvar princesas não faz sentido.

Enfim, toda essa introdução é para dizer que, se a Nintendo é mesmo essa coisa de baixa complexidade e alta jogabilidade, Scott Pilgrim é o Nintendo dos quadrinhos.

Já falei do quarto volume aqui na coluna, ano passado. O quinto volume saiu em janeiro nos EUA e foi a grande sensação do mês - não só porque todo dia saem notícias sobre a adaptação cinematográfica, mas também porque é o penúltimo volume da saga criada pelo canadense Bryan Lee O’Malley (eram pra ser sete volumes, mas ele baixou para seis).

O primeiro motivo por que Scott Pilgrim lembra Nintendo é a piada recorrente do álbum: a vida de Scott é um videogame. Ele encontra itens especiais que lhe dão poderes, as pessoas à sua volta começam a brilhar quando tem segredos, uma barrinha de energia aparece sobre sua cabeça quando ele está cansado. Ele é Super Mario e sabe bem disso.

O segundo motivo é que O’Malley é despretensioso. Numa época de grandes quadrinhos sérios, "artísticos", ele mistura linguagem de mangá e o roteiro mais pop-meloso dos filmes de adolescente norte-americanos. Nesse quinto volume, chega até a tirar sarro do grande nome dos quadrinhos adultos, Chris Ware, usando um dos seus recurso mais característicos, que é o de colocar os advérbios em grandes blocos de texto ("ENTÃO", "ENQUANTO ISSO") no topo dos quadros. Essa é a "jogabilidade" do gibi.

O que salva a série de não ser só um roteirinho pop-meloso e cópia de mangá? É engraçada, brilhantemente engraçada. Tem as piadas prontas, tem "stoner humor", tem a brincadeira com videogames e a piada maior de Scott Pilgrim: representar todo adolescente nerd tardio meio sem rumo, mas que encontra grandes significado nas menores conquistas.

Por que ainda não chegou no Brasil? Ano passado perguntei para a editora Oni Press, que publica a série, e eles informaram que os direitos só seriam vendidos quando houvesse mais informações sobre o filme (o que elevaria preço dos direitos de publicação). É hora de consultá-los de novo.

DARK AVENGERS #2/NEW AVENGERS #50

Então, sr. Brian Michael Bendis. A que ponto chegamos?

Sempre gostei muito do seu trabalho. Li Jinx, sua primeira criação de sucesso. Acompanhei quando você foi "promovido" a trabalhar com Todd McFarlane e fiquei mais feliz quando a Marvel o descobriu e lhe confiou repensar o Homem-Aranha para o século 21. Daí em diante, não demorou muito para você tomar conta do Universo Marvel - que vive a era Bendis, não é mesmo? Que tal ser o Stan Lee careca?

Mas quanto mais você se insere no Universo Marvel, mais seu trabalho decai. Ok, é louvável manter essa produção fantástica, de cinco, seis, dez roteiros por mês, com diálogos excelentes, ótima caracterização, fazendo seus desenhistas pirarem no uso da página. Mas tem uma coisa que você não consegue mais: fazer uma história avançar.

Secret Invasion: é uma brigalhada geral entre super-heróis e skrulls (e só). "Dark Reign": os vilões tomaram conta do governo, os heróis que se cuidem (tá, e qual é a novidade?). Dark Avengers, a nova série: uau, Norman Osborn faz os Thunderbolts virarem Vingadores (sim, e?). Em New Avengers: os Vingadores se revoltam (não, sério?). E, no fatídico cross-over, eles... lutam (!!).

Ok, você sabe contar uma história. Mas o conteúdo, o o-que-acontece, deixou de ser interessante faz tempo. Você parece ter caído na armadilha dos gibis de super-heróis, a do só-um-pouquinho-de-tensão-mas-tudo-tem-que-ficar-como-está. Até seu Ultimate Spider-Man, que tinha algumas reviravoltas na vida de Peter a cada punhado de edições, estacionou. E Powers, que revirava o mundo a cada edição, você simplesmente parou de escrever.

É culpa dos editores da Marvel, que não lhe deixam trabalhar direito? Ou é você mesmo não querendo criar problemas para si, considerando que tem cinco séries para manter? Por favor, dê um jeito. Você é um dos grandes nomes dos quadrinhos nesse século, mas está jogando sua carreira na lama.

DEPARTAMENTO DE AQUISIÇÕES

"Cultura pop é 80% expectativa". Ouvi essa frase só uma vez e nunca consegui descobrir se lembro dela direito, nem quem é o autor. Mas, enfim, a cultura pop é mesmo baseada em ficar meses esperando o filme, o livro, o álbum, o seriado aparecer.

Com gibis não é diferente. E 2009 já está cheio de lançamentos legais programados até novembro lá fora. A lista abaixo é do que já tenho encomendado, e que vou recebendo aos poucos ao longo do ano. E são recomendações também - com antecedência, o que lhe permite começar a reservar uma graninha JÁ.

MARÇO

ABRIL

MAIO

JUNHO

JULHO

AGOSTO

SETEMBRO

  • Sleeper: Season Two (Ed Brubaker/Sean Phillips, DC/Wildstorm)
  • Pluto vol. 5 (Naoki Urasawa, Tokyopop)
  • Alec: The Years Have Pants (Eddie Campbell, Top Shelf)

NOVEMBRO

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