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Museu de Artes Gráficas: Uma luz no fim do túnel?

Museu de Artes Gráficas: Uma luz no fim do túnel?

30.04.2003, às 00H00.
Atualizada em 15.01.2017, ÀS 08H01

No começo de abril, a comunidade de artistas e estudiosos de histórias em quadrinhos e humor gráfico do país tomou conhecimento, entre surpresa e estarrecida, dos planos da nova Secretária Estadual de Cultura, a sra. Cláudia Costin, de fechar o recém-inaugurado Museu de Artes Gráficas (MAG), lançando uma ducha de água fria em uma antiga aspiração da categoria.

Tudo começou quando, em uma atitude unilateral da administração pública, a Secretaria de Cultura comunicou a decisão de fechamento ao Diretor do Museu, o quadrinhista Gualberto Costa, a ele lhe fornecendo apenas algumas explicações no mínimo insultantes, ao mesmo tempo em que estipulava um prazo de sete dias para que ele decidisse se gostaria de doar o acervo de originais ao Museu de Imagem e Som, outro equipamento cultural do Estado. Ou para dar a este outra destinação qualquer.

Tratava-se de uma mensagem clara de despejo do MAG: pegue seus trapos e suma!

Ainda que não tenha sido em termos tão crus, o efeito foi o mesmo. E, além da surpresa, gerou revolta. No entanto, passado o espanto inicial, mobilizaram-se artistas e simpatizantes, buscando contrapor, como diriam os filósofos, às razões da autoridade a autoridade da razão. Assim, abaixo-assinados, tanto virtuais como reais, passaram a ser feitos, aproximando-se, em pouco mais de vinte dias de organização, de 10 mil assinaturas vindas de todos os estados brasileiros e até mesmo do exterior. Ao mesmo tempo, cartas de apoio ao Museu de Artes Gráficas, provindas de diretorias de instituições culturais, escolas, associações e distintos grupos da sociedade foram e continuam a ser coletadas, compondo um já expressivo cordão de apoio à manutenção da instituição. Em meio a tudo isso, artistas gráficos elaboraram charges e caricaturas sobre o episódio, disseminando-as nos mais diferentes veículos de informação, como jornais, revistas, páginas da internet, etc. E assim, em pouco tempo, o Museu de Artes Gráficas tornou-se foco de atenção da imprensa falada e escrita, alertando a sociedade sobre o fechamento de mais um aparelho cultural no país.

Tudo isso teve algum efeito. Felizmente, as autoridades constituídas do Estado de São Paulo parecem não estar ainda totalmente surdas ao alarde das massas e acenam agora com a possibilidade de um início de conversa. Na próxima segunda-feira, 5 de maio, a Secretária Estadual de Cultura, por iniciativa própria, vai se reunir com o Diretor do Museu de Artes Gráficas, para conversarem a respeito dos rumos e perspectivas para essa instituição. É um (re)começo pelo menos alentador para uma executiva de primeiro escalão da administração pública paulista que aparentemente nem sequer se deu ao trabalho de ler os cinco volumes do dossiê de mais de 1000 páginas a ela encaminhado pela Diretoria do Museu (elaborado exatamente com o objetivo de informar e esclarecer a nova titular da Secretaria Estadual de Cultura sobre os objetivos e abrangência do Museu). Se o tivesse feito, talvez muitos desencontros e desgastes pudessem ter sido evitados. Mas nunca é tarde.

No entanto, se há motivos para esperança no ambiente das artes gráficas brasileiras (o otimismo parece ser um defeito congênito de todos os artistas...), nem por isso a mobilização daqueles que acreditam na proposta do Museu de Artes Gráficas parece esmorecer. Enquanto os esforços de angariar mais assinaturas por meios virtuais (http://www.vettor.org/mag/) e não-virtuais continuam a toda força, a diretoria do MAG prepara uma revista informativa sobre artes gráficas que será proximamente disponibilizada na Internet, organiza uma exposição dos desenhos e charges elaborados em apoio ao Museu e intensifica a solicitação de mais manifestações gráficas em seu favor. Tudo isso é extremamente salutar. Ainda que a prudência mande pisar no breque e diminuir, neste momento, o ritmo do processo de enfrentamento, a mesma prudência também aconselha cautela antes de qualquer mudança de rumo. Afinal, o passado recente não permite desacreditar que, ao invés de uma luz no fim do túnel, o que pode estar à espera dos defensores do Museu de Artes Gráficas, na reunião com a Secretária de Estado da Cultura, é muito mais outro túnel do fim da luz. Ou seja: ainda é cedo para que os artistas gráficos brasileiros guardem os seus pincéis.

Leia mais:
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13/12/2002 Museu de Artes Gráficas será inaugurado em São Paulo




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