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Entrevista

O Rei Leão | Omelete Entrevista Don Hahn

Produtor da animação falou sobre o processo de conversão, o relançamento do filme nos cinemas após quase vinte anos e muito mais

29.08.2011, às 01H35.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H26

Com o relançamento do clássico da animação e vencedor de dois Oscars O Rei Leão em 3D estereoscópico, tivemos a a oportunidade de conversar com o produtor Don Hahn. Na entrevista, ele fala sobre o processo de conversão ao 3D, os extras que estarão no novo DVD (incluindo a animação dos erros de gravação cometidos durante a dublagem do filme) e a relação entre a nova geração de crianças e adolescentes e os filmes desenhados a mão. Tudo isso além de abordar a questão que tem sido alvo de debate nos últimos tempos: a história é mais importante ou não do que o espetáculo do cinema? Confira:

O Rei Leão

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Como o 3D afetou esse filme? Por que o público deve ir ao cinema mais uma vez assistir O Rei Leão?

Sempre vale a pena revisitar boas histórias e isso é um atributo que O Rei Leão tem, com certeza. Trabalhamos duro em dois componentes da experiência 3D e espero que o público os aprecie. Primeiro trabalhamos na técnica de dimensionalizar a imagem ao método mais sofisticado atual. Isso permite que a audiência entre na ilustração. Estamos acostumados a ver filmes em live action e animações feitas por computação gráfica em 3D. Acredito que ninguém jamais tenha visto algo parecido. O outro componente foi o som. Terry Porter, nosso engenheiro de som indicado ao Oscar, fez um incrível trabalho remixando a trilha em 3D, tentando fazer com que o áudio do filme saísse da tela assim como a imagem. Acho que ele fez algo extraordinário que vale a ida ao cinema.

Por que você acha que O Rei Leão é um dos maiores filmes da história? Qual é a mágica do filme?

O Rei Leão é profundamente fundado nas emoções humanas, especialmente na relação que temos com nossos pais. Por usar animais para contar a história, tudo se torna uma alegoria ainda mais emocional.

Quais mudanças foram feitas no filme?

Não fizemos nenhuma mudança no filme em si, somente algumas tecnológicas que eram necessárias para o processo de conversão. Sabíamos que tínhamos que nos manter fiéis ao filme original e simplesmente realçá-lo para o público atual.

Na última edição que foi lançada em DVD do Rei Leão vimos uma música que não estava no filme, "The Morning Report". Vai haver novas músicas nessa nova versão?

"The Morning Report" foi uma exceção. Nós tínhamos realmente gostado da música, mas não conseguimos encaixá-la no filme original. Fez sentido adicioná-la no DVD como extra. Não há outras músicas como essa nesse novo lançamento.

Como você se sente em ter um clássico Disney voltando ao cinema em 3D após mais de dez anos de seu lançamento?

Mal consigo transformar em palavras a emoção que sinto de poder ver um filme voltar em 3D. A única regra que tivemos quando começamos a conversão para o formato foi trazer de volta toda a equipe que trabalhou na versão original. Dessa maneira, o filme ficaria intacto ao longo do desenvolvimento do trabalho. Graças a umas pessoas incríveis dos Estúdios de Animação Disney, que desenvolveram o processo de conversão, o visual do filme ficou fenomenal.

Foi mais difícil converter um filme desenhado a mão e dar a ele profundidade do que produzir algo inteiramente em 3D?

Sim. Computação gráfica é, por natureza, uma forma de arte 3D. Animações desenhadas a mão são uma caricatura do mundo 3D, então nossos artistas tiveram que tomar várias decisões criativas para converter o filme. Na realidade, são necessárias inúmeras escolhas artísticas para um trabalho como esse. Não dá para simplesmente apertar um botão e pedir que um computador faça tudo sozinho.

Algumas pessoas acham que eventualmente as animações feitas em computação gráfica podem acabar substituindo por completo as animações desenhadas a mão. O que você pensa sobre isso?

Animação não se trata de técnica, se trata de como se conta uma história. Sempre há espaço para uma variedade de diferentes técnicas, contanto que a história seja convincente. Um bom exemplo disso são os filmes de Hayao Miyazaki. Ele é um artista brilhante que por acaso usa um lápis para contar suas histórias. O público o adora e a história permanece interessante, independente da técnica.

Quão difícil é remasterizar um filme e como foi o processo para O Rei Leão em especial?

Quando fizemos o filme original, usamos computação gráfica na pós-produção para pintar e compor todo o filme. Isso tornou a conversão para 3D muito mais simples por já termos arquivos digitais.

Qual foi a melhor coisa que você aprendeu com O Rei Leão?

Ótima pergunta. Sinto que ganhei tantos presentes da experiência que tive em O Rei Leão, algumas do filme em si e outras da incrível recepção que o filme teve do público. O Rei Leão me ensinou que com um bom time de roteiristas e artistas dá para transforma uma história difícil em algo bem único e especial. Foi uma equipe que fez esse filme e essa equipe merece todo o crédito. O filme também me ensinou o poder da música. Se você põe Hans Zimmer, Elton John e Lebo M. em um estúdio, é óbvio que vai sair algo especial. No caso de O Rei Leão, o trabalho deles elevou o filme de uma alegoria para um tipo de ópera africana. A música tem um poder incrível porque pode expressar emoções complexas que palavras podem não conseguir retratar.

O Rei Leão foi um filme chave para sua geração. Como você acha que o filme será recebido pelas crianças de hoje em dia, que estão acostumadas com computação gráfica?

Filmes em computação gráfica são milagres tecnológicos da modernidade. Um filme desenhado a mão é a mais pura expressão da arte humana em um filme. Dá para sentir e ver a qualidade do desenho a mão e apreciar a habilidade que foi colocada naquilo. Após dizer tudo isso, penso que as pessoas vão ao cinema para ver boas histórias e O Rei Leão sempre irá apresentar tudo isso: uma história que entretém, é emocionante e divertida.

Qual é a sua opinião sobre animações hoje em dia? Você gosta delas?

Não gosto de todas as animações lançadas, então a resposta para a sua pergunta é 'não'. Mas admiro muito o que os artistas têm feito. Também acho que é cada vez menos necessário falar sobre animações como seu próprio gênero. Não sinto que seja um gênero; é uma técnica, e uma técnica que vem se tornando cada vez mais comum nos filmes modernos. Amo os filmes da Pixar e o trabalho de [Hayao] Miyazaki. Também adorei Enrolados e O Ursinho Pooh.

Algum personagem teve que ser eliminado do roteiro original que vocês gostariam que tivesse permanecido?

Alguns dos personagens mudaram durante o processo de escolher como a história seria contada. Rafiki era originalmente um velho homem sábio que falava coisas profundas. Quando terminamos a produção, tínhamos o alterado para o amável e louco contador de verdades que está no filme.

Você acha que animações têm chance de levar o Oscar de Melhor Filme competindo com filmes em live action?

Sempre achei que animações deveriam ser consideradas na categoria de Melhor Filme e A Bela e a Fera quebrou essa 'regra' quando foi indicado, em 1991. É uma grande honra ter uma categoria especial para animações no Oscar, mas quando um filme é bom o suficiente, ele certamente deve ser incluído na categoria de Melhor Filme. Não faz diferença se o filme é animado ou não. É só você ver, por exemplo, Toy Story 3, que foi um ótimo filme animado.

Além da conversão para o 3D, existe algo novo que as pessoas devem esperar? Como por exemplo os easter eggs, que são comumente encontrados nos filmes da Disney/Pixar hoje em dia.

Um dos meus bônus favoritos nesse DVD são os primeiros erros de gravação do Rei Leão. Voltamos às gravações originais das dublagens, que aconteceram em 1993 e 1994, e encontramos um material bem engraçado de erros. Então eu chamei os animadores originais e pedi que ilustrassem aqueles momentos. O resultado ficou incrível. Você não viveu de verdade até ver Mufasa [dublado por James Earl Jones] errar uma fala.

Muitos dos filmes animados de hoje em dia parecem sobrecarregados com referências à cultura pop. Você acha que estamos perdendo a mão em contar histórias simples que agradam a todos?

Bem, a verdade é que Branca de Neve é lotado de referências populares, assim como Aladdin. Então, se usadas corretamente, referências são uma ótima ferramenta para um cineasta. A cultura pop pode soar falsa quando é adicionada para se conseguir uma reação barata. Essa não é a melhor das ideias e tira a intemporalidade no filme.

A versão 3D de Rei Leão é direcionada a uma geração que está acostumada com animações digitais e gostam de filmes como Toy Story e Carros. Você acha que esse público terá interesse em assistir a uma animação à moda antiga?

Acho que a audiência vai ter interesse em ver um bom filme e ouvir uma boa história. No final das contas, não importa se o filme é desenhado a mão, com marionetes, feito de pixels ou com uma câmera. A história transcende a técnica todas as vezes.

O Rei Leão fez parte da segunda Era de Ouro da Disney. Você acha que o estúdio pode entrar numa terceira Era de Ouro com John Lasseter [presidente de criação dos estúdios Disney]?

John é um incrível cineasta, além de ser um bom amigo. Se você vir os filmes da Disney e Pixar, dá para dizer que ele já está presidindo a nova Era de Ouro. Seu segredo para o sucesso é a vontade que ele tem de colaborar e deixar que outros cineastas liderem o processo.

Qual foi a parte mais difícil de transformar esse filme em 3D?

Um dos fatores mais difíceis é que todos vêem 3D de formas diferentes. Fizemos inúmeros testes e trabalhamos duro para fazer de O Rei Leão um filme imersivo no qual o 3D adiciona à trama e é fácil de ser assistido. Filmes são a suspensão voluntária da descrença e queríamos que o público que fosse assistir ao filme se esquecesse que está vendo um desenho a mão em 3D. Esse é o tipo de coisa que ninguém viu antes e essa é uma das principais razões pelas quais queríamos fazer com O Rei Leão.

Vocês tiveram que refazer alguma cena?

Algumas cenas deram trabalho aos artistas durante a conversão. Todos os personagens ficam de pé em quatro patas, o que significa que elas teriam que ser colocadas em três dimensões no chão. Isso não é uma coisa fácil de se fazer. Em outras cenas, como por exemplo o estouro de manada, precisamos recorrer a alguns gráficos antigos e reutilizá-los. Espero que o público não perceba esses desafios... E se o fizemos corretamente, eles não devem perceber.

Se vocês estivessem fazendo O Rei Leão agora, em 2011, ao invés de em 1994, acha que o filme seria diferente? Será que a tecnologia existente hoje em dia seria útil para fazer algo que vocês pudessem ter planejado fazer há anos e não o fizeram?

Houve um grande avanço tecnológico no campo de animações desde que fizemos O Rei Leão. Então não há dúvida de que teríamos abordado o filme de uma maneira bem diferente. Duvido que a tecnologia afetaria a história, mas a execução do filme seria diferente. Não tenho certeza se o faríamos em computação gráfica. Existem tantas possibilidades de cores e vida selvagem na África que o desenho a mão sempre pareceu mais propício.

Quais são, na sua opinião, as cenas que mais se beneficiaram com a conversão?

A música da abertura, "Ciclo sem Fim", ficou simplesmente incrível. Outra que também ficou ótima foi a do estouro da manada. Dá até vontade de se abaixar! O terceiro momento que me vem à mente agora é a cena na qual o fantasma de Mufasa aparece para Simba nas nuvens. Sempre foi um ornamento muito importante à história e o 3D deu à cena uma grandiosidade muito maior, deixando tudo ainda mais poderoso.

Em quais outros projetos você está trabalhando agora?

Estou trabalhando com Tim Burton em uma versão stop motion de Frankenweenie, um curta incrível dele. Também estou agindo como produtor-executivo em todos os filmes da Dinseynature, como African Cats e Chimpanzee, que chega aos cinemas estadunidenses no Dia da Terra [22 de abril] do ano que vem.

Tem mais algo a dizer?

Se você perguntar isso a qualquer outra pessoa que trabalhou em O Rei Leão, eles vão dizer que somos extremamente sortudos. Sortudos por fazermos parte de uma equipe de artistas que queriam expandir seus conhecimentos, de trabalhar em um estúdio que aprecia a arte com executivos brilhantes como [Jeffrey] Katzenberg, de termos diretores tão incríveis como Rob [Minkoff] e Roger [Allers], de termos a música de Hans Zimmer, Elton [John] e Tim [Rice] e de ter o legado que Walt Disney deixou. Uma história como essas é algo que aparece uma vez na vida e por alguma razão, permaneceu com o público por muito tempo. Passou nos cinemas, como musical na Broadway por mais de uma década e ainda mantém uma boa audiência. A chance de trazer esse filme de volta é incrivelmente emocionante para todos nós que tivemos a sorte de fazer parte da jornada de O Rei Leão nas telas e agora em 3D. É de uma imensa humildade e extremamente emocionante ao mesmo tempo.

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