Jet e seus coadjuvantes |
Jet e Milly |
Astro Boy |
No início dos anos 80, a TV Record era o palco das aventuras de um pequeno garoto cibernético chamado Jet Marte. O nome da série era O menino biônico, uma pouco conhecida criação de Osamu Tezuka, o pai do moderno mangá e pioneiro dos seriados de animê para a televisão.
Com todo um senso de encantamento, drama e aventura infanto-juvenil típico dos anos 70 (época em que foi produzida), Jetter Mars foi uma aventura extremamente interessante exibida numa época em que os animês não gozavam da popularidade de hoje e poucos títulos eram exibidos na TV.
O pequeno Marte
Construído em 2015 (um futuro distante na época em que o desenho foi produzido) por um severo cientista chamado Prof. Yama (Yamanoue) a fim de proteger o Japão e o mundo contra qualquer tipo de ameaça, Jet Marte é um garoto-robô capaz de voar. Dotado de grande força, resistência, coragem, tem um espírito curioso e emotivo. Sua melhor amiga é Milly, uma andróide com um profundo senso de justiça que lhe ensina muito sobre os valores sociais e humanos. Agindo também como um conselheiro, temos o criador de Milly, o professor Kawashita, que auxilia na educação do poderoso e ingênuo herói. Kawashita é um feroz antagonista do militarismo de Yamanoue e os dois vivem às farpas, principalmente no tocante à educação de Marte.
Atendendo aos pedidos de seu pai, Marte enfrenta de criminosos comuns a supervilões que ameacem a segurança do país. Mesmo com sua força descomunal, ele é incentivado a freqüentar a escola normalmente, o que gera muitas situações divertidas, graças à sua extrema ingenuidade e impulsividade.
A vida do pequeno guerreiro, porém, sofre uma reviravolta quando seu pai morre em um acidente. Em seu lugar, entra um ainda mais severo e por vezes insensível diretor no instituto de ciências onde Marte vive. Antes de morrer, porém, o Professor Yama deixara pronto um irmãozinho para Marte: o travesso bebê-robô Mélki (Melch), que só sabe dizer bakaruti (sem tradução). Forte e obviamente desastrado, Mélki é uma atração à parte, engatinhando e causando estragos por onde passa.
Máquinas com sentimentos
O seriado misturava ternura e humor com um tipo de drama e violência impensáveis para uma produção ocidental.
Em um antológico episódio, uma garota-robô espiã chamada Agnes aproxima-se de Marte a pedido de seu diabólico mestre. Ela, no entanto, apaixona-se pelo herói e trai seu criador, sendo destruída por ele. A cena da morte é de causar pesadelos: para libertar Marte, que estava cativo, ela caminha em chamas rumo ao controle que o libertaria. Morre puxando a alavanca que salva o herói. Tudo em câmera lenta e com um canto gregoriano ao fundo. No final do episódio, Marte olha para o céu, vê o rosto da menina e grita seu nome. Quando lidava com o tema da mortalidade, o desenho se apresentava muito poético, solene e sentimental, bem ao modo japonês.
Em outra aventura, Marte conhece o agente ciborgue Jam Bond, que o hostiliza quando ambos agem em conjunto. Tudo porque Bond, um humano com partes mecânicas, considerava-se superior a um robô como Marte. Quando foi duramente ferido em ação e sua parte humana foi destruída, o antigo ciborgue tornou-se 100% máquina e aprendeu uma dura lição de humildade.
Mesmo com pouca participação criativa de Osamu Tezuka, a obra seguia linhas de roteiro bastante fiéis ao conjunto de obra do autor, com um profundo respeito pela vida e muita valorização da solidariedade e humanismo.
Curiosidades
Jet Marte é baseado numa antiga criação de Tezuka, o Astro Boy (Tetsuwan Atom), com quem é freqüentemente confundido. O Astro Boy original, seriado em animê de aventura pioneiro no Japão, teve sua primeira versão lançada em 1963 e nunca foi exibido no Brasil. Uma versão recente de Astro Boy está planejada para exibição no Cartoon Network.
Co-produção do estúdio de Tezuka com a Toei Animation, a série do Menino Biônico não alcançou grande sucesso em seu país de origem. Mesmo assim, foi exibida também na Espanha, Itália e Chile, além do Brasil.
O diretor-geral, Lin Taro (ou Rintaro) tornou-se um dos mais respeitados do Japão, com destaque para seu trabalho em Galaxy Express, de Leiji Matsumoto. Em 2000, Lin Taro uniu-se a Katsuhiro Otomo (de Akira) para levar às telas um antigo mangá de Tezuka, o drama futurista Metrópolis.
Mesmo sem merchandising oficial lançado no Brasil, Marte apareceu em embalagens de uma pipoquinha doce bastante popular anos depois da série ter sido exibida por aqui.
O próprio Osamu Tezuka é retratado como coadjuvante em dois episódios.
Ficha técnica
Título original: Jetter MarsEstréia no Japão: 03/02/1977 (TV Fuji)Número de episódios: 27Criação: Osamu TezukaRoteiro: Masaki Tsuji, Yoshitaki Suzuki e outrosTrilha sonora: Nobuyoshi KoshibeDireção: Masami Hata, Susumu Kurokawa e outrosDireção geral: Lin TaroRealização: Toei Animation e Mushi ProductionsEmissora no Brasil: TV Record