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Cemitérios de Dragões | Raphael Draccon fala sobre seu novo livro e projetos futuros

Autor revela que Dragões de Éter pode virar mangá e game

08.08.2014, às 10H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 15H23

No dia 30 de agosto, a Bienal do Livro de São Paulo será palco do lançamento de Cemitérios de Dragões, novo livro de Raphael Draccon. Após mudar de editora e lançar livros no exterior, o autor volta seu foco para o público brasileiro e para a literatura em um livro cheio de referências à cultura japonesa.

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"Duvido que tenha alguém crescido na década de 1980 e não tenha visto séries tokusatsus", diz Draccon. Esses seriados nipônicos são a principal inspiração do escritor, que lançará o livro com uma tiragem de 30 mil cópias, um número altíssimo para os padrões nacionais. Em entrevista ao Omelete, ele ainda falou sobre os projetos futuros, fala sobre a comédia que está escrevendo para a Dama Filmes e revela que suas obras virarão games e animações em breve.

Leia o primeiro de Cemitérios de Dragões capítulo aqui

Quais as principais histórias que te inspiraram para Cemitérios?

Escrevo sobre coisas que amo. E duvido que tenha alguém que também tenha crescido na década de 80 sem assistir a alguns episódios das séries tokusatsus como Jaspion, Changeman, Black Kamen Rider, Jiraya, Jiban, Cybercops. Eu procurei por romances que tivessem essa temática com uma abordagem mais adulta, não encontrei e optei por desenvolver esse cenário em Cemitérios de Dragões.

O plot vem da junção dos dois super sentai mais importantes pra nós brasileiros: de Flashman vem a coisa das cinco pessoas diferentes levadas para outra realidade, de Changeman, a ideia dos sentai se aproximarem mais de um grupo de elite militar do que de uma equipe de super-herois.

Quantos livros estão planejados para a série?

Tenho contrato para três em um universo desenvolvido ao longo de anos. O bom desse cenário é que o desenvolvimento da série é centrado nos personagens, que se interligam a dimensões diferentes. São personagens com conflitos fortes, em contato com o melhor e o pior da raça humana. A personagem ruandesa, por exemplo, é uma descendente do estupro promovido pela maioria hutu nas mulheres tutsi. As filhas nascidas desses estupros até hoje são consideradas párias na própria sociedade, por serem lembranças vivas de uma vergonha da qual nem mesmo tiveram culpa. Como você segura a raiva da vida dentro de uma pessoa com um destino assim? E se você a armasse com uma tecnologia militar superior, você acha que a primeira coisa que viria na cabeça dela seria explodir monstros? Os monstros para ela estão caminhando dentre os seres humanos... Logo, não importa onde o cenário da história se passe, seja na Terra ou em qualquer dimensão fantástica, os personagens são o foco.

O que os fãs de Fios de Prata e Dragões podem esperam de semelhante nessa aventura? E o que teremos de diferente?

Dragões de Éter tinha uma proposta juvenil. Cemitérios de Dragões tem uma proposta adulta. A coisa ali é brutal. Os golpes não geram faíscas, eles tiram sangue e quebram ossos. Os sentai desse cenário, quando não estão trucidando monstros, estão dizimando células terroristas ou destronando ditadores, sem responder a ninguém. Para líderes políticos de um mundo assim, é bom que existam monstros no sentido literal da palavra. O cenário conta inclusive com artes conceituais produzidas pelo artista Felipe Kroll, que eu autorizei a produzir uma adaptação em graphic novel de Fios de Prata. Ele captou bem os conceitos do livro e apenas pelas artes dele já é possível se perceber a seriedade desse cenário. Sobre similaridades e diferenças, assim como em "Dragões de Éter", existe uma alternância de pontos de vista. E aqui os dragões não são metáforas, ele de fato existem.

Como Cemitérios atrairá novos leitores? Você continua com foco no leitor jovem adulto ou há mudanças?

O leitor jovem adulto hoje já é adulto, né? Os moleques de 12 anos estão lendo Guerra dos Tronos, como se o livro fosse infanto-juvenil. Essa classificação acaba caindo mais em relação aos personagens e para as livrarias separem nas estantes. Nesse sentido, Cemitérios é adulto. Espero que o cenário agrade tanto ao público de literatura fantástica, quanto o público acostumado com a cultura pop japonesa, dos animes aos tokusatsus, que nem sempre é fanático pela literatura fantástica necessariamente, mas também não deixa de ser apaixonado por histórias fantásticas.

Como essa obra te desafiou como autor?

A modernização de conceitos que a princípio soariam infantis. Cinco seres fantasiados com roupas coloridas? Samurais que viram leões de pelúcia? Na vida real isso causaria riso. Mas armadura escuras de metal vivo com detalhes de sangue de dragão seriam assustadoras. Ao contrário do híbrido Power Rangers americanos, voltado ao público infantil, os super sentai e metal heroes possuem conceitos profundos e até depressivos. Jetman elevou os roteiros de super sentai a outro nível, com um protagonista atormentado pela perda da mulher já no piloto. E já assistiu a algum episódio de "Garo"? Tem cenas de sexo, nudez, magia negra e violência que faz a gente arregalar os olhos pela ousadia. Isso era o grande desafio.

No processo de criação você percebeu uma mudança na sua maneira de escrever e produzir? Como a mudança de editora influenciou nesse caso?

Dragões de Éter foi escrito quando eu tinha aproximadamente 20 anos. Finalizei Cemitérios com 33. Cada obra representa um momento e pensamento de uma época, e é por isso que os autores evitam mexer nos seus textos antigos. É bacana acompanhar a evolução dos nossos escritores favoritos.
Já a mudança para Rocco envolve a responsabilidade de estrear o novo selo em uma editora com um catálogo de fantasia tão forte. A equipe editorial é incrível. Eles aceitaram minhas sugestões de capa e também fizeram o possível para deixar o preço da obra o mais acessível.

Atualmente você trabalha não só com literatura, mas também com cinema e outras mídias. Quais são os seus projetos? Você pode revelar?

A ida para a editora Rocco foi uma decisão consciente, que me permitiu me voltar mais para o cinema. Desde que fiz isso, muita coisa aconteceu. Eu vendi meu primeiro longa-metragem: uma comédia nerd para a Dama Filmes. Tive reuniões com executivos de Hollywood e assinei com uma agência americana. Fios de Prata está sendo adaptado para graphic novel e Dragões de Éter pode virar videogame e mangá em breve. Em campos empresariais fora da área literária, também fechei uma linha de camisetas e uma viagem com leitores a ser anunciada pelos cenários literários de Londres em janeiro, que passará do Museu de Sherlock Holmes aos cenários de Harry Potter.

Outro projeto que me deixou muito feliz foi pelo fato de que, por ser um ativista de causas filantrópicas há uns dez anos, a mudança de editora me permitiu contribuir com mais uma atividade nesse sentido. Meu próximo livro será um ebook exclusivo com todos os royalties tanto meus quanto da editora Rocco cedidos por contrato para instituições que ajudam crianças no tratamento contra o câncer infantil. Por último, uma grande conquista particularmente falando, foi descobrir a sensação de receber um e-mail de Guillermo del Toro. É um diretor que admiro demais e poder conversar com ele sobre a importância de Círculo de Fogo para a minha geração, que cresceu com os tokusatsus, é algo sem preço.

A literatura fantástica brasileira se fortalece a cada dia e tem em você um dos principais autores. Qual será o próximo passo para esse gênero? Será que a televisão e o cinema já estão preparados para absorver essas criações?

Estão. Tive reuniões com grandes diretores e produtores do atual cenário brasileiro e eles estão abertos a esses tipos de projetos. Tenho reuniões periódicas com um grande estúdio americano sobre um projeto desse tipo. A questão é que para cada projeto aprovado em Hollywood, tenha certeza que outros cem estão na fila. Até mesmo a Rede Globo está se abrindo para essa temática. Tenho amigos escritores que estão batalhando para abrir as portas para o gênero por lá igualmente e tenho certeza de que irão conseguir.

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