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Lembra desse? Monstro do Pântano (volta pro Pântano que o pariu)

Lembra desse? Monstro do Pântano (volta pro Pântano que o pariu)

26.12.2000, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H11

Se você é daqueles que acham que só os super-heróis Marvel se prestam a adaptações ridículas de HQs para as telas, então, ainda não teve o prazer de assistir aos notáveis filmes de um certo gigante esmeralda. Não, não se trata do Hulk - dele, eu já falei anteriormente, leia aqui -, mas do Monstro do Pântano. Seus telefilmes, de tão ruins, deixariam até Stan Lee verde de inveja.

Sinta só: o monstrão mais cult dos quadrinhos chegou às telas em 1981, escrito e dirigido pelas mãos de um, ainda desconhecido, cavalheiro chamado Wes Craven (A hora do Pesadelo, Pânico).

A história começa mais ou menos assim: Alice Cable (Ué!! não era Abigail&qt;&) é uma pesquisadora novata com cabelo de Sigourney Alien Weaver, enviada pelo governo aos pântanos da Louisiana a fim de acompanhar Alec Holland. Este, por sua vez, é um cientista com panca de galã de novela mexicana, trabalhando numa fórmula biorrestauradora, que mistura os genes animais e vegetais, a fim de erradicar a fome do mundo. A tal meleca é um sucesso. Afinal, na época, ainda não se falava em transgênicos... mas a alegria dura pouco pois, o Dr. Anton Arcane (o esquálido e hipercool Louis Jordan) e seus capangas invadem o laboratório para roubar os segredos de Holland. Na confusão, Alec tenta fugir com a fórmula, que explode em suas mãos, enquanto ele mergulha agonizante no pântano.

É claro que nosso amigo sobrevive e a fórmula, em vez de queimaduras, oferece alguns benefícios, senão estéticos, eficazes para defender - em meio a grunhidos e seqüências de ação no melhor estilo do seriado Hulk - a foragida Abby... ops, Alice... obviamente a única sobrevivente da turma do laboratório.

O visual do monstrão até que é calcado no desenho de Berni Wrightson, que, juntamente com o roteirista Len Wein, criou a personagem para os quadrinhos em 1972. O único problema são mesmo as inconfundíveis dobrinhas que a roupinha de látex, vestida pelo grandalhão Dick Durock, teima em não ocultar. Isso sem falar nos retalhos estrategicamente colados sobre as emendas da roupa. Um luxo só.

O pior, no entanto, é a explicação que o próprio monstrão dá a Arcane sobre o funcionamento da fórmula que o transformou: Ela simplesmente acentua aquilo que você já é. Poético, não&qt;& E é óbvio que a toupeira do Dr. Arcane experimenta a fórmula, crente de que se tornará um super-homem. O que ninguém pode imaginar é que o homem se transforma num javali de dois metros de altura e espada em punho&qt;& Não é de fazer inveja a qualquer live-action japonês. No final, vence o mais bronco. Por fim, passado o perigo, nosso tristonho herói deixa sua amada para trás e desaparece bucólico, pântano a dentro. Pelo visto, este é o modus operandi dos monstros verdes da televisão. Só faltou o solo de piano...

Independente ou não de qualquer mérito, Swamp Thing já está disponível em DVD em terras gringas. Aqui, o filme foi batizado como A Maldição do Pântano.

COMO SE UM SÓ NÃO BASTASSE

Aí o tempo passou, as HQs do Monstro do Pântano perderam aquele ar de releitura de Frankenstein e caíram nas mãos do roteirista britânico Alan Moore. Sob sua batuta, todo o conceito da personagem foi redefinido, elevando-a ao panteão das grandes HQs contemporâneas. Não foi à toa que sua revista tornou-se o embrião de toda a linha Vertigo, aquela dos títulos adultos da DC Comics.

E nada mais normal do que aproveitar esse sucesso e dar uma nova chance ao verdão nas telas, certo&qt;& Então, em 1989, tome A volta do Monstro do Pântano, desta vez sob o comando de Jim (quem&qt;&) Wynorski.

Já no começo da fita, nosso herói deixa pra lá o blá-blá-blá filosófico das HQs e parte pra porrada. Desce o cacete num tal de Homem-Sanguessuga que havia atacado um bando de debilóides que, no meio da noite, transitava pelo pântano. Findo o confronto, entra um dinâmico clipe de abertura com várias HQs do Monstro. Tudo ao som de Born on the Bayou, do Creedence Cleanwater Revival. O breve laivo de bom gosto até que dá uma esperancinha de que a coisa vai melhorar. Ledo engano. Daí em diante, um apoteótico teminha heróico acompanha o abacatão toda vez que ele entra em cena.

Surge, então, Abigail (desta vez, acertaram o nome), uma loira oxigenada saída de alguma praia californiana (Heather Locklear de Melrose e Spin City), que conversa sozinha com suas plantas e encasqueta de ir sanar sua relação mal resolvida com o padrasto. E quem seria o dito cujo&qt;& Nada mais nada menos do que Anton Arcane (novamente o francês Jordan, ainda mais afetado do que antes), que agora vive com um papagaio idiota em sua mansão, vigiada por um exército discretamente trajado de abóbora. A propósito, ele está se recuperando da sova que levou no filme anterior e precisa de um soro genético que o rejuvenesça. Porém, tudo o que sua amante e o seu cientista asmático (que, mais tarde, vira monstro também) conseguem criar, com a fórmula, são aberrações como: um homem-elefante, um homem-jacaré e um homem-barata.

É lógico que, pra coisa funcionar, eles precisam de uma amostra de Alec e também da energia vital de Abby. Afinal, filme trash é trash desde o roteiro...

E, em matéria de trasheiras, não poderíamos encontrar melhor manancial. A maquiagem até que é elaborada, providência de Carl Fullerton, que, em tempos melhores, até fora indicado ao Oscar. Nosso querido protagonista - Durock, quem mais&qt;& - é o mais caprichado, reproduzindo fielmente o visual das HQs desenhadas por John Totleben e Rick Veitch. Tudo bem que ainda é látex, mas pelo menos não há mais dobrinhas. As aberrações, por sua vez, são até bem feitas (para um filme B). Entretanto, ao que tudo indica, o orçamento da produção acabou por aí mesmo. Não deve ter sobrado grana nem mesmo pra contratar roteirista. O resto do filme parece ter sido rodado de improviso. Só para citar algum bons momentos:

Nosso monstrão salvando Abigail de ser estuprada por dois caipiras. E dá-lhe amor à primeira vista!

Após ser explodido, o Monstro se recompõe numa banheira (!)

E temos ainda nosso herói dirigindo um jipe em meio a uma saraivada de balas com Abby disparando sua espingarda no melhor estilo Sara Connor (T2).

Por sinal, a cena de sexo (!) entre os dois é de uma jacuzice fenomenal. Nela, o psicodelismo da experiência representado nas HQs é substituído pela mais comum cena de nudez e uma musiquinha transcendental cafona. Sem falar na conversa mole das preliminares:

- Foi você mesma quem disse: Sou uma planta! - diz o Monstro.

- Tudo bem, sou vegetariana - responde a debilóide .

Há até mesmo uma pasmacenta trama paralela onde dois guris irritantes querem fotografar o monstro para descolar uma grana. E lindo, lindo de morrer é quando Alec usa seus poderes para curar Abby e nasce uma florzinha em seu pé. Romântico, não&qt;& Impagável, porém, é a cara de desgosto - do tipo: Graças a Deus o filme acabou... - de Arcane ao morrer no incêndio de seu laboratório.

No quesito ruindade, sem sombra de dúvida, este é o melhor dos dois filmes. Afinal, é tão ruim, mas tão ruim, que é impossível não se esborrachar de rir dessa paródia. Afinal, só pode ser paródia... ou não&qt;&

ACHOU QUE ERA O BASTANTE&qt;&

Talvez você não saiba, mas, em 1990, o canal a cabo USA estava precisando de uma desculpa para usar seu novo estúdio na Flórida e decidiu criar uma série de TV com nosso já sofrido monstro. O resultado&qt;& SETENTA E DOIS (Isso mesmo! Não é mentira, não!) episódios produzidos ao longo de três temporadas! E não é que chamaram Dick Durock de novo pro papel do vegetal elemental&qt;& Sem falar que rejuvenesceram Arcane - agora Mark Lindsay Chapman, para, quem sabe, dar um sex apeal à série. E não foi dessa vez que Abby (Kari Wuhrer) ganhou sua característica cabeleira branca.

O seriado jamais foi exibido no Brasil. Entretanto, não é de todo inédito por aqui. Os quatro primeiros episódios foram lançados em vídeo por estas bandas. São um tesouro arqueológico dificílimo de ser encontrado. Se conseguir, me avise.

Sinta só trecho do release feito pela extinta revista Set Terror e Ficção à época do lançamento: Se você é fã das HQs desse monstrão cabeça, fique longe. O melhor dos quatro episódios, é nenhum.

E QUEM DISSE QUE A COISA ACABA POR AÍ&qt;&

Não bastassem os filmes e a série, há ainda (tremam todos) o desenho animado do Monstro do Pântano! Em 1992, foram feitos apenas cinco episódios. Talvez até demais para um programa que pretendia apenas vender brinquedos. A série foi recusada pela rede ABC de TV, mas acabou sendo exibida pelo canal FOX (de lá) e pelo Disney Cartoon Channel. Essa sim é uma pérola inédita em nossas paragens. Confira as imagens e tire suas próprias conclusões.

Monstro do Pântano, nervoso como sempre.

Dr.Arcane e seus monstros

Um dos brinquedos da linha do vegetal... um tanque para pântano. Bwa-hahahaha...



E ONDE ENTRA ALAN MOORE EM TUDO ISSO&qt;&

Por mais que suas idéias tenham recriado de maneira extraordinária a personagem nas HQs, sua participação nos filmes se resume à seguinte declaração: O primeiro foi uma adaptação das HQs escritas antes de eu entrar na revista. O segundo foi obviamente baseado nas coisas que escrevi. É um espécie de piada sem graça.

Mesmo Alan Moore não dando seu aval, se depender dos fãs e seus vários sites dedicados à volta da tele-série (curiosamente muitos deles voltados ao vilão Arcane), o bom e velho Durock não deve ficar desempregado muito tempo. Pena que, se assim o for, nós os fãs desse monstrão cabeça, ficaremos novamente sem um filme decente do Monstro do Pântano. Realmente, tem coisa que é melhor deixar quieto.

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