HQ/Livros

Artigo

Os anos clássicos do barbarismo

Os anos clássicos do barbarismo

11.06.2001, às 00H00.
Atualizada em 09.11.2016, ÀS 02H02
Em 1970, a assim chamada Era de Prata dos quadrinhos norte-americanos encerrava-se de vez. Conforme os veteranos das HQs (alguns dos quais estavam na indústria desde seu nascimento!) se afastavam do gênero, uma nova safra, a primeira composta por fãs de quadrinhos, tomava seu lugar.

O expoente maior destes fãs que viraram criadores foi Roy Thomas. O rapaz, a muito custo, convenceu o presidente da Marvel Comics Martin Goodman a obter os direitos de adaptação das obras de Robert E. Howard para os quadrinhos. Goodman, por sua vez, teimava que o material não era apropriado para HQs. No entanto, apesar da resistência inicial do manda-chuva, Conan haveria de se tornar o maior sucesso de vendas da Marvel nos turbulentos anos 70.

Grande parte desse fenômeno deveu-se ao desenhista da série, um inglês novato chamado Barry Smith, que até o momento só havia ilustrado (e mal!) umas poucas histórias com um estilo similar ao do veterano Jack Kirby. Em Conan, Smith evoluiu de forma meteórica, deixando a publicação, dois anos depois, como o mais refinado artista de quadrinhos dos EUA de seu tempo.

Vale notar que Smith era apenas a terceira opção entre os ilustradores considerados por Thomas! Os veteranos John Buscema - que substituiria Smith, tornando-se o principal desenhista da personagem – e Gil Kane – que apresentara o bárbaro ao jovem Roy Thomas – eram as preferências iniciais. O inglês foi escolhido, ironia das ironias, apenas por ser o quebra-galhos mais barato da Marvel!

Corte para os tempos atuais. A polarização dos quadrinhos norte-americanos em torno do gênero Super-Heróis decreta a morte de todos os gibis americanos de Conan. Sem material novo, nada mais resta à Editora Abril a não ser republicar a fase clássica do cimério em sua revista Espada Selvagem de Conan. dando uma rara oportunidade aos novos leitores de descobrirem a razão por trás do sucesso da série.

A edição atual de Espada Selvagem é a terceira a reimprimir histórias da fase clássica de Thomas e Windsor-Smith. Como as anteriores, esta faz um bom trabalho ao reproduzir as histórias (feitas para o formato americano, um pouco menor que o magazine da reedição brasileira), as capas originais, um útil mapa da Era Hiboriana, como imaginada por Howard e, raridade nas séries atuais da Abril, uma genuína seção de cartas!

A capa foi recolorizada pela Abril e sofreu modificações. Algumas positivas – o fundo foi desfocado, reduzindo a sobrecarga visual da original – outras nem tanto – o braseiro cerimonial que Conan carregava foi transformado em uma espécie de cabide&qt;&!&qt;& A fachada permite visualizar a arte de Smith ainda em evolução. O morcego gigante e as mulheres estão bem desenhados, mas Conan equilibra-se numa pose improvável (e felizmente a Abril nos poupou de ver o fundo!).

Quanto às histórias em si: a primeira, A filha de Zukala, nada tem de especial. Inspirada em um poema de Howard, é uma história simples de povoado oprimido por feiticeiro maligno que contrata Conan para salvá-lo. A execução também não inova. Thomas enfileira seus chavões (que, venhamos e convenhamos, ainda eram novidade naquele tempo) e Smith rabisca sua débil emulação de Jack Kirby, muito prejudicada por Frank Giacoia que, segundo Gerard Jones em seu livro Comic Book Heroes, arte-finalizou esta edição às pressas para não perder o prazo. Zukala e sua filha voltariam em outra história de Smith, bastante superior a esta.

A segunda aventura, O demônio alado de Shadizar, é mais elaborada. Nesta, Conan chega a Shadizar, cidade corrupta e dominada pelo crime, onde conhece a bela trambiqueira Jenna, que se tornaria personagem recorrente da série. Ela é seqüestrada por um culto religioso que pretende oferecê-la em sacrifício a seu deus, um morcego gigante. Ao que parece, na Era Hiboriana, qualquer animal de proporções gigantescas, via de regra, os mais repulsivos, era imediatamente elevado à condição de deus!

Contada assim, a história não parece nada especial, mas seu mérito está nos detalhes. A arte de Smith já mostra os primeiros indícios de requinte e o roteiro de Thomas, que não é baseado em nenhuma história individual de Howard, já exibe elementos que tornariam a fase Thomas/Smith a mais memorável da série!

Destaque merece a aparição de duas personagens levemente “inspiradas” na clássica dupla de heróis de fantasia, Fafhrd e Gray Mouser (criações do grande Fritz Lieber) e a cena “romântica” em que Conan abandona o ridículo chapéu de touro, parte do visual do cimério em suas primeiras histórias. Já foi tarde!.

Nota Omelete
3 ovos

Em suma, Uma edição de qualidade irregular, com uma história fraca e outra muito boa. A segunda faz da revista uma compra obrigatória para qualquer fã da personagem, mas a primeira impede que ela receba uma nota mais generosa.

A espada selvagem de Conan 198
Publicado pela Editora Abril
Criado por Robert E. Howard
Roteiro: Roy Thomas / Arte: Barry Windsor-Smith
Preço: R$ 3,00 / 52 páginas em P&B; / formato magazine
© and TM 2001 Conan Properties Inc.






Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.