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Before Watchmen | Entrevista com Dan DiDio e Jim Lee

Publishers da DC dão novidades sobre o projeto, falam de Alan Moore e dos autores revoltados com a editora

23.04.2012, às 12H19.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H48

[ATUALIZADO, 24/4] Veja novas artes conceituais e páginas da HQ na galeria Before Watchmen.

Antes de Watchmen

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É inegável a ironia em Watchmen - a grande crítica dos super-heróis dos quadrinhos feita por Alan Moore, que teve início como releitura dos personagens da Charlton Comics (Capitão Átomo, Besouro Azul, Questão etc.) - estar sendo reapropriada por outros quadrinistas (para desgosto de Moore) na sequência Before Watchmen. As sete minisséries do projeto enfocam os principais personagens da original - Rorschach, Comediante, Coruja, Ozymandias, Dr. Manhattan e Espectral - em histórias anteriores à obra-prima de Moore e Dave Gibbons.

No Los Angeles Festival of Books, os co-publishers da DC Entertainment Dan DiDio e Jim Lee estiveram presentes para discutir o prelúdio tão aguardado quanto controverso. O painel e a discussão que se seguiu abordaram um fogo cruzado de tópicos, desde a relação da DC com seus criativos até a situação financeira da indústria de quadrinhos (em outras palavras, por que um prelúdio de Watchmen faria bem) e por que diabos fazer um prelúdio do quadrinho talvez mais amado de todos os tempos.

O espectro de Alan Moore pairou sobre o evento - com uma série de perguntas afiadas quanto às desavenças de Moore com a DC e a falta de envolvimento (ou, para ser sincero, desprezo total) deste por Watchmen: o Filme e agora seus derivados em quadrinhos. Veja a seguir a discussão (levemente acalorada) com DiDio e Lee.

Tem pessoas na equipe da DC que disseram para vocês não fazerem isso [um prelúdio de Watchmen]. Essa discussão interna ajudou vocês?

DiDio: Começou a acontecer esse papo, os rumores de que íamos mesmo fazer o projeto. Quando começou a circular mais, tinha gente que entrava no meu escritório perguntando: "Ei, é verdade?" [E eu respondia:] "Não posso dizer, mas se fosse, você veria algum problema?" Eu estava interessado nessa conversa, que problemas eles veriam. Ou seja, nós tivemos de tudo. Uma das coisas que eu falei para várias pessoas é que, no beisebol, ninguém deixa os melhores jogadores no banco de reseva. Você tem que vir com tudo que tiver. O que as pessoas mais conhecem, o que as pessoas querem ver. Eu acredito que é do interesse da empresa dar sequência a Watchmen.

Lee: Durante o período de marketing do filme Watchmen, nós vendemos mais ou menos um milhão de exemplares. E na época nós sabíamos que todo mundo que era colecionador de quadrinhos de verdade já tinha seu exemplar, ou seja, a maior parte dessa tiragem nova foi para novos leitores. E estamos sempre em busca de expansão nos nossos negócios... Achamos que seria uma grande oportunidade de alcançar novos leitores e ver se podemos convertê-los em leitores de longo prazo. Você tem que usar o que tem de melhor e dar um gostinho daquilo que eles já conhecem. Todos os autores nestas HQs querem fazer algo equivalente ou superar o que se fez na original. Não acho que alguém esteja pensando "Ah, se eu fizer só cinquenta porcento do original, já está ótimo." Esses caras são artistas de verdade.

DiDio: E, para ser bem sincero, não teríamos seguido com isto se não achássemos que temos os melhores talentos à disposição. Aliás, essa é uma das coisas que nos atrasou. Os autores não queriam participar, a não ser que tivessem uma história marcante a contar. Darwyn Cooke foi uma das primeiras pessoas que chamamos e ele se negou por que não sabia o que fazer. Aí, um ano depois, ele entrou em contato e já tinha ideia de como fazer uma história que funcionasse. Aí começamos com tudo.

Ontem foi anunciado que Chris Roberson não está mais trabalhando no arco da série Fairest (entenda a desavença de Roberson aqui). Jim Lee: como autor, como você lida com o que o Roberson disse sobre o posicionamento da DC quanto aos direitos dos autores?

Lee: Eu não conheço Chris e certamente teria ajudado se eu pudesse conversar com ele, ou se ele tivesse vindo conversar comigo. Eu não sabia que ele pensava assim, então foi uma surpresa. Como autor, me parece estranho declarar publicamente que tenho problemas com a empresa que está me pagando para fazer um serviço e que vai cair fora assim que acabar tal serviço. Me parece mais inteligente terminar de fazer o serviço antes de reclamar. Imaginem que, da nossa perspectiva, para a nossa moral interna, o que é para uma empresa contratar alguém tão abertamente contra nossos princípios e continuar pagando essa pessoa. Não faz sentido.

DiDio: Até onde sei, ele fez uma declaração bastante aberta de que não queria mais trabalhar com a DC e nós honramos o que ele disse.

Como autor, como você lida com a discordância de Moore com este projeto e com o filme?

Lee: O interessante é que, voltando ao exemplo de Chris, ele fez referência a um artigo do site Comics Alliance, que fala de como Alan Moore foi tratado injustamente. Aquilo é para ser jornalismo, e só cita entrevistas que Alan deu. As pessoas só prestam atenção quando existe essa polarização, quando tende para um lado. Nós não tiramos nada de Alan. Ele assinou um acordo e ainda ele diz: "Eu não li o contrato". Não posso forçá-lo a ler contratos. Ou seja, tem muita coisa que as pessoas não sabem e Alan falou explicitamente. Tem muitos atenuantes e coisas que merecem análise. Não é tão óbvio e aparente como alguns querem ver... Não estamos usando os personagens sem pagar ao Alan. De tudo que fizemos com Watchmen, das HQs até o filme, mandamos dinheiro para ele. A quantia que lhe era devida, conforme o contrato. Honramos esta parte do acordo. É claro que podemos discutir isso, mas quando se diz que só existe um lado certo, eu não concordo.

Como vocês chegaram ao formato de Before Watchmen? Às minisséries, à publicação semanal...

DiDio: Eu adoro os lançamento semanais. Nós lançamos quadrinhos semanalmente e eu amo essa ideia de ter coisas novas toda semana. Que todo semana você pode ter uma expectativa de que tal série vai estar lá e que com sorte outras séries vão chamar sua atenção lá.

Lee: Os lojistas amam.

DiDio: Amam mesmo. Queremos ver mais gente nas lojas, então o lançamento semanal para ser um caminho... Essa é a primeira parte do quebra-cabeça. Eu trabalhei com Grant Morrison em Sete Soldados da Vitória, que foi um processo muito interessante, pois Grant criou um estilo narrativo com sete minisséries diferentes que se cruzavam e se ligavam, mas que saíam separadamente. Pegamos a base do que Grant fez lá e trouxemos para o projeto com Watchmen. Já que é um prelúdio, temos o desafio de mostrar os personagens antes de eles se conhecerem - então como dar essa sensação de equipe e ainda deixar eles serem indivíduos? Percebemos que Minutemen, Comediante e Ozymandias demandavam narrativas mais longas. Elas cobrem um período mais extenso. Minutemen [enfoca] a formação da equipe, Comediante vai da época dos Minutemen até sua morte. Ozymandias tem a ver com a trama, que trata de uma história mais extensa. Mas as outras são só pequenos retratos de quem eram estes personagens. Por isso ficaram com quatro capítulos, enquanto as outras têm seis. E aí falamos de como lançar. E, sendo bem sinceros, temos alguns talentos que não são dos maas velozes, então tivemos que dar tempo ao tempo. Mas da forma como está o cronograma, vai ficar entre cinco e sete semanas para cada edição, assim os artistas têm mais tempo e esperamos manter a arte consistente ao longo da série.

O original tem raízes profundas na questão de usar violência extrema para causar a paz - o que era reflexo da Guerra Fria e dos anos 80. Nas novas histórias, não foi difícil se ater àquele período e àqueles temas, tornando-os relevantes diante dos problemas contemporâneos?

DiDio: Na verdade as histórias se passam antes daquilo. E são mais baseadas nos personagens do que no mundo ao redor deles. Estamos explorando os indivíduos, como eles cresceram e se transformaram ao longo dos anos, como eles começaram heróis com foco e ideais e como eles mudaram suas opiniões quanto a o que deviam ser... Há histórias fantásticas ali sobre quem eles são. Mas é tudo com base nos personagens, pois não queríamos chegar a esta questão de construir um mundo. Queríamos o foco nos indivíduos. Por isso que a história de Espectral é um rito de passagem, a do Comediante é de como ele entrou no governo e de como tornou-se quem é. Entra bastante na psique e na personalidade dos personagens, e o objetivo era manter a consistência para ser lida como uma coisa só. Você pode ler os prelúdios e o original e achar que são o mesmo mundo, com outra visão. Para deixar bem diferente, nos preocupamos em variar os estilos de arte... Cada artista tem seu estilo. O que é bom, pois cada minissérie funciona à parte, ao invés de seguir um único estilo que seria rígido demais para as histórias que estamos contando.

Quando se tem tantos artistas e autores e histórias num único projeto, como lidar com a coerência da história?

DiDio: É difícil dizer, pois estou acostumado a ver vários personagens como um todo, embora trabalhem separadamente. Vejo Superman ao lado de Batman ao lado do Lanterna Verde ao lado do Aquaman... e todos atuam no mesmo mundo, embora em espaços totalmente diversos. E é assim que eu vejo Watchmen. Eles todos estão ligados à mesma coisa. Fazem parte do mesmo mundo. Eles são algo à parte.

Lee: É um tríptico - três obras de arte feitas para serem vistas separadamente, mas que podem ser unidas em uma só. Tivemos conversas no início sobre como essas histórias podiam se interligar, mas decidimos que era importante focar mais no tom do que na história em si.

Before Watchmen começa a sair em julho nos EUA. A série é formada por Comediante de J.G. Jones; os Minutemen de Darwyn Cooke; o Coruja de Andy e Joe Kubert; o Rorschach de Lee Bermejo; Espectral por Amanda Conner; Ozymandias por Jae Lee; Curse of the Crimson Corsair por John Higgins; e Dr. Manhattan por Adam Hughes.

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