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Retrospectiva | As dez notícias de quadrinhos que marcaram 2012

Walking Dead, Antes de Watchmen, Chris Ware... Conheça os fatos do ano nas HQs dos EUA e no Brasil

03.01.2013, às 01H32.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H31

Walking Dead. Gays. Antes de Watchmen. Aranha Superior. No noticiário de quadrinhos, algumas palavras se repetiram bastante em 2012. Na retrospectiva abaixo, selecionamos dez das principais discussões que mobilizaram leitores, autores e editoras nos EUA e no Brasil - e que podem dar a dica do que vem por aí neste novo ano.

vingadores vs x-men

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pinoquio

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walking dead

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superior spider-man

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astonishing x-men

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building stories

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Building Stories

saga

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1) The Walking Dead faz até zumbi ler gibi

Não é sempre que o sucesso de uma HQ em outra mídia, como cinema ou TV, traz leitores não-tradicionais às HQs. No caso de The Walking Dead, porém, a lógica funcionou. E como. As coletâneas da série passaram o ano no top 10 da distribuidora Diamond e do jornal  The New York Times. A versão "lista telefônica" Compendium, com mil páginas e preço alto, virou o produto mais rentável do ano. A edição 100 quebrou a regra do mercado, desbancando Marvel e DC na lista das mais vendidas e atingindo números que não se viam há 15 anos. Mas a maior surpresa: é uma HQ cujos direitos são dos autores, não da editora.

2) HQ autoral é na Image

Surgida há 20 anos para os desenhistas de maior sucesso da Marvel controlarem seus próprios personagens (e virarem milionários), a Image Comics abriu espaço para outros autores tentarem a sorte da mesma forma ainda no final da década de 90. No ano que passou, a editora reafirmou este propósito anunciando uma pilha de lançamentos de gente acostumada a Marvel e DC: Grant Morrison, Howard Chaykin, Brian Wood, J.M. Straczynski, Matt Fraction, Jonathan Hickman. Todo mundo quer seu Walking Dead.

O lançamento Image do ano é Saga, de Brian K. Vaughan e Fiona Staples. Vaughan, que passou anos fazendo sucesso com criações como Y: O Último Homem e Ex Machina, disse que nunca foi tão bem pago nas HQs quanto agora que está fazendo um gibi de sua propriedade.

3) Watchmen precisava de prelúdio?

A DC acreditou que sim. Before Watchmen, que no início do ano era um boato no qual muita gente não botava fé, aconteceu e dividiu opiniões: de leitores que boicotaram aos lojistas dizendo que precisam de vendas garantidas. Dos autores envolvidos e compelidos a defender o projeto, a Alan Moore, praguejando contra o mundo de seu covil inglês. (Dave Gibbons tirou o corpo fora.) Ainda sem conclusão, o projeto teve recepção morna da crítica (ou da parte da crítica que decidiu ler) e está saindo com atrasos e acréscimos de última hora, passando a impressão de mal organizado. E aí, precisava?

4) A DC Comics precisa de um bom RH

O novo regime editorial da DC pós-Novos 52 definitivamente não agrada todo mundo. E os desgostosos reclamam em público. Um autor demitiu-se/foi demitido por repúdio a Before Watchmen. Rob Liefeld, goste você dele ou não, saiu dizendo que seu editor era insuportável. George Pérez, veterano querido dos leitores, também falou que não estava aguentando. Grant Morrison, Judd Winick e a fundadora da Vertigo, Karen Berger, jogaram a toalha com classe. E Gail Simone fechou o ano com uma recontratação apoiada pelos fãs.

Ficam na editora os veteranos que topam a indecisão editorial - Scott Lobdell, já acostumado de seus anos de X-Men - e figuras relativamente novatas demais para reclamar, como Scott Snyder, mandando bem na série mensal de Batman. De resto, a editora sai contratando novatos, principalmente os caras que surgem na Image. Quanto às vendas, os Novos 52 se mantêm graças a uma política acirrada de cancelar na hora o que está vendendo mal - mais de um quarto da linha original, lançada em setembro de 2011, já foi substituído.

5) Só confiar no que é confiável

A grande saga do ano foi Vingadores vs. X-Men, um quebra-pau entre as duas maiores franquias da Marvel. Marvel Now, a reformulação-que-não-é-reboot, pode ser recente, mas até agora só mostrou que quer reafirmar as fundações dos principais personagens da editora sem inovar. Na DC, a história de Batman do ano é... um grande confronto com o Coringa, desde sempre o maior vilão do herói. Hellblazer some para dar lugar a Constantine, pegando pela mão quem conheceu o personagem no cinema. E no fim das contas, Before Watchmen também entra nessa lógica de apostar no garantido.

A realidade é que o mercado de quadrinhos tradicional vende pouco e só restou apostar no feijão com arroz para fazer números altos. Se considerarmos que os quadrinhos hoje são quase financiados pelas adaptações para cinema e TV, a lógica não fecha: cinema e TV vêm atrás dos quadrinhos porque eles conseguem inovar. O conservadorismo criativo que se vê nas HQs pode ser um tiro no pé.

Os leitores, porém, parecem gostar: o ano terminou com crescimento do mercado. Vale lembrar que um dos grandes lançamentos da DC em 2013 é mais Sandman.

6) Homopolemicismo

Enquanto no cinema e na TV os personagens homossexuais já são lugar comum, um homossexual nas HQs de super-heróis é literalmente motivo para convocar coletiva de imprensa. Grant Morrison causou rebuliço mundial ao dizer que Batman tem tendência gay. O casamento gay na Marvel e o novo Lanterna Verde gay geraram três tipos de reação: "que bom ver diversidade nos quadrinhos", "isso não é diversidade, é só marketing" e os preconceitos impublicáveis de sempre.

Os preconceituosos, aliás, vêm também do Brasil - o roteirista James Robinson (de Lanterna Verde) sentiu-se ofendido pelos leitores brazucas nas redes sociais e jurou vingança.

7) Crowdfunding no Brasil pode dar muito certo

Apesar de não ser uma prática nova, 2012 foi o ano dos projetos de quadrinhos nas plataformas de financiamento coletivo. O pessoal que já vive das editoras conseguiu somar belas quantias para financiar HQs - Mike Deodato (US$ 16 mil), Rafael Coutinho (R$ 37 mil), Lourenço Mutarelli (R$ 44 mil) - e independentes viram que têm público para apostar na sua produção, como Petisco (R$ 16,5 mil), Samba (R$ 17 mil), Ryotiras (R$ 33 mil).

Claro que nem todos os projetos foram financiados, mas o grande número de sucessos leva a crer que o crowdfunding virou uma forma viável de publicar quadrinhos no Brasil. Agora é torcer para que não vire um recurso banalizado e que siga atraindo projetos com boa proposta e estrutura.

8) O intercâmbio Brasil-França

André Diniz publicou Morro da Favela na França e já começou a agendar novos trabalhos por lá. Fábio Moon e Gabriel Bá ganharam prêmio de ficção científica no Utopiales por Daytripper - que concorre ao Festival d'Angoulême. Cachalote também saiu por lá.

De outro lado, a editora Nemo completou a Coleção Moebius (que vai ganhar nova fase) e começou a investir no tradicional quadrinho infantil franco-belga (Boule & Bill). Titeuf, a criação de maior sucesso na Europa nas últimas décadas, finalmente aterrissou nas livrarias daqui. Para não falar em Trilogia Nikopol, O Gosto do Cloro, Castelo de Areia e o excepcional Pinóquio.

A retomada dos álbuns franco-belgas no Brasil continuou forte em 2012 e coincidentemente funciona no intercâmbio: os autores daqui também estão publicando por lá. A relação mutuamente benéfica devia ser o maior investimento das editoras para o resto da década.

9) Polêmica Superior

A Marvel resolve revirar a vida de Homem-Aranha nos quadrinhos de novo, e o caso incluiu no final de 2012 edição roubada, vazamento na Internet e até ameaça de morte. A polêmica de Superior Spider-Man rende, pela enésima vez, ameaças de boicotes às séries do Aranha. Todo mundo sabe que não vai durar, mas reclama assim mesmo.

10) Chris Ware chuta bundas

Alheio a tudo que se leu acima, Chris Ware juntou um monte de quadrinhos que fez na última década, colocou tudo dentro de uma caixa e resolveu lançar assim mesmo. Atingindo o público de super-herói, o público indie e o público que nunca lê quadrinhos, Building Stories é a HQ do ano no mundo inteiro, exposta com todo o destaque que merece nas livrarias de São Paulo a Tóquio. Rolou até vídeo de unboxing no Omelete. Não aguarde uma versão traduzida tão cedo e compre logo a sua caixa.

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Extra | O ano dos obituários

No ano em que o mundo devia ter acabado, parece que os grandes estavam pendurando as chuteiras mais cedo. Foi um ano, infelizmente, de muitos obituários. Ficamos sem Moebius, sem Joe Kubert, sem Sergio Toppi, Ernie Chan, Tony DeZuñiga, Spain Rodriguez, John Severin, Sheldon Moldoff, Robert L. Washington III e, no finalzinho do ano, Keiji Nakazawa. Que descansem em paz sabendo que fizeram muito por todos nós.

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