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Planeta dos Macacos | Relembre a conturbada série de TV que completa 40 anos

Depois de tomar o controle do planeta e fazer sucesso no cinema, os macacos tentaram fazer sucesso na telinha

08.08.2014, às 00H09.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H44

Em Hollywood, se algo faz sucesso, a chance de repetição é praticamente certa. Um exemplo disso é Planeta dos Macacos, série que tentou recriar na TV o sucesso da história no cinema. A ideia de levar Planeta dos Macacos para a TV na verdade surgiu logo após a estreia do primeiro filme, que adaptou para a tela o livro de Pierre Boulle sobre um grupo de astronautas que aterrissa em um planeta em que os humanos perderam o domínio para seus parentes macacos, aquele com a inesquecível cena final diante de uma Estátua da Liberdade enterrada na areia e a descoberta chocante de que o planeta dos macacos é, na verdade, a Terra. Assim como o longa, a série seria produzida por Arthur P. Jacobs, o homem que levou a ideia de adaptar o livro de Boulle de estúdio a estúdio até convencer a Fox de que a história faria sucesso na bilheteria.

Esse mesmo sucesso transformou Planeta dos Macacos em uma franquia com cinco filmes e adiou a ideia de uma série de TV. Foi somente quando a produção parou no cinema que a ideia da série ressurgiu. Para testar a audiência, a CBS exibiu os longas em sua Friday Night Movie, onde a distopia criada por Boulle fez um enorme sucesso, tirando a série do papel. Mas o projeto seguiria sem Jacobs, que havia falecido em junho de 1973.

Na nova fase, o escolhido para levar o projeto de série adiante foi Stan Hough, que representou a Fox durante a produção dos filmes e que assumiu como produtor executivo. Hough, por sua vez, contratou Rod Serling para produzir a "bíblia" da série, documento base que determina o cenário, personagens e regras do universo da narrativa, e escrever os roteiros para os dois primeiros episódios. Na visão de Serling, o celebrado criador de Além da Imaginação e um dos roteiristas do primeiro filme, o tema principal de Planeta dos Macacos na TV seria a fuga e a sobrevivência. Mas ao contrário do longa, o mundo não seria habitado apenas por humanos em estado primitivo e sim por comunidades em diferentes estágios do desenvolvimento, incluindo os humanos mutantes do segundo filme, De Volta ao Planeta dos Macacos. A única constante seria o poder nas mãos dos macacos.

Planeta dos Macacos TV 01

Nessa versão inicial, o Coronel Alan Virdon e o Dr. Stan Kovak partem em uma missão para encontrar os astronautas primeiro filme, embora apenas Taylor mantenha o nome original, com Landon (Robert Gunner), Dodge (Jeff Burton) e Stewart (Dianne Stanley) substituídos por Thomas, LaFever e Bengstein. Assim como no filme, a dupla chega a um mundo dominado por macacos que os astronautas pensam fazer parte da constelação de Cassiopeia, fazem amizade com o chimpanzé Galen e descobrem que Taylor e os demais haviam sido mortos. Assim como na série que foi produzida, no primeiro tratamento a ameaça aos astronautas vem do comando militar, representado pelo gorila Ursus, descrito como chefe da Polícia Secreta, e do comando religioso e científico, que está nas mãos dos orangotangos, representado por Zaius. O conceito de Serling agrega ainda a divisão interna na estrutura de poder dos símios, com a discordância de posição entre gorilas beligerantes e chimpanzés pacíficos, e Zaius como o cientista que sabe a origem dos astronautas e os vê como ameaça pela possibilidade de introduzirem na sociedade símia os conceitos que levaram à destruição do domínio humano sobre a Terra.

Embora escrito por um dos maiores contadores de histórias da TV, o trabalho de Serling para o piloto apresenta problemas. O roteiro começa com dois minutos de narração em off sem qualquer ação física acontecendo. O primeiro macaco, obviamente o grande atrativo da série, só aparece no final da primeira parte e fala pela primeira vez só no começo do terceiro ato, quando o público já estaria se perguntando onde foram parar os macacos do filme. Ainda assim, a concepção era de uma série adulta, com momentos de introspecção em que os personagens revelam seu espanto pelo mundo onde estão e mais próxima ao longa original do que o programa que acabou estreando na TV. No trabalho de Serling, Ursus é também mais articulado do que o Urko que conhecemos na série e que persegue os humanos movido pela crença de que humano bom é humano morto.

Mas como o objetivo era vender a série como mescla de ação e ficção científica, as cores mais filosóficas do trabalho de Serling foram abandonadas em favor de correria e enfrentamentos, com o projeto já sob a gestão de Herbert Hirschman, convidado para ser o produtor da série pelo presidente da CBS, Fred Silverman. Como forma de atrair o público semana após semana, os astronautas ganharam a esperança de retornar para casa, introduzindo a cena em que após a aterrissagem, Virdon corre até a nave para pegar um disco de dados que tornaria possível a viagem "de volta". O médico Kovak foi substituído por um segundo astronauta e os grupos humanos passaram a ser todos falantes e foram igualados no mesmo estágio evolutivo. Ficaram o conceito de que os humanos teriam um companheiro chimpanzé e a divisão da sociedade símia entre gorilas na segurança, orangotangos na elite política e chimpanzés como administradores, cientistas e médicos. No balanço de poder, o Alto Conselho é formado por três orangotangos, um chimpanzé e um gorila.

O grande trunfo da série foi ter Roddy McDowall como Galen. O ator não só era um ponto de atração por já fazer parte da franquia como intérprete de Cornelius e César nos filmes, como conhecia o segredo de dar vida aos símios, manter o rosto em constante movimento para evitar que a maquiagem se transformasse numa máscara. O ator também sabia quais eram os riscos do uso das próteses que o transformavam em chimpanzé, e conseguiu na série algo que não teve nos longas, que seu dia de trabalho nunca ultrapassasse doze horas e uma folga a cada três dias para preservar a pele. Junte essas pequenas vantagens ao entusiasmo de McDowall pelo universo de Planeta dos Macacos e Hough e Hirschman tinham uma base sólida para construir a produção.

Planeta dos Macacos 2

Além de McDowall, o destaque na escalação foi Mark Lenard, famoso por seu trabalho em Jornada nas Estrelas, onde interpretou não só Sarek, pai de Spock, como também o primeiro Romulano visto pelo público com as orelhas à mostra, cena importante para a série por revelar o parentesco entre vulcanos e romulanos . Em O Planeta dos Macacos, Lenard aceitou interpretar o gorila-chefe rebatizado de Urko após ser convencido pelo diretor de elenco Marvin Page de que somente atores muito bons conseguiriam dar vida à máscara. O argumento seria reforçado com a escalação de Booth Coleman, um veterano da Broadway, para interpretar Zaius. Com três horas necessárias para a aplicação e uma hora para retirada, a maquiagem criada por John Chambers para os macacos revelou-se também um elemento importante na escalação de todos os intérpretes de gorilas, chimpanzés e orangotangos, já que muitos atores não sabiam como dar vida à maquiagem ou não suportavam trabalhar debaixo de camadas de cola, próteses, perucas, peles e couro. A demanda por símios, que incluía de dez a 12 personagens com falas por episódio, exigia ainda um time de seis a sete maquiadores, quando o normal em um seriado é ter de um a dois profissionais cuidando de todo o elenco, o que não só dá uma dimensão da complexidade da produção como também explica o custo de US$250 mil por episódio, uma fortuna para a época e uma informação sempre importante na hora de decidir se uma série será ou não renovada.

Obviamente destinado a ser uma versão para a TV do Comandante Taylor, Ron Harper foi escolhido para ser Alan Virdon em uma seleção que envolveu mais de cinquenta atores, enquanto James Naughton ficou com o papel de Peter Burke. Na divisão de tarefas, caberia a Harper ser o herói que quer voltar para casa e a Naughton ser a parte engraçada da dupla.

Para as filmagens da série, foi escolhido o 20th Century Fox Ranch, em Malibu, um espaço que o jornal The Charlotte Observer de 13 de outubro de 1974 descreve como logo após a cabana da série Daniel Boone e o edifício em miniatura queimado para as filmagens de Inferno na Torre. Graças mais uma vez ao sucesso dos filmes, Planeta dos Macacos não passou pelo processo de produção de piloto, sendo aprovada direto para a produção de 13 episódios. Na visão de Fred Silverman e todos na gestão do estúdio, era um projeto destinado ao sucesso.

Nem o entusiasmo do público, nem a presença de MacDowall ou a maquiagem revolucionária poderiam, no entanto, solucionar os problemas na concepção da série. Mesmo distante do conceito inicial de Serling, o programa de TV manteve a ideia de que os astronautas e seu companheiro chimpanzé estariam em constante fuga. E ficou nisso. A cada semana, a história se repetia: um dos três personagens principais era preso e os outros dois o resgatavam, o que em si não era o problema, já que toda série de TV tem uma estrutura básica, seja o crime da semana ou a visita ao planeta alienígena da semana. Mas a isso se juntava um texto tão raso que houve casos em que os diretores se limitavam a mandar os atores se afastarem e começarem a correr.

Planeta dos Macacos 3

A caracterização também deixava claro que o foco da série estava nos humanos e que eles eram superiores, com Virdon e Burke usando sua tecnologia para resolver todos os problemas como anjos vindos do céu de alguma mitologia. Os gorilas foram as principais vítimas, sendo derrotados com facilidade, mesmo sendo seres fisicamente muito mais fortes. Para completar, Fred Silverman contratou Kem Ruby e Joe Spears como editores de roteiro, ambos especialistas em programação infantil, o que juntamente com a exibição às 20 horas, selou o destino da série que nasceu para o público adulto e voltou-se para o público mais jovem, terminando por não conquistar nenhum dos dois em quantidade suficiente para justificar os custos de produção. Na guerra da audiência, que é o que realmente importa para o estúdio, Planeta dos Macacos perdeu para Sanford and Son e Chico and the Man, exibidos pela NBC no mesmo horário, o que fez o enorme entusiasmo que Silverman tinha pelo projeto sofrer um súbito colapso. Sem apoio, opção de mudança de horário ou de conceito, o último episódio foi exibido em 20 de dezembro de 1974.

Ironicamente, no penúltimo episódio, "O Libertador", Virdon, Burke e Galen encontram um homem que planeja usar gás venenoso para eliminar os macacos, história que encontrou eco nos protestos que aconteciam naquele momento contra o uso de armas químicas na Guerra do Vietnã e chegou a ser excluído da programação em alguns locais nos Estados Unidos, exatamente o tipo de enredo que poderia ter tornado a série melhor e garantido sua sobrevivência. Mas com os produtos ligados ao universo Planeta dos Macacos vendendo muito bem, o cancelamento estava longe de significar a morte. Em 1975, a rede NBC, a mesma que derrotou a série durante a exibição original, lançou a animação De Volta ao Planeta dos Macacos. Nos anos 80, seria a vez da série voltar ao ar, dessa vez com os episódios reunidos em cinco longas para a TV e uma raridade: cenas gravadas com Roddy McDowall como Galen agora idoso relembrando suas aventuras com Virdon e Burke. Em uma dessas aberturas especiais, exibidas somente pela rede ABC, o chimpanzé explica que os astronautas um dia encontraram o computador que procuravam e voltaram para seu próprio tempo. Lembrando momentos em que Galen questionava a atitude dos humanos, o chimpanzé dizia ainda que não havia pensado em partir com os amigos para um tempo em que macacos eram mantidos em jaulas da mesma forma que o público não pensaria em viajar para o Planeta dos Macacos.

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