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O Libertino | Crítica

O Libertino

06.07.2006, às 00H00.

O Libertino
The Libertine
Inglaterra, 2005
Drama - 116 min

Direção: Laurence Dunmore
Roteiro: Stephen Jeffreys

Elenco: Richard Coyle, Johnny Depp, Rupert Friend, Tom Hollander, Cara Horgan, Shane MacGowan, John Malkovich, Maimie McCoy, Samantha Morton, Habib Nasib Nader, Rosamund Pike, Laurence Spellman.

Johnny Depp tem verdadeira obsessão por papéis estranhos. Desde o início de sua carreira, o ator sempre buscou interpretar figuras burlescas, dando a elas uma humanidade caricata comovente. Foram raras as vezes (geralmente tropeços em personagens comuns) em que ele falhou nessa seleção. Assim, tornou-se um favorito do público.

Com esse retrospecto, não causou qualquer espanto o anúncio de que ele viveria o controverso poeta inglês John Wilmot, o Conde de Rochester, na produção inglesa O libertino (The libertine, 2005).

No século 17, Wilmot cresceu com todos os confortos e tornou-se uma das mais cultas figuras da sociedade na época. Entretanto, sua paixão sem freios pelas intrigas da corte e pelos prazeres da vida - especialmente o sexo e o álcool - o tornaram uma espécie de astro do rock de seu tempo. Raptou mulheres, casou-se, teve dezenas de amantes homens e mulheres de todas as classes, foi preso, duelou, teve atritos com o Rei e aventurou-se como médico e astrólogo charlatão. Morreu aos 33 anos, literalmente corroído por doenças venéreas e seus vícios, depois de uma curta, mas intensa existência.

Tal figura foi tema de uma peça de teatro inglesa de Stephen Jeffreys estrelada por outro talentoso esquisitão, John Malkovich. Fascinado com o tema, o ator produziu a adaptação para o cinema da montagem dos palcos, convidando Depp a assumir o papel e atuando - praticamente irreconhecível sob uma peruca e nariz falso - como o Rei Carlos II.

Pois o filme, roteirizado pelo próprio Jeffreys, não tem qualquer vergonha de sua origem teatral. O texto, consciente de sua rigidez literária, é disparado com a tônica da arte dos palcos, em longos - e gritados - monólogos ou diálogos, com direito a perdigotos. Já a estética passa longe do que se esperaria de uma produção assim. O diretor estreante Laurence Dunmore, egresso do mercado publicitário, optou por filmá-lo quase todo com a câmera no ombro, o que tira o público da platéia e o coloca dentro da suja ação (dá quase para sentir o fedor das perucas), como se fosse um coadjuvante passivo da peça. Reforçam o efeito a iluminação tênue e uma espécie de véu granulado que cobre determinadas cenas, quase que propondo um embaçamento dos sentidos, dividindo o que sente o protagonista.

E Wilmot fica entorpecido quase todo o tempo. Tanto que logo no início do filme, em seu monólogo de abertura, já avisa: Vocês não gostarão de mim. Mas é difícil não gostar desse transgressor, que ignora a solicitação de uma peça para o Rei dedicando-se à bebedeira e ao hedonismo ao lado dos amigos George Etherege (Tom Hollander) e Charles Sackville (Johnny Vegas). Seu único momento de lucidez chega na forma do interesse pela atriz estreante Lizzie Barry (Samantha Morton), que ele resolve treinar. Ela é parte da primeira geração de atrizes mulheres (até então os papéis femininos eram interpretados por homens) e Rochester decide torná-la uma estrela. Mas a paixão crescente que ele se recusa a aceitar só faz com que ele se entregue ainda mais à sua irresponsável existência, desdenhando a esposa (Rosamund Pike), seu lugar na corte e a família, especialmente a mãe puritana (Francesca Annis).

Como curiosidade, vale notar que o filme foi alvo de críticas severas nos Estados Unidos e foi também um fracasso de bilheteria. Parece que o público por lá, acostumado a ter suas papinhas regurgitadas semanais servidas em bandeja de prata, teve dificuldade em consumir uma refeição de digestão mais exigente. O verdadeiro Conde de Rochester não apenas a devoraria, como certamente o faria durante uma orgia.

Nota do Crítico
Ótimo
O Libertino
The Libertine
O Libertino
The Libertine

Ano: 2004

País: Inglaterra

Classificação: 16 anos

Duração: 114 min

Direção: Victor Lima

Elenco: Costinha, Fernando José, Meiry Vieira, Rosana Martins, Rita de Cássia

Onde assistir:
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