Filmes

Crítica

As Aventuras de Agamenon, o Repórter | Crítica

Ex-Cassetas tentam refazer no cinema piadas que só funcionam no calor dos fatos

05.01.2012, às 20H00.
Atualizada em 10.11.2016, ÀS 15H02

O Tio do Pavê, aquele parente que aparece sempre no Natal pra fazer a piada do "pavê ou pra comê", é um fenômeno incompreendido. Sua intervenção na festa é menosprezada, alguns riem para evitar o constrangimento, mas o que aconteceria se, servido o pavê, ninguém fizesse graça alguma? O vazio deve ser muito mais constrangedor que a piada em si.

as aventuras de agamenon, o repórter

None

as aventuras de agamenon, o repórter

None

as aventuras de agamenon, o repórter

None

Da mesma forma, há outras situações que pedem, antes de mais nada, ao menos uma piada de reflexo, a piada sem elaboração. Quando um jogador de futebol é pego com travestis, por exemplo. Imediatamente após o fato, há um vácuo a ser preenchido, e o piadista sem sofisticação tem a obrigação de ocupá-lo. As piadas seguintes - as piadas boas - só existem porque a piada ruim veio antes para autorizar o humor sobre aquela situação.

Por anos os membros do Casseta & Planeta têm sido os nossos Tios do Pavê porque seu humor é essencialmente o de reação. As mídias onde o grupo se deu melhor, nos jornais e na TV, favorecem esse imediatismo. No cinema, porém, a piada esperada desce com gosto de velha, e isso se sente em As Aventuras de Agamenon, o Repórter muito mais que nos anteriores Seus Problemas Acabaram e A Taça do Mundo é Nossa.

O filme escrito pelos cassetas Hubert e Marcelo Madureira leva às telas o personagem criado para o jornal O Globo. Agamenon Mendes Pedreira é o repórter que, como um Zelig do colunismo social, sempre está presente em todo acontecimento importante da alta sociedade. No filme, Hubert interpreta Agamenon depois da Segunda Guerra e Marcelo Adnet o faz na juventude, em momentos marcantes da história mundial, da greve de fome de Gandhi à queda do Muro de Berlim.

Como pílulas na coluna do jornal, o filme não segue uma linearidade: começa com Agamenon velho e um tiroteio (que não é retomado depois e fica sem desfecho) e vira um longo flashback, em que a vida do repórter é repassada em eventos sem ordem (o caso de Ronaldo e os travestis vem logo depois da morte de JFK). Na falta de uma trama, vale o comentário no calor dos fatos.

E é justamente isso que deixa As Aventuras de Agamenon com cara de velho - seus fatos não têm o "calor" da mídia instantânea e todas as piadas se esgotaram no Twitter minutos depois de sair uma notícia (como no caso de Ronaldo). O filme inclusive emula a estética da web - imagens photoshopadas, dublagem em cima de vídeos de arquivo - que só o desfavorece. Se Agamenon gozava de algum timing no jornal, isso se perde no cinema, onde Madureira ainda acha que chamar um proctologista de Jacinto Leite Aquino Rêgo pode render alguma coisa.

Não por acaso, os poucos momentos inspirados do filme são aqueles que lidam não com o imediatismo, mas com o acúmulo dos eventos. Por exemplo, Nelson Motta já participou de tantos documentários musicais nos últimos anos que, em As Aventuras de Agamenon, o próprio Motta - creditado como "ator de documentários" - aparece para tirar sarro de si mesmo. Outro que ganhou credibilidade pela repetição é o biógrafo Ruy Castro, que surge no filme sempre para contestar alguma informação histórica.

É mal equilibrado entre o humor reativo mais popular (as gags de sexo) e essas inside jokes (como brincar com a obsessão de João Barone pela Segunda Guerra) que As Aventuras de Agamenon atira pra todo lado. Às vezes, acerta justamente pela mistura anacrônica - juntar um modismo de hoje com um evento passado, como a torcida "sou louco por ti Wojtyla" no conclave de João Paulo II.

Estranho no grupo, Adnet se sai bem porque sabe ocupar melhor o espaço entre as piadas de reação e as piadas elaboradas, rindo do que vira moda. Seu melhor momento no filme, aliás, o "Funk dos Aliados", deriva dos quadros musicais que ele sempre faz na MTV e que viralizam no YouTube. Se quiserem ocupar esse nicho - que tem outra dinâmica - os Tios do Pavê precisam se reinventar.

As Aventuras de Agamenon, o Repórter | Trailer
As Aventuras de Agamenon, o Repórter | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Regular
As Aventuras de Agamenon, o Repórter
As Aventuras de Agamenon, o Repórter
As Aventuras de Agamenon, o Repórter
As Aventuras de Agamenon, o Repórter

Ano: 2011

País: Brasil

Classificação: 14 anos

Duração: 74 min

Direção: Victor Lopes

Elenco: Marcelo Adnet, Luana Piovani, Hubert Aranha, Marcelo Madureira, Pedro Bial, Fernanda Montenegro, João Barone

Onde assistir:
Oferecido por

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.