Séries e TV

Crítica

Empire - 1ª Temporada | Crítica

Nova produção musical do canal de Glee, a novelesca série conduz seu primeiro ano de modo irregular

26.03.2015, às 12H03.

Quando essa crítica começou a ser escrita, uma notícia já circulava intensamente pelas redes sociais: a trilha sonora de Empire tinha alcançado a proeza de brigar com Madonna (com um álbum fresquinho) pela primeira posição na Billboard. De fato, a trilha conseguiu até mesmo destronar a cantora nos primeiros cinco dias do lançamento. Algo assim só havia acontecido antes com outra produção da Fox, também um musical, chamada Glee, e que coincidentemente chegou ao fim no dia 20 de março. Então, ao mesmo tempo em que um império mercadológico se finda, outro ascende.

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Criada por Danny Strong e Lee Daniels (que já havia sido notado pela produção de Preciosa), o império a que se refere o título é o da família Lyon. Aos trancos e barrancos, Lucious Lyon (Terrence Howard) conseguiu a proeza de deslizar do mundo do crime para o mundo da música e ainda teve a sorte de ter seu talento escolhido para ser aquele que divide a história. Então, o rap, o hip hop e o R&B se tornaram a mola mestra de sua trajetória. Sua gravadora se tornou lendária e ele virou o artista mais respeitado do mercado fonográfico.

O problema é que Lucious foi diagnosticado com uma doença degenerativa incurável e tem muito pouco tempo de vida. Começa, então, no melhor estilo folhetim latino, uma corrida para saber qual dos filhos do músico assumirá seu lugar à frente dos negócios da família. Se será o burocrático e nada talentoso Andre (Trai Byers); o jovem, talentoso e hedonista Hakeem (Bryshere Gray); ou o sensível e dedicado Jamal (Jussie Smollet). Além deles, a ex-mulher de Lucious, que saiu da cadeia depois de 17 anos cumprindo uma pena que devia ser dele, também quer sua fatia do bolo.

Novela Estilizada

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Com uma base narrativa como essa, fica difícil não se fisgar, pelo menos de primeira, pelo que se vê em Empire. Respeitando a cartilha de qualquer folhetim, tudo na dramaturgia da série é sobre embate, confronto, intriga e vingança. Partindo do diagnóstico de Lucious e da liberação de Cookie (Taraji P. Henson, numa interpretação irresistível), todas as tramas se desenvolvem com pressa e muita eloquência. Paternidades, traições, homicídios e embustes simplesmente transbordam dos episódios de Empire com uma urgência impressionante.

Isso acaba gerando um efeito contraditório nas intenções estilísticas da série. Embora o protagonista de Terrence Howard tenha sido criado para reproduzir o modelo de protagonista masculino falho e atormentado, o resultado final do programa está longe da elegância que se vê em produções onde o exemplo se estabelece, como Mad Men. Empire acaba sendo um pouco híbrida, invocando as expectativas de uma Família Sopranos, mas acabando aparentada com as reviravoltas de Revenge. Não é uma questão de juízo de valores, entretanto... Dentro de suas propostas, Empire consegue ser quase totalmente bem sucedida.

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A homossexualidade do filho Jamal é o flerte com o diferencial. Não podemos esquecer que o mundo do hip hop e do rap é essencialmente heterossexual e uma condição como essa abala o modus operandi cristalizado desse meio. É aí que Empire sai do lugar comum, não se privando de abordar o preconceito latente desse universo dominado por negros, o que, em perspectiva, gera um ruído e uma discussão bastante interessantes. É bem verdade que quase sempre a narrativa se perde entre as dezenas de rasteiras que os personagens aplicam uns nos outros. Mas, volta e meia, ele surge e faz a diferença.

Novela Cantada

Enfim, boa parte do sucesso da série também se dá pela produção musical. Timbaland cuida de toda essa parte e garante, para cada episódio, uma quantidade generosa de canções finalizadas e em processo de finalização (como bem se adequa nesse cenário de indústria fonográfica). Aqui, Empire se afirma de novo com um híbrido do gênero musical. Embora as canções estejam presentes o tempo todo, elas não fazem parte do diálogo direto entre os personagens. Ou seja, nada de ver diálogos virando música. Tudo que é executado em Empire está dentro do plano narrativo independente. Os personagens cantam apenas quando se apresentam, ensaiam ou criam. Isso, sem dúvida, fez com que o público que curte música, mas odeia musicais, permanecesse interessado.

A cultura musical negra nunca esteve tão em alta como agora. Sobretudo porque, ao contrário de como acontecia com os fãs dos grandes artistas negros que mudaram a história nos anos 60 e 70, os consumidores desse tipo de material não precisam ficar no armário. Existe a nossa volta um império efetivo, que faz rios de dinheiro e movimenta a indústria da música mesmo quando o artista solo não é negro. Alguns dos produtores dos maiores sucessos dos últimos anos são afrodescendentes e deram ao cenário pop uma homogeneidade notória. Trechos de rap e hip hop em canções de trabalho de Madonna, Katy Perry, Britney Spears entre outras, não são nada incomuns. Assim, estabeleceu-se um status social que inclui não só a música como a língua, a moda e outras expressões artísticas. Empire difunde e alimenta esse nicho. Outra prova disso é a quantidade respeitável de convidados especiais que já apareceram na série, como Courtney Love, Jennifer Hudson e Naomi Campbell.

Infelizmente, na mesma proporção em que tramas novelescas são divertidas, também são mais aptas ao descontrole. Já no seu episódio final, Empire demonstrou cansaço e apresentou algumas decisões equivocadas, que mais valorizavam a reviravolta a qualquer preço do que a construção coesa de seus personagens. Além disso, se muitas cartas são jogadas na mesa de uma vez, logo as suplentes começam a ser requisitadas. Já vimos isso acontecer em outras "novelas seriadas", que depois de um período de paixão, começam a precisar lançar mão de ressuscitações, parentes que chegam e somem a cada temporada e segredos que nunca tinham dado pistas prévias de existência. Tramas assim divertem mais, mas também exigem muito mais controle.

Porém, para aqueles que querem apenas se divertir e ouvir música de qualidade, Empire é uma opção justa e relevante. Não se sabe por quanto tempo ela vai conseguir evitar o descarrilamento. Mas, até lá, seu nome já vai ter sido gravado e consumido ao redor do mundo como poucas séries têm a sorte de conseguir fazer.

Nota do Crítico
Bom

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