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Gotham se aproxima das séries de máfia e episódio-piloto surpreende | San Diego Comic-Con 2014

Série deve se equilibrar entre o humor e a cafonice e a versão "Begins" do Pinguim rouba a cena

27.07.2014, às 14H35.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H35

Quem espera que a série de TV Gotham da Fox se torne um policial padrão de procedimento, com casos e investigações semanais episódicas, ou um similar das novelas teen de super-herói do canal CW, talvez se surpreenda com o episódio-piloto - que teve sua premiére mundial aqui em San Diego durante a Comic-Con 2014.

A pegada deste primeiro episódio - que mostra os primeiros contatos do policial de moral duvidosa Harvey Bullock (Donal Logue) com o seu novo parceiro, o tenente James Gordon (Ben McKenzie), recém-chegado a Gotham - se aproxima das séries de máfia. É como se Dia de Treinamento se ambientasse em Boardwalk Empire, com Bullock mostrando a Gordon o caminho das pedras na hierarquia dos gângsteres da cidade.

Gotham

Esse "passeio" de Bullock e Gordon, que neste episódio investigam o assassinato dos pais de Bruce Wayne (crime cuja solução deve se estender por toda a série ou pelo menos por uma temporada), serve bem para nos apresentar os vilões clássicos, mostrados aqui em suas jovens versões "Begins". Como nos filmes de Christopher Nolan, as características dos personagens têm razões funcionais: o Pinguim (Robin Taylor, que promete roubar cenas) é o principal deles, e as formas encontradas para introduzir/explicar o famoso guarda-chuva e o seu passo de ave são bem sacadas.

O fato de esses personagens serem mais jovens, em sua maioria, não torna as tramas infantis, necessariamente. O que temos é uma Gotham clássica, espelhada na Nova York dos anos 1970, e mesmo os mais jovens no elenco, como Selina Kyle (Camren Bicondova), parecem mais preocupados em sobreviver do que com futilidades - no caso da Mulher-Gato, o piloto tem ecos de Batman: Ano Um, com a felina se esgueirando em becos e escadas de incêndio, e o fato de a personagem testemunhar o assassinato dos pais de Bruce não parece, na telinha, tão aleatório quanto pode parecer no papel.

O uso que a série faz do órfão pode ser excessivo, porém. A aproximação entre Gordon e Bruce (com o tenente dando a deixa para o futuro do Batman, dizendo para ele "buscar a luz" ou "dominar seu medo") não é verossímil e pode esvaziar a figura de Jim Gordon; que policial no mundo entregaria seu distintivo e seu futuro na mão de uma criança, afinal? Já a caracterização de Alfred (Sean Pertwee) é perfeita, longe do mordomo servil e mais próxima do Alfred britânico durão, de sotaque carregado, meio cockney, que aos poucos ganhou espaço nos quadrinhos. Dá vontade de ver Bruce sempre em cena só por causa de Alfred.

Gotham

Visualmente, Gotham tenta se estabelecer como um noir estilizado, com ambientes escuros iluminados pelas janelas e com luzes amarelas e vermelhas em profusão. A delegacia parece mais uma estação de trem, com fontes de luz e informações visuais de todos os lados. Pense no episódio noturno mais saturado de CSI, combinado com a afetação visual de Sin City. No piloto, essa mistura flerta o tempo todo com a cafonice - uma cena de amor entre Gordon e Barbara parece saída de Capitão Sky e o Mundo do Amanhã, com tantos filtros de cores e fundos digitais.

Nos seus melhores momentos - mais exatamente, a partir do instante em que Fish Mooney (Jada Pinkett Smith) ajeita sua peruca - Gotham consegue usar o humor como antídoto contra essas suas próprias pretensões cafonas. O piloto abraça os capangas cartunescos e os mafiosos caricatos. Não perder de vista o absurdo e o ridículo que é contar histórias policiais no meio de uma festa a fantasia como Gotham City parece mesmo ser a receita de sucesso aqui - como de resto é a receita de sucesso de muitas versões do Batman nos quadrinhos, na TV e no cinema.

A série da Fox estreia em 22 de setembro nos EUA.

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