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Crítica

Amor Pleno | Crítica

A paixão de Terrence Malick

12.09.2012, às 19H08.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H47

"A vida é um sonho", devaneia um dos protagonistas de Amor Pleno(To the Wonder), o novo filme de Terrence Malick. "Não há o que errar. Você pode ser o que quiser." A ideia retrata de certa maneira o estilo dos filmes mais recentes do diretor, cada vez mais à vontade em fazer seu próprio cinema. Malick filma como um fluxo de consciência, um sonho, ainda que neste filme esteja mais centrado que no anterior, A Árvore da Vida.

To The Wonder

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To The Wonder

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Através de imagens, monólogos narrados e música, quase sem diálogo, Malick estabelece duas histórias paralelas. Na do homem e da mulher (Olga Kurylenko e Ben Affleck, ambos desaparecidos nos papéis), um sujeito do interior rural dos EUA leva a namorada e a filha pré-adolescente dela, ambas francesas, para morar com ele. Na outra, um padre com crise de fé (Javier Bardem) busca provas da existência de Deus.

Malick segue explorando os temas encontrados no filme anterior - a família e a religião - mas tira o foco do amor pelos filhos em direção à exploração do amor romântico (não é por acaso que o longa abre em Paris).

O diretor filma os espaços negativos da relação dos protagonistas. Acompanha-os em relances de reações e emoções, flagrantes de decepção, sexo, solidão ou companheirismo. Os fragmentos registrados, novamente pela iluminada fotografia de Emmanuel Lubezki, porém, são dos mais acessíveis de seu trabalho em anos. Há uma história clara aqui, que pode ser tão sentida quanto entendida. Na montagem, ele elimina segmentos inteiros de diálogos ou encerra cenas na metade, alternando cenas de intimidade com imagens da natureza, pistas sutis (em conjunto com o comportamento da trilha sonora de Hanan Townsend) das intenções do diretor.

O cineasta incluiu elementos autobiográficos no filme. Ele morou na França nos anos 1980, onde se envolveu romanticamente, mas retornou para os Estados Unidos e acabou casando-se com uma namorada do tempo do colégio. Com ele, quer entender o amor - e procura-o de maneiras distintas. A mulher ama. O homem também. Mas ele prefere sua própria liberdade a "tornar-se um" com ela. O padre não encontra Deus, não consegue provas tangíveis, racionalizando a fé, mas para o faxineiro simplório não há questionamentos: "você so precisa tocar a luz, irmão. Ela te aquece". E a luz, o elemento mais icônico da cinematografia do cineasta, aqui também segue personagem - e ganha até autorreferências, com os personagens mencionando sua existência (que chega ao ponto da opressão) em diversos momentos.

Para Malick, há um problema nos fundamentos do amor moderno, no novo continente - onde a própria terra é tóxica (o personagem de Affleck faz medições de contaminação do solo), em contraste com o lodo sensual da Normandia, onde o filme começa em sequência de tirar o fôlego, no monte Saint-Michel. Se nem o planeta ama mais seus filhos, como alguém pode entregar-se a outro? Amor Pleno é o filme mais apaixonado de Terrence Malick.

Nota do Crítico
Excelente!
Amor Pleno
To the Wonder
Amor Pleno
To the Wonder

Ano: 2013

País: EUA

Classificação: 14 anos

Duração: 112 min

Direção: Terrence Malick

Roteiro: Terrence Malick

Elenco: Ben Affleck, Olga Kurylenko, Javier Bardem, Rachel McAdams, Tatiana Chiline, Romina Mondello, Tony O'Gans, Charles Baker

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