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O que rolou no 4º FIQ - Festival Internacional de Quadrinhos

O que rolou no 4º FIQ - Festival Internacional de Quadrinhos

17.10.2005, às 00H00.
Atualizada em 05.11.2016, ÀS 13H04

Chalaça, de André Diniz

O espinafre de Yukiko,
de Frédéric Boilet


Mágico Vento, a criação
de Gianfranco Manfredi


Nicolas de Crécy

Lourenço Mutarelli

O Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ) ocorreu de 5 a 9 de outubro em Belo Horizonte. Este pobre escriba perdeu os primeiros dias, conferindo o evento somente a partir da sexta-feira, dia 7. Confira o que aconteceu nesses dias.

O local

A Casa do Conde, local do FIQ, é bem grande, com um prédio antigo e uma área aberta bem ampla, onde instalaram as barraquinhas de comida e mesinhas, além de uma grande tenda com um telão onde eram exibidos animações e filmes durante a noite. Também havia um grande galpão onde estavam instalados os locais para palestras, oficinas e alguns poucos estandes. Alguns de escolas de desenho, que viviam cheios de jovens interessados em aprender este nobre ofício. O mais lotado era o de uma livraria que vendia quadrinhos. Pouca coisa em promoção, quase tudo em preço normal, mas com muita variedade.

Vários artistas circulavam pelo evento, como Gianfranco Manfredi, Fábio Moon, Gabriel Bá, Allan Sieber, André Diniz e Antonio Eder. Também havia alguns que foram na cara e na coragem para o FIQ para lançar suas revistas, como um pessoal de Goiânia, da independente Voodoo!, que traz uma ótima entrevista com Fábio Zimbres. André Diniz, o autor de Chalaça, falou que nos festivais anteriores o público era maior, o evento também era maior. Mesmo assim, o público era bom.

Sábado foi o dia mais movimentado. Houve uma boa cobertura da mídia, equipes de televisão eram constantes. A organização disse que todo dia havia gente gravando algo, as emissoras locais estavam dando um grande apoio, sempre com reportagens positivas. Algumas atividades aconteciam em paralelo, como jogos de RPG, oficinas, palestras e até um concurso de cosplay, aquela mania das pessoas se vestirem a atuarem como seus personagens preferidos.

Exposições

Muitas exposições ocupavam todo o casarão. A do Atelier des Vosges, de artistas franceses, era muito boa. A maioria deles nunca foi publicado no Brasil, ou chegaram apenas no último mês, como é o caso de Frédéric Boilet e Christophe Blain. Vale destacar o trabalho de Jean Pierre Duffor, Nicolas de Crécy e Emmanuel Guibert. Alguém precisa publicar esses caras por aqui!

Na exposição com originais de Mágico Vento dá para notar como as edições nacionais perdem com a redução do tamanho do desenho. Houve também uma grande exposição com 110 originais de Lourenço Mutarelli abrangendo toda a sua carreira. Uma outra mostrava desde os esboços até as belas ilustrações que o mineiro Nelson Cruz fez para uma edição de Moby Dick. Também havia uma boa mostra de trabalhos do italiano Andréa Pazienza.

Encontro com criadores

A entrevista com Lourenço Mutarelli foi um sucesso. Havia umas 150 pessoas formando uma platéia bem receptiva. Mutarelli é uma pessoa divertida, que provocou muitos risos no público. Na conversa, revelou que quer parar de fazer quadrinhos. Não definitivamente, mas por um tempo. Está com o álbum Caixa de Areia parado há um ano e meio, quer terminá-lo até o fim de 2005 e depois descansar da nona arte. Vai ficar escrevendo livros e peças de teatro porque é mais rápido de terminar. Também porque está tomando um remédio novo e virou uma pessoa sociável, agora gosta de sair, de conversar com as pessoas, virou um vizinho conhecido no bairro; não quer mais ficar trancado num quarto desenhando.

Mutarelli foi um dos artistas homenageados do festival e criou o belo cartaz dessa edição do FIQ. A conversa com o Frédéric Boilet, autor do Espinafre de Yukiko, foi interessante. Falou que seu trabalho na França é considerado como japonês e no Japão é considerado francês. Disse que na terra do sol nascente todo mundo lê muito e um terço dessa leitura é mangá. Mas existem muitos e muitos tipos diferentes de mangás, vários autores com um trabalho bem alternativo. Rogério de Campos, editor da Conrad, adiantou que vai publicar um desses autores - Jiro Taniguchi - no ano que vem. A história tem o título Gourmet e fala sobre um homem que visita os restaurantes de Tóquio e descreve somente os pratos que come.

Debates

O debate sobre Quadrinhos e História teve um público bastante interessado. Na mesa, comandada pelo roteirista Wellington Sbrek, estavam o ilustrador Nelson Cruz e o quadrinhista Jô Oliveira. A platéia recebeu um exemplar especial da revista Muiraquitã, escrita por Sbrek e com desenhos de Laz Muniz. O debate sobre quadrinhos e Internet, com Fábio Moon, Gabriel Bá e Samuel Casal também atraiu um bom público.

No sábado houve um acalorado debate com os editores Rogério de Campos, da Conrad, Douglas Quinta Reis, da Devir, e o jornalista Silvio Ribas, autor do livro Dicionário do Morcego. A mediação ficou a cargo do jornalista Sidney Gusman. Rogério de Campos não perdia uma oportunidade para achincalhar as histórias de super-heróis - não gosta nem de Frank Miller. Deve ter recebido alguns juramentos de morte da platéia. Também afirmou que a saída dos autores nacionais é a livraria. Gusman não pareceu concordar muito com isso. Douglas Quinta Reis falou que as edições brasileiras vendidas em livrarias possuem um tiragem muito pequena, em média 2 a 3 mil exemplares, e os preços são os menores praticados no mundo inteiro. Pena que no debate não puderam comparecer representantes de outras editoras, mesmo alguns deles estando presentes, circulando pelo evento, como Dorival Vitor Lopes (Mythos) e Hélio Eduardo Lopes (Ediouro). Hélio falou que se fosse pela vendagem, Aquablue deveria ter sido cancelado no número 2, a editora bancou até o 4 para fechar um ciclo de histórias. Nathan Never não vai continuar porque chegou à conclusão que a linha Bonelli é algo da Mythos, não deles. Arthur e Star Wars seguem bem. Também falou que mais novidades estão a caminho.

Gianfranco Manfredi

Havia uma oficina de roteiro no sábado com o Gianfranco Manfredi, o criador de Mágico Vento. A procura foi tão grande que as inscrições acabaram em meia hora na quarta-feira. Como foi muito procurada, a organização abriu vagas extras para o pessoal amontoado na porta. Na oficina, Manfredi falou sobre criação de personagens, que é mais importante que criação de histórias. Os personagens sobrevivem aos autores. Comentou um pouco sobre o padrão Bonelli, que fez um contrato de 10 anos com a editora. Ele não escreve as edições de Mágico Vento na ordem que são publicadas, mas na ordem que os desenhistas podem produzi-las, alguns demoram quatro meses, outros seis, alguns até um ano. Manfredi disse gostar de escrever livros porque não tem nenhuma limitação de nenhum tipo. Também já tentou escrever em diferentes horas do dia, de diferentes maneiras e isso não mudou nada o resultado, só o humor dele afetava algo.

Manfredi elogiou a tradução brasileira de Mágico Vento, porque o tamanho da edição é menor que a original e como ele escreve muito, o tradutor tem que adaptar o texto para caber. O tradutor Júlio Schneider também estava lá. Ele falou que acaba tendo que cortar palavras para o texto caber, mas sempre mantém o sentido original.

Eddie Campbell não pôde comparecer devido a problemas envolvendo as passagens. No lugar de seu bate-papo com o público, foi aberta uma nova sessão com Gianfranco Manfredi e assim mais leitores puderam tomar contato com esse simpático artista. O italiano relatou que envia uma farta documentação para os desenhistas de Mágico Vento porque muitos não têm referências corretas sobre a época, como certos objetos utilizados. Manfredi chegou a andar a cavalo para poder supervisionar se isso era desenhado corretamente. Também falou de seu primeiro fumetti, uma série trash chamada Gordon Link, vai ser publicado no Brasil em março do ano que vem. Não soube dizer por qual editora, mas não vai ser pela Mythos.

Atualmente está desenvolvendo uma nova série ambientada em Roma, no século XIX. Manfredi disse que o editor Sergio Bonelli interfere bastante nas histórias que publica. Num episódio de Mágico Vento havia um vilão chamado Herbert, que era homossexual. Numa cena em que ele aparecia deitado numa cama com um rapaz do lado, o quadrinho foi redesenhado para retirar o jovem. Bonelli argumentou que não queria um vilão gay, poderia parecer preconceito. Mesmo assim, Manfredi deu pistas disso em outra história, sem deixar nada explícito.

Humor engraçado

O animado pessoal da revista de humor Quase estava fazendo uma divulgação literalmente agressiva. Gritavam com as pessoas que passavam e chegavam a jogar suas revistas nelas. Teve até demonstração de luta-livre, um outro serviço oferecido pelo grupo. Tudo com bom humor, é claro.

Para finalizar o festival, houve um divertido debate sobre Humor Engraçado, com Allan Sieber, Arnaldo Branco e Ed da Silva Rodrigues, com boa participação do público. Criticaram os atuais salões de humor, que não valorizam mais a piada em si, somente o trabalho artístico. Sieber não falou muito, antes mesmo de dizer qualquer coisa pediu para alguém trazer cerveja e cigarro para ele. Quando perguntaram se ele se considerava underground, saiu-se com esta pérola: "Underground é defunto".

Balanço

No geral foi um bom festival. Mesmo para uma organização feita quase em cima da hora - o patrocinador principal só foi conseguido no último mês. Faltaram algumas atrações mais conhecidas do público em geral, alguém do meio infantil, alguém ligado a super-heróis. Isso ajudaria o festival a ser mais abrangente, pois importante ele já é.

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