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Wayward Pines | Da Frigideira

Em sua primeira incursão na televisão, M. Night Shyamalan reverencia grandes trabalhos de suspense para reforçar sua marca

25.02.2015, às 01H42.

Quando começou a fazer seu nome em Hollywood, o indiano M. Night Shyamalan conseguiu um feito que muitos jovens cineastas gostariam muito de alcançar. Ele trabalhou com grandes nomes, foi indicado a prêmios importantes e conseguiu mover a engrenagem criativa do mercado numa direção específica. O suspense tinha ganhado um elemento surpresa, um grande twist que obrigava o espectador a repassar toda a trama na cabeça para encontrar sentidos - ou até mesmo enganos. Era o já conhecido "final surpresa", que de O Sexto Sentido até A Vila fazia parte das expectativas de qualquer espectador que reconhecesse o nome do diretor nos créditos.

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A partir de A Dama na Água, Shyamalan começou a apresentar trabalhos que fugiam um pouco de sua estrutura básica e logo a mudança foi sentida pela crítica, imprensa e público que, quase unanimemente, rejeitaram a maioria desses trabalhos. O diretor estava experimentando novas linguagens e provavelmente lutando contra o estigma que fora alimentado por tanto tempo. Sobretudo nos anos que se seguiram a O Sexto Sentido, os tais "finais surpresa" viraram uma espécie de febre que levava cada vez mais pessoas aos cinemas.

Muito dado a referências, Shyamalan agora tinha se tornado uma, e como com quase todo artista atormentado com um estigma, lutou um pouco com essa evidência. A televisão, enfim, tornou-se uma espécie de refúgio criativo seguro, onde grandes nomes do cinema - sejam atores ou diretores - podem encontrar executivos muito ansiosos para tê-los em seus canais sob a promessa de liberdade e privilégio. O diretor então foi parar na Fox, onde nasceu Wayward Pines, uma produção anunciada como minissérie mas que assim como tantas outras no mercado, pode ter vida longa contando uma história independente por temporada.

Esse apreço de Shyamalan por material referencial já começa na base dramatúrgica de Wayward Pines, uma cidadezinha pequena e isolada que tem moradores aparentemente simpáticos, mas que esconde algum tipo de segredo. Pensamos logo em Twin Peaks, sobretudo porque tal qual na obra de David Lynch, a cidade é cercada daquele tipo de morador sorridente e de olhar perdido, superficialmente natural, mas cheio de uma estranheza meio assustadora.

Matt Dillon é o astro do programa, juntando-se ao séquito de atores cinematográficos que migram para a TV em busca de personagens complexos e mais prestígio. Ele vive o agente Ethan Burke, que parte numa missão para encontrar dois colegas desaparecidos e acaba sofrendo um acidente e indo parar em Wayward Pines. Após acordar na cidade, ele percebe que perdeu documentos importantes, carro, celular e que qualquer tentativa de entrar em contato com a família é frustrada. Aos poucos, também vai ficando evidente que há algo muito estranho a respeito da cidade, de onde ele não consegue, de jeito nenhum, sair.

A partir daí é complicado dizer muita coisa sem estragar algumas surpresas. A narrativa é entrecortada com o mundo exterior, que mostra a mulher e um colega de Ethan tentando encontra-lo. Alguns rostos de Wayward Pines surgem de formas intrigantes em ambos os lados da trama e detalhes como linha temporal e aceso a informações são sublinhados com suspense bem marcado. Há uma extrema elegância na direção de Shyamalan (ainda atento a ângulos que privilegiam o ambiente que abriga a cena), mas talvez por funcionar como uma espécie de reverencia ao gênero, o texto não se priva de obviedades como "eles estão observando", apenas para deixar claro que há um mistério e uma conspiração.

Sob esse aspecto nós temos boas doses de Arquivo X no entorno dessa criação. Além da Imaginação também está ali flertando conosco e o senso de isolamento a que Ethan é submetido não deixa de invocar as psicologias torpes da obra de Stephen King. Wayward Pines não parece ter problemas com essas ligações e tudo soa bastante voluntário. De fato, estamos diante de uma série que anuncia um mistério sem medo de ser comparada com tantos outros que saturam a televisão ultimamente. Ainda que extremamente bem produzida, vai caber a nós decidir se compramos a angústia de Ethan Burke ou se olharemos para ela com o cinismo natural de quem já comprou segredos antes e não ficou feliz com as revelações.

Wayward Pines estreia simultaneamente no Brasil - às 22h30 - e EUA em 14 de maio nos EUA na Fox.

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