Lá fora: Os lançamentos norte-americanos

Não sou da época em que Julius Schwarz editava quadrinhos para a DC, e nem me atrevo a dizer que sei o que foi a era Schwarz. Mas o fato inédito da editora dedicar oito edições especiais, reunindo alguns de seus melhores escritores e ilustradores, bem como as próprias histórias, dão uma idéia do que o velho editor significou para as HQs americanas.

Schwarz tinha um hábito que hoje seria considerado insano: previa a imagem da capa de uma edição, e pedia ao roteirista para fazer alguma coisa a respeito. Então, se inventasse que a capa da próxima edição do Gavião Negro traria o herói enfrentando um gorila com asas, o pobre escritor teria de penar, bolando de onde saiu o tal fenômeno alado e ainda criar uma aventura completa a partir daí. A propósito, o exemplo que acabei de citar é verídico. Serve até de inspiração para uma das histórias dos especiais.

Se Schwarz deve ser lembrado por esse tipo de idéia maluca, o enredo mais interessante da coleção é a de Denny O’Neil e Doug Mahnke, no especial do Flash. Um ser alienígena ameaça desintegrar o herói se ele não fizer 168 pessoas acreditarem neste perigo... por meio de um gibi!

A melhor homenagem, no entanto, é sem dúvida o roteiro de Grant Morrison em Mystery in space. Em meio a uma complexa trama de Adam Strange que mistura perigos na Terra e em Rann, o escritor escocês diz que Schwarz marcou a geração que viveu na Guerra Fria, ajudando a imaginar mundos e sonhos distantes, de paz, amor e liberdade. Todos os especiais juntos valem por esse pequeno conto.

Crossovers!

Compre todas as edições de apenas sete - Avengers, Iron Man, Captain America, Captain America & Falcon, Thor, Fantastic Four e Spectacular Spider-Man - séries mensais para entender o que está acontecendo em cada uma!

Há quanto tempo você não via isso? Levante o dedo quem estava sentindo falta!

Ok, Avengers disassembled não é um crossover tradicional, e você pode seguir tranqüilamente apenas uma das revistas sem se preocupar com as demais - mesmo porque, se ler todas, vai notar que é impossível as respectivas tramas ocorrerem na mesma continuidade! (os editores estão dormindo?)

A meio caminho do final, tudo que aconteceu é o que você já deve saber: a Mansão dos Vingadores foi atacada, um herói foi morto, outro aparentemente enlouqueceu, mais um está em estado crítico no hospital. Isso se ficarmos só em Avengers.

Nas outras publicações, algumas coisas malucas (inter-relacionadas ou não?) estão acontecendo: um romance (?) entre Capitão América e Feiticeira Escarlate, a volta do Caveira Vermelha, surtos de insanidade temporária (e assassina!) em Tony Stark, a ilha de Manhattan seqüestrada (de novo!) e o Ragnarok em Asgard! Os heróis, muito inteligentes, somam dois mais dois e percebem uma conspiração por trás de tudo.

Faça um bem a si mesmo e acompanhe o crossover só por meio de Avengers. Pelo menos, nesse gibi, Brian Bendis está um passo adiante do leitor e, dentro do possível, mantém o enredo interessante. Mark Ricketts em Iron Man não está tão ruim, mas ainda precisa provar-se mais. E o Quarteto Fantástico de Waid e Wieringo não é de se jogar fora, mas anda meio fraquinho...

Mais crossover! E agora para valer!

Leia Detective comics, em seguida Legends of the Dark Knight, depois Nightwing, passe por Gotham Knights, visite Robin, corra os olhos por Batgirl, folheie Catwoman até chegar a Batman E repita esta ordem por quatro meses!

War games (Jogos de guerra) o novo crossover da família morcego começa quando o plano de um dos bat-personagens dá errado e enseja uma guerra de gangues em Gotham City. Ao fim do primeiro mês, o conflito entra numa fase perigosa: três gangues invadem uma escola de segundo grau em busca da filha de um mafioso - não por acaso, a escola de Tim Drake.

Ironia trágica - as edições passadas na escola saíram perto do recente desastre em Beslan...

Como em todo crossover da franquia do Morcego, as coisas se movem lentamente. Cada edição dá um passo de lesma. A desculpa é mostrar as diferentes perspectivas, e os efeitos no mundo de cada personagem envolvida, como sempre. É um pé no saco ver como a trama demora a pegar.

Mais comentários quando acabar, em novembro.

Ninguém prestou muita atenção nos três romances gráficos publicados para acompanhar a versão cinematográfica de Estrada para Perdição. Bom, o filme nem fez muito sucesso, e os gibis - foram três, Oasis, Sanctuary e Detour, publicadas com bastante distância entre si - demoraram a dar as caras...

Se você gostou da Estrada para Perdição original, vale a pena?

Vale.

Max Allan Collins dá continuidade a uma história concisa e fiel ao gênero dos grandes criminosos americanos da década de trinta, com uma densa pesquisa histórica que deixa tudo mais interessante.

Faz falta o artista Richard Piers Rayner, que conferiu atmosfera realista ao romance gráfico original. José Luis García-López (em Oasis e Detour) e Steve Lieber (Sanctuary) não fazem feio, mas têm um estilo muito distante do de Rayner.

Sabe o que é mais legal nessas publicações? O formato.

É bom ter um ótimo romance gráfico, 100 páginas, na mão para ler de cabo a rabo. Deviam fazer mais quadrinhos assim.