Filmes

Notícia

A Grande Família - O Filme

Mudando tudo para não mudar nada

25.01.2007, às 00H00.
Atualizada em 06.11.2016, ÀS 01H07

Um pouco de metafísica marca a passagem do seriado A Grande Família para o cinema.

Depois do funeral de um amigo, Lineu (Marco Nanini) decide fazer um exame médico - e constata uma mancha no peito. Sem coragem para abrir o envelope do diagnóstico, ele começa a se preparar para contar a má notícia para sua esposa, Nenê (Marieta Severo). Os dois estão fazendo 40 anos de namoro. Na tentativa de prepará-la para o pior, Lineu só faz besteira. Termina, depois de muito imbróglio, com o carro enguiçado na linha do trem. A colisão é iminente. É o fim de Lineu.

1

None

3

None

Entra a metafísica.

Conversando consigo mesmo (aquela coisa de repassar a existência na hora da morte), o chefe da família percebe que não faz as coisas como devia. A Grande Família - O Filme recomeça, então, desde a parte do funeral, passando pelo exame médico, pelos 40 anos de namoro. E recomeça uma terceira vez - uma hora Lineu vai acertar - ecoando o estilo Charlie Kaufman de tratar o roteiro como um tubo de ensaio. A vida é uma sequência de cartas marcadas ou é o que decidimos fazer dela?

Recorrer a um roteiro "inteligente" é a maneira que os roteiristas Cláudio Paiva e Guel Arraes encontraram para pontuar a transposição, para que A Grande Família não ficasse parecendo só um seriado em longa-metragem. Paradoxalmente, é o engenho narrativo que permite ao diretor do filme (e diretor-geral do programa) Maurício Farias manter o humor - especificamente, o ritmo do humor - do que jeito que o espectador se acostumou a ver na telinha.

Fazendo a conta: 104 minutos de filme, divididos em três histórias (cada uma das metafísicas do Lineu), dá 34 minutos por história. Cada episódio na TV tem uns 40 minutos. É equivalente. Farias não precisa dilatar o tempo narrativo para fazer caber A Grande Família em um longa-metragem. Só precisa encadear três "episódios" de uma vez. Isso se reflete, repita-se, no humor. Lineu sai do escritório, na cena seguinte está no bar, na outra cena já está em casa. Com o tempo condensado, como no seriado, não se perde agilidade com tomadas de transição (Lineu pensativo na rua voltando para o lar, por exemplo). As situações geram graça pelo acúmulo, pela concentração, como na série.

A questão, então, é decidir se vale a pena sair de casa e pagar a fortuna de um ingresso para assistir àquilo que você já conhece. (A cena de Nanini bêbado já paga, sozinha, uma meia-entrada.)

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.