Antologias e coletâneas de gibis são uma das grandes tradições do quadrinho brasileiro – que o diga publicações históricas como as revistas Chiclete com Banana ou Circo. E vários criadores presentes na CCXP23 mantêm vivo o formato. Confira alguns dos destaques encontrados no Artists’ Valley.
NATA DO INDEPENDENTE NACIONAL
Uma das melhores iniciativas recentes do quadrinho nacional é a Harvi, antologia do selo homônimo criado por Marc Casilli. Na CCXP, ocorre o lançamento do volume 2 da revista, com trabalho de gente como Jéssica Groke (L26) e Marília Marz (L24). Aline Zouvi (L15) também tem história no novo número – ela editou e desenhou a capa da estreia da Harvi, publicada ano passado. “Foi um trabalho interessante porque sempre estive do lado do artista. Ajudei na seleção de nomes e participei de reuniões com cada quadrinista para avaliar o processo, desde a ideia, o rascunho, até a versão final da história”, comenta Aline. “No volume 2, voltei para minha posição de criadora e acabei passando por todo esse processo também – tanto que a trama que pensei no começo não foi pra frente, tive de reformulá-la. Queria fazer algo sem texto, não rolou, e então contei um enredo apenas mostrando as mãos dos personagens.”
ALUNOS ARTISTAS
Com sede no Rio de Janeiro, a Inko – Escola de Mídias Criativas foi criada por Rapha Pinheiro (B01-02) há alguns anos, com o propósito de ensinar como funciona a narrativa das HQs. Um dos frutos das aulas é a coletânea Inko, que reúne trabalhos dos alunos da instituição e chega agora à nona edição. “Não é um curso teórico, é pra fazer quadrinho de fato. Como todos os professores estão inseridos no mercado, queremos que os alunos também estejam”, explica Pinheiro. “E a melhor forma para isso é publicar a galera. Hoje, a escola virou algo maior que eu, pois antes era apenas o ‘curso do Rapha’”. Alguns novatos revelados pela Inko, inclusive, têm mesa no Artists’ Valley: Alanis Lua (B35), Gil Gomes (B23) e Maju Bengel (B03), entre outros.
RESGATE HISTÓRICO
Em 2013, o cartunista estadunidense Justin Hall lançou o livro No Straight Lines: Four Decades of Queer Comics, fazendo uma espécie de historiografia dos quadrinhos LGBT+ norte-americanos. Felizmente, o pessoal da Revista O Grito! (L28) resolveu publicar por aqui uma versão em português da obra, que ganhou o título Fora do Padrão. “Existiram grandes autores LGBT+ com trabalhos de expressão dentro de linguagem dos quadrinhos e que, além disso, tratavam de temas muito importantes, não só sobre a nossa vivência, mas também sobre a sociedade como um todo”, revela Dandara Palankof, tradutora da edição e editora da revista Plaf, publicada por O Grito. “E essas pessoas acabaram caindo nas canaletas de escoamento da cena artística, nunca tendo o devido reconhecimento. O que Justin Hall pretendia era trazer à luz essa produção tão rica”. Fora do Padrão conta com histórias de renomados autores, como Ralf König, Trina Robbins, Alison Bechdel e Howard Cruse. Outra boa notícia é a preparação de um projeto semelhante sobre os quadrinhos LGBT+ brasileiros.
OLHAR FEMINISTA
Este ano, a jornalista Gabriela Borges (L29-30) não só deu a luz à filha Lila, mas também à quarta edição da revista Mina de HQ, versão impressa de seu projeto homônimo com foco na curadoria e divulgação de gibis feitos por mulheres, pessoas trans e não binárias. “A edição é muito especial, pois foi produzida durante meu período de puerpério. Isso foi algo marcante, amamentar uma bebê pequena e não deixar de trabalhar”, comenta Gabriela. “E, ao mesmo tempo, acabamos de ganhar o Prêmio HQMIX referente à terceira edição. Então, lançar a sequência era importante para dar continuidade ao projeto”. O novo número tem capa de G.G. Schall, artigo de Andreza Delgado (cofundadora da PerifaCon, convenção nerd realizada na periferia de São Paulo) e entrevista com a veterana letrista Lilian Mitsunaga, além de quadrinhos inéditos.
