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O Grifo de Abdera | Lourenço Mutarelli fala sobre seu novo romance e suas aventuras no cinema

"Eu me relaciono muito bem com o que faço, mas estou falido"

31.08.2015, às 18H20.
Atualizada em 08.11.2016, ÀS 17H00

Filme brasileiro mais aclamado da temporada, com prêmios conquistados no Festival de Sundance e de Berlim, Que Horas Ela Volta?, de Anna Muylaert, deu ao escritor e quadrinista Lourenço Mutarelli a chance de brilhar como ator, numa interpretação que vem sendo alvo de elogios no Brasil e no exterior. Mas o sucesso no filme, lançado na última quinta-feira, não afastou Mutarelli de seus compromissos com a Literatura: em outubro, ele lança pela Cia. das Letras seu sétimo romance, O Grifo de Abdera. Já em pré-venda em algumas livrarias, a trama do Grifo encerra um jejum de cinco anos que o autor de A Confluência da Forquilha passou sem publicar exercícios literários, fazendo apenas quadrinhos e atuando sazonalmente. A última incursão dele à seara das Letras foi com Nada Me Faltará, de 2010. Aliás, ele promete fazer uma espécie de happening para celebrar a publicação: assim que o livro for chegar às prateleiras, ele vai organizar um evento no Sesc Pompeia (em data a ser confirmada) onde vai ler trechos do último capítulo acompanhado pelo guitarrista Fábio Brum e pelo ator Nilton Bicudo

Estou querendo ter o Otávio Muller na leitura também mas ainda estamos ajustando como será. Esse livro nasceu da conversa com um diretor vindo da Publicidade, o Fernando Sanchez, que queria estrear na direção de longas com uma história minha. Ele pediu que eu  escrevesse algo tendo o Otávio em mente”, explica Mutarelli ao Omelete. “Este livro é parte uma história a ser filmada, parte uma HQ experimental, parte uma revelação autocrítica e irônica do verdadeiro Lourenço, mas com uma aura poética”. 

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Lourenço Mutarelli em Que Horas Ela Volta?

No livro, ele vira uma espécie de personagem de sua própria história, num lance de metalinguagem. Segundo a sinopse divulgada pela Cia. das Letras, o romance narra a seguinte trama: “Mauro é roteirista dos quadrinhos de Paulo. Os dois publicam sob a alcunha de Lourenço Mutarelli, e são representados publicamente pelo bêbado Raimundo. Mas a morte de Paulo forçará Mauro a tentar uma carreira solo com O cheiro do ralo, seu primeiro e bem-sucedido livro. É quando ele recebe de um estranho uma moeda antiga, o Grifo de Abdera, e sua vida muda.  Oliver não conhece Paulo, Mauro, Raimundo ou Lourenço. Mas, quando Mauro recebe a moeda, uma conexão se forma entre eles”. Na entrevista a seguir, Mutarelli antecipa os mistérios do Grifo e comenta sobre seu desempenho frente às câmeras.

O que representa esse regresso à literatura agora com o Grifo de Abdera, depois de um recesso de cinco anos, absorto entre filmes e aulas, retornando com uma metaficção? O que há de Mutarelli no Lourenço da trama?
LOURENÇO MUTARELLI:
 É muito importante para mim este retorno. No começo, parei porque achei que seria bom um tempo, mas o tempo nos engole e, quando me dei conta, já tinham passado três anos sem que eu produzisse literatura. Não há muito de mim nesse Mutarelli. Por outro lado, acho que seria eu, se não fosse a literatura. Seria eu se continuasse preso naquele mundo fechado que vivia quando fazia HQs. Esse Mutarelli do livro é muito mais chato e amargo do que sou agora.

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De que ponto a experimentação formal das literatura modificou sua experiência com o desenho? Você pensa ainda em fazer quadrinhos?
MUTARELLI: 
Esse livro traz uma HQ de 80 páginas. Completamente experimental. Ela é parte do processo criativo da trama de Abdera. Não era para ser publicado, mas acabei gostando muito do resultado e a encartei como sendo de um dos personagens. Tenho uma ideia para um quadrinho, mas não tenho mais a disposição de passar pelo menos dez horas por dia trabalhando nisso. A literatura me fascina muito mais e acho que vou muito mais fundo quando trabalho dessa forma.

Há críticas notáveis ao seu desempenho no filme de Anna Muylaert, Que Horas Ela Volta?, sobretudo no que diz respeito ao naturalismo. Como foi construir o personagem do Seu Carlos e o quanto da sua própria pessoa, de seus TOCs há ali?
MUTARELLI -
 É sempre maravilhoso trabalhar com a Anna Muylaert. Temos tanta liberdade e ela vibra tanto com o nosso jogo. Eu brinquei dizendo que o Doutor Carlos é o meu contrário, pois ele é um milionário frustrado com o seu trabalho artístico. Eu me relaciono muito bem com o que faço, mas estou falido.

Você já estuda a hipótese de escrever direto para o cinema, como roteiro? O quê? Por quê? O que o cinema virou para você após a transposição para as telas de seu romance O Cheiro do Ralo, em 2006, e todo o seu percurso no circuito?
MUTARELLI -
 Nunca penso em cinema no que eu faço. Não domino a técnica do roteiro. Mesmo quando trabalho numa encomenda para o cinema foi o caso dos meus romances Jesus Kid ou Miguel e os Demônios, eu escrevo um livro para ser adaptado. Minha relação com o cinema é mais intensa nessa brincadeira do não ator. Recuso muita coisa. Digo que só trabalho com a Anna Muylaert, mas, às vezes, surgem convites que não dá para recusar. Eu filmei, por exemplo, O Escaravelho do Diabo, de Carlo Milani, e vou fazer agora um pequeno papel em um filme mineiro chamado Elon Rabin Não Acredita na Morte, de Ricardo Alves Junior. Chegam muitos convites, mas por compromisso com oficinas que ministro, acabo não fazendo. 

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