Séries e TV

Artigo

Lembra desse? <i>O Incrível HULK</i>

Lembra desse? <i>O Incrível HULK</i>

20.06.2003, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H11

David Banner (Bill Bixby) e o Hulk (Lou Ferrigno)

A transformação

Hulk esmaga homenzinho

O verdão nervoso

O lado fashion do monstro

Superforça

Hulk, o passageiro da agonia

Meio a meio

Por Favor, senhor MacGee, não me irrite...

Se você assistia à TV Globo nos anos setenta, ou como eu, desperdiçou sua infância assistindo às reprises da extinta Sessão Aventura, deve saber como essa frase continua, bem como deve se lembrar do clássico texto de abertura de uma certa série de TV: Doutor David Banner... Médico, cientista. Em busca da força que todos possuem, acaba recebendo uma dose maciça de raios gama e agora, quando se enfurece ou se sente ultrajado, se transforma e tem de enfrentar a sua maldição: o Incrível Hulk! Narrativa essa, feita no original pela gutural voz de Ted Cassidy, o Mordomo Tropeço do seriado da Família Addams nos anos 60

Mas espere aí... David? Não era Bruce? Cientista tudo bem, mas médico? Que força é essa? A dos Jedi? E a Bomba Gama? Cadê? Bom, já na abertura da série ficamos a par de algumas sutis alterações do original dos quadrinhos (O que já poderia deixar muito fã de cabelo em pé). No entanto, por incrível que pareça, esse seriado foi uma das mais bem sucedidas adaptações dos quadrinhos para a telinha; senão em fidelidade, pelo menos em termos de público; ainda mais em se tratando de uma HQ da Marvel Comics... famosa naqueles dias por fiascos como Homem-Aranha, Capitão América, entre outros.

O verdão rendeu três longas metragens e 79 episódios no decorrer de cinco temporadas (1977-1982), bem como mais três novos longas posteriores (1988-1990). Uma filmografia mais do que respeitável para um brutamontes que apenas rugia (sim, ele não falava também), demolia móveis de isopor e dava sopapos em criminosos comuns. Na verdade, dificilmente o Hulk televisivo batia em alguém. Ele gostava mesmo era de arremessar pessoas à distância. Sempre, é claro, tomando a devida precaução de esmagar os revólveres de seus adversários. Afinal, (olha outra alteração...) não era invulnerável. Outro detalhe curioso era que, prestando um pouco de atenção, descobria-se que Lou Ferrigno (o Hulk) raramente era maquiado da cabeça aos pés. Por mais absurdo que seja, ele usava sapatilhas verdes. Quem tiver um episódio gravado é só conferir...

Quantos seriados maltrataram tanto seu herói?

Mas, com tantos pontos negativos, como é que a série emplacou? Simples. Se você desconsiderar o purismo, deixar os preciosismos com o original e dar um desconto no quesito efeitos especiais da época, até que tem um seriado de ficção acima da média dos realizados no período; principalmente em se tratando de heróis de HQ. Os produtores optaram por um formato mais realista à trama, dando mais destaque ao drama do que à ficção. O Hulk entrava e saia da vida das pessoas, algumas vezes ajudando, outras nem tanto e, no final, o Dr. Banner (Bill Bixby) nunca se dava bem. Afinal, após cada aparição do seu alter ego irritado, ele era obrigado a fugir. Assim, invariavelmente todo episódio terminava em tom melancólico graças a um indefectível solo de piano intitulado The Lonely Man Theme (Tan-tantantan...) composta por John Harnell que, por sinal, marcou mais do que o tema de abertura .

Outro ponto pacífico da série era o fato de que Banner devia ser espancado de alguma forma em cada episódio. Murros, pontapés, pedradas...Tudo valia para despertar a fúria gama (manifesta primeiro nas lentes de contato verde claras que prenunciavam a transformação) do pobre doutor. Ao ser eletrocutado, arremessado por uma vidraça ou escada ou ainda afogado por algum valentão, o seriado era a catarse de todo brucutu que detesta um almofadinha metido a esperto. Por outro lado, era igualmente catártico a qualquer sujeito que nunca pôde revidar aquele meliante avantajado que abusou dele. Nisso, o Hulk era especialista. Ele não levava desaforo para casa. Detalhe: Bill Bixby praticamente não usava seu dublê em suas cenas de ação. Tanto apanhou, que Banner conquistou a afeição do público feminino, que sonhava com o educado e gentil cientista que, numa fálica metamorfose, se transformava numa criatura viril, mas de coração puro.

O formato criado para o programa era perfeito para agradar a toda a família, tanto que grande parte dos episódios girava em torno de temas sociais como alcoolismo, abuso, violência, doenças e até mesmo retardo mental. A série era, portanto, bem mais madura do que seus similares da época, mais propensos ao escapismo e a fantasia. Enfim, lidava com problemas com os quais o público adulto melhor se identificava.

Dentro desse universo plausível, a única incongruência (fora calças que não rasgavam e Golias verdes) era mesmo a notável capacidade (provavelmente o único benefício da radiação gama) que Banner tinha de arranjar um emprego novo a cada semana. Isso sem falar em sua coleção de variações de sobrenomes, que inventava a cada cidade que passava: David Bannet, David Belson, David Bannon... Na verdade, o prenome David foi criado como uma analogia à história de Davi e Golias, a fim de carregar de simbolismo o conflito do cientista (ou médico) com seu alter ego.

Mas dizem as más línguas que o estratagema veio mesmo para afastar uma possível conotação homossexual que o nome Bruce trazia à época. E para fugir da aliteração dos nomes típicos das HQs como Peter Parker, Lois Lane, Clark Kent... se bem que, o nome Bruce não foi descartado. No túmulo de Banner, no episódio-piloto, lê-se que seu nome completo era David Bruce Banner.

Receita de Bolo Gama


Jack McGee

Episódio piloto

Banner e McGee

Hulk salva sua noiva

O outro Hulk

Hulk contra Hulk

A cada episódio o franzino e boa-praça doutor metia-se em alguma encrenca e se transformava (duas vezes por capítulo) no Hulk para escapar da situação. Sempre seguido de perto pelo repórter de tablóide Jack Macgee; fórmula esta que foi seguida a exaustão até o cancelamento. Variando pouco mais, pouco menos.

Apesar desse padrão, a série teve realmente bons momentos; a começar pelo piloto. Simples e bem amarrado, recriava a origem do Hulk de maneira interessante, caprichando nas primeiras aparições da criatura. Ao fim do filme o doutor foi dado como morto, o Hulk levou a culpa e partiu em busca de sua cura.

Outro momento singular é o episódio Motoristas sem sorte, que também poderia ser chamado de Episódio perdido de Steven Spielberg, pois seu roteiro é uma adaptação (leia-se reaproveitamento) de Encurralado, o longa de estréia do aclamado diretor. A maior diferença é que o motorista perseguido implacavelmente por um caminhão é um certo cientista que vira Hulk. O mais curioso é que todas a cenas de perseguição são exatamente as mesmas do filme de Spielberg. Motivo de desavença séria entre o renomado diretor e o estúdio Universal, que mutilou sua obra criando uma deliciosa trasheira. Prodígio de montagem e picaretagem, é uma ótima paródia para quem viu o Encurralado verdadeiro. Além disso, é um dos poucos episódios em que o pobre doutor se dá bem e fica com a mocinha no final.

No início da segunda temporada Banner contrai matrimônio (!) no episódio duplo Casado, pelo qual a atriz Mariette Hartley ganhou o Emmy de melhor atriz, tendo sido o programa o primeiro seriado de ficção científica a ganhar um prêmio numa categoria não técnica. Esse foi o primeiro episódio em que Banner encontra o Hulk cara-a-cara, em sua mente.

Na quarta temporada, com o evidente desgaste do formato familiar dos episódios, a série passou a flertar com temas mais próximos das HQs. Na verdade, é bem provável que muitos dos roteiristas dos gibis do gigante verde tenham se influenciado por essa temporada em específico. É dela os episódios duplos O primeiro e Prometeus. Neste último, após a queda de um meteoro, o Hulk é capturado pelo exército, que acredita ser ele um extraterrestre. Para piorar a situação, nosso herói encontra-se num estágio intermediário da transformação entre Banner e Hulk. Em O primeiro, o Dr. Banner viaja para um povoado que, nos anos 50, foi aterrorizado por uma criatura semelhante ao Hulk. Lá, ele encontra outro cientista que alega ter a cura para a maldição. Na verdade, o que ele faz é enganar Banner para recuperar seus poderes e o confronto dos dois Hulks é inevitável. Mais quadrinho é difícil.

Curiosidade: o monstro que luta com o Hulk foi vivido pelo canastrão Dick Durock, que anos mais tarde viveria outra criatura verde dos quadrinhos: O Monstro do Pântano.

Infelizmente, segundo os fãs, essa temporada era muito mal dosada, tendo excelentes episódios como Lado escuro, onde um experimento mal-sucedido traz à tona o lado sombrio de Banner, que quer usar o poder do Hulk para espalhar destruição, mesclados a capítulos deploráveis no esquema antigo da série. Depois disso, os índices de audiência despencaram e a série foi cancelada. Ela ainda teve uma segunda chance e ganhou nova temporada, nos moldes de antigamente. Foi cancelada de novo após apenas sete episódios, deixando vários roteiros a serem filmados. Num deles, o Hulk começaria a aprender. Noutro (uma história dupla intitulada Los índios) onde o Dr Banner viajaria para a Amazônia em busca de uma cura para sua maldição. Inclusive havia a proposta de um episódio final, onde Banner seria finalmente pego por MacGee e julgado pela destruição causada no piloto.

Fazendo um Mundo Mais Verde

Bill Bixby (Dr. David Bruce Banner)

O ator já era um astro quando se envolveu com a série. Ela, porém, estigmatizou-o de vez na memória do público.

Famoso por seriados como O mágico e seriado Meu marciano favorito, Bixby emprestou dignidade ao papel do atormentado Dr. Banner. Exatamente por fugir aos estereótipos masculinos viris e truclentos, acabou caindo no gosto da audiência feminina. E, por mais que Hulk fosse o nome da série, era Bixby quem carregava o programa nas costas. Por sinal, estreou atrás das câmeras dirigindo um dos episódios da série (Tragam-me a cabeça do Hulk).

Apesar do enorme sucesso do seriado, aqueles não foram os melhores anos de sua vida pessoal. Durante suas temporadas, casou-se com, Brenda Bennet, uma das atrizes com quem contracenou. Infelizmente, Cristopher, o filho do casal acabou falecendo por problemas de saúde e o casal se separando ainda antes do fim do programa. Brenda suicidou-se algum tempo depois.

Depois de Hulk, dedicou-se a produção e direção de filmes para a TV, destacando-se a série Blossom. Bixby faleceu em 1993, vítima de câncer.

Lou Ferrigno (Hulk)

Por pouco, o Hulk não foi vivido por outro ator.

Originalmente, fora escalado o grandalhão Richard Kiel, famoso por ter sido um dos mais caricatos vilões da série 007: Jaws, aquele com mandíbulas de aço.

Kiel chegou a rodar várias cenas do piloto (sendo que uma delas, onde aparece de longe, não foi cortada), mas foi substituído por Ferrigno, com um físico mais adequado para o papel. Em compensação, Kiel acabou sendo a voz que narra a abertura da série em sua versão original. Convenhamos, Ferrigno nasceu para o papel do gigante esmeralda. Grande, musculoso ao extremo e com cara de bobo, era a síntese da personagem.

Ele havia debutado no cinema ao lado de Arnold Schwarzenegger no abacaxi anabolizado Pumping iron e, depois do seriado do Hulk, protagonizou uma série de abacaxis musculosos como as versões trash de Hércules e Simbad. Recentemente dublou o Hulk no desenho animado dos anos 90, além de ser escalado pra uma ponta no filme do verdão de 2003.

Ferrigno contracenou com o Hulk no episódio O rei da praia, onde interpreta um fisiculturista em início de carreira.

Por mais que o ápice de cada episódio sempre fossem as aparições do Hulk, Ferrigno pouco fazia além de urrar, correr em câmera lenta e fazer caras e bocas. O monstro, devido à sua ingenuidade, muitas vezes acabava até servindo de alívio cômico aos dramas da série. Mesmo em cinco temporadas, sua personagem pouco evoluiu; até pelo fato de ser mudo e aparecer por apenas dez minutos por episódio. Em compensação, cada sessão de maquiagem durava três horas, começando às cinco da manhã. Pouca gente sabe, mas Ferrigno tem audição parcial. Pois perdeu cerca de 60% desse sentido devido a problemas de saúde na infância. Outra curiosidade, é que ele é sócio de Batman (ou melhor, Adam West) num restaurante.

Jack Colvin (Jack Macgee)

Quem diria que o repórter chato e de caráter dúbio, que queria a todo custo capturar o Hulk iria dirigir quatro bons episódios da série? Além de Hulk, o ator participou de diversos seriados como Kojak, O homem de seis milhões de dólares e MacGyver e não atua mais desde os anos 90. Sua personagem trabalhava no tablóide sensacionalista National Register, que financiava sua caçada ao Hulk através dos Estados Unidos. O monstro seria o grande furo de sua carreira e a única forma de sair do buraco. Coitado, nunca conseguiu.

Kenneth Johnson

Produtor da série, que escreveu e dirigiu boa parte dos seus melhores episódios. Foi dele a idéia de limitar os poderes do Hulk, transformando a premissa de ficção científica das HQs numa variação do clássico seriado O fugitivo. Em vez da aventura, preferiu privilegiar o drama do cientista eternamente em fuga, o que tornou a série viável economicamente. Outras referências sempre presentes no programa foram Frankenstein e O médico e o monstro, obras das quais o conceito original da série se influenciou.

Depois de Hulk, Johnson ainda faria o insosso seriado da Mulher-Biônica, a telessérie Missão Alien, A minissérie V- A batalha final e o deprimente filme Steel, baseado nos quadrinhos da DC Comics.

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