Séries e TV

Crítica

Orphan Black - 3ª Temporada | Crítica

Terceiro ano do drama de ficção científica conserta erros e evolui com mais humor e maturidade

30.06.2015, às 16H25.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H43

É preciso ser atento quando se é fã de ficção científica. Ao mesmo tempo em que reúne a base de seguidores mais ardorosa, o gênero também é o que mais flexibiliza a realidade, se construindo em cima de teorias que brincam de virar verdade. Sendo assim, o universo desse tipo de série é muito rico e cheio de detalhes. Qualquer exagero ou deslize na forma como as teorias e desdobramentos são construídos pode fazer com o que a fé do espectador naquela "mentirinha" seja perdida.

O segundo ano de Orphan Black foi complicado... Pra quem não conhece, a trama da série envolve as descobertas de Sarah Manning (Tatiana Maslany) acerca de seu passado como parte de um experimento envolvendo clonagem humana. Pouco a pouco, a personagem encontra suas cópias e vai descobrindo que por ter sido a única a gerar uma criança, pode ser a chave para resolver todos os mistérios que a cercam. Partindo dessa premissa, como com quase todos os produtos do gênero, as coisas começam simples e vão se complicando. A cada clone encontrado, uma série de ramificações acompanha, fazendo com que o livro de regras no qual a história se apoia passe a ganhar atalhos e exceções.

Castor

Orphan Black começou seu terceiro ano com um grande problema nas mãos: ela precisava justificar as voltas que fez no ano anterior, todas com o intuito de apresentar uma nova organização de manipulação de material genético. O projeto Castor tinha sido o grande gancho da temporada passada, quando clones masculinos foram apresentados como complementares a existência de Sarah e suas "irmãs". O problema de todo esse processo é que não houve uma linha narrativa central que demonstrasse segurança e a segunda temporada parecia indecisa, como se tentasse descobrir pra onde ia enquanto estava indo.

Por conta disso, a primeira metade desse ano aparou arestas e começou a se apegar menos a detalhes, tratando de deixar claros os caminhos pra onde seguiria. O importante era saber que o projeto Castor era de um braço diferente do Leda (que deu origem às mulheres clones), que ele estava para se tornar uma arma militar e que, mesmo com essa diferença, tanto um quanto o outro foram gerados do mesmo material genético. Essa origem precisava ser alcançada para que, a partir dela, uma vida saudável fosse possível para os clones, impedindo também que outros fossem gerados. Pronto, esse era o caminho e essa era a base que nunca deveria ser esquecida na condução dos episódios.

Assim que tudo foi arrumado de modo claro, a temporada conseguiu seguir com mais folga. É bastante interessante perceber como essa divisão do terceiro ano fica evidente quando atentamos pra ela. Até o quinto episódio ainda é como se víssemos o segundo ano, daquele jeito correto, mas frio. Até que uma convergência impressionante acontece e a série ganha uma catarse que desde o primeiro ano não se via. Tudo volta a ser envolvente e humano e não só um compêndio de jargões científicos.

Leda

É justamente o lado humano da série que impede que ela se torne acadêmica e não sanguínea como deveria ser. Não é só uma questão de acompanhar o trabalho estupendo de Tatiana Maslany, mas de saber que cada um dos clones que ela vive tem uma alma cheia de contornos. Assim que chegamos na segunda metade da temporada, uma espécie de spot voltou a perseguir essas linhas humanas de cada cópia, fazendo com que nos importássemos novamente com elas enquanto personagens isolados e não só como peças de uma bizarra árvore genealógica.

Foi maravilhoso ver o quinteto sendo fortalecido com tramas seguras. Enquanto Sarah ainda era a costura; Cosima ainda lutava para conseguir equilibrar seus anseios românticos e seu compromisso científico com as irmãs; Alison ainda era a mãe maluquinha, mas o reforço na abordagem de seu núcleo familiar foi importantíssimo para suavizar a temporada. A parceria com Donnie (Kristian Brunn) rendeu momentos hilários e necessários para quebrar a seriedade da história. Até Rachel salvou-se de sua construção petrificada e ganhou camadas frágeis, sendo premiada até mesmo com a grande revelação do episódio final.

Mas se a terceira temporada de Orphan Black tem uma estrela, essa estrela é Helena. O clone mais selvagem, mais violento e antissocial de toda a série despontou com um carisma que pode ser chamado de adorável sem culpa. Foi muito importante ter acompanhado o crescimento de Helena porque agora, quando ela começa a criar e admitir laços com sua nova família, vemos como sua personalidade e sua moral foram terceirizadas. É brilhante, porque ela ainda mata sem dó, só que faz isso por amor aos seus, para proteger os seus. E vejam que incrível, o roteiro consegue incutir um humor involuntário nas cenas dela que é um deleite.

Esse ano também conhecemos um novo clone e Krystal foi muito mais bem-sucedida na trama que o clone trans do ano passado. Tatiana veio com uma energia nova, inocente e comum que fizeram todos torcerem pra que Krystal permaneça no programa. A série acertou muito quando voltou a demonstrar os contrastes entre a frieza científica e os laços humanos inevitáveis. Numa produção sobre clonagem, vamos descobrindo cada vez mais que esses laços se debatem para existir, contra toda a correnteza, fazendo com que no fim das contas tudo seja sobre o desejo de ter uma família.

Nota do Crítico
Ótimo

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