Quando Billy Crudup conheceu o seu personagem de Olá Amanhã!, Jack, ao ler os roteiros da série pela primeira vez, ele pareceu um pouco familiar demais. “Eu senti que precisava protegê-lo, porque vi meu pai vivendo a vida da mesma forma que ele”, comenta o ator em coletiva acompanhada pelo Omelete.
A declaração é curiosa porque Jack não é exatamente um modelo de comportamento. Em Olá Amanhã!, o personagem nos é apresentado como o líder do time de vendas da Brightside, empresa que está desenvolvendo casas de classe média na Lua - ou pelo menos é isso que ele quer que seus clientes pensem. Antes do fim do primeiro episódio, descobrimos que todo o empreendimento, incluindo o chefe misterioso que manda mensagens para os vendedores direto do satélite terrestre, é invenção de Jack, um trapaceiro de marca maior.
“Meu pai sempre foi taxado como uma coisa ou outra: sem escrúpulos, criminoso, falsário... O que eu via naquele homem era mais profundo e mais rico, é claro, porque ele era meu pai. E acho que a série desafia os espectadores a fazer o mesmo, o que me atraiu para ela”, continua Crudup. “Ela nos faz pensar mais profundamente sobre essas pessoas que se sentem pressionadas, especificamente pelo sonho americano, a fazer jus a um potencial absurdo que está além das habilidades de qualquer um. Não podemos todos vencer na loteria, mas o mundo nos diz que, se você não vence na loteria, você não tem valor nenhum e é um fracassado.”
O cocriador da série, Lucas Jansen, evoca essa mesma falta de julgamento. “Boas ou ruins, todas essas pessoas são pessoas iludidas. Como roteiristas, nós estávamos menos interessados em julgá-las ou entender os planos delas, e mais interessados em descobrir quais são as histórias loucas que elas precisam contar para si mesmas a fim de conseguir sair da cama de manhã”, aponta, acrescentando que não se absolve da mesma falha. “Vou ser sincero: eu me considero uma pessoa muito iludida nesse sentido. Tenho noção de que a vida humana é uma coisa que exige que nós construamos ficções malucas em nossas cabeças, porque é o único jeito de sobreviver”.
Crudup é rápido em apontar que a marca particular de ilusão representada por Jack e por seu pai não é nem um pouco incomum no nosso mundo. “Os fatos são irrelevantes, como nós descobrimos recentemente com tantas pessoas no mundo real. A realidade como nós, humanos, a sentimos, está no que acreditamos”, reflete. “Se você diz algo o bastante, se você corre o mais rápido que consegue, se você trabalha feito um camelo, talvez a verdade que está dentro da sua cabeça deixe de ser só uma fantasia... para o bem ou para o mal”.
“Só um coração iludido é capaz de amar, só uma mente iludida é capaz de manter a esperança viva”, emenda Jansen. “Ao mesmo tempo, essas ilusões podem nos levar a ideias perigosas - por exemplo, a pensar que seríamos mais felizes na Lua do que somos na Terra. A distinção entre os efeitos bons e ruins de viver em uma ilusão está no coração da nossa série”.
Olá Amanhã! estreia seus três primeiros episódios no Apple TV+ hoje (17), e segue com capítulos semanais às sextas-feiras.