Em Super-Tiras (Super troopers, 2001), de Jay Chandrasekhar, a piada se concentra na rixa entre o Departamento de Polícia e a Patrulha Rodoviária do Estado de Vermont, extremo Nordeste dos EUA. A estrutura da trama é clássica: os policiais, prepotentes, fazem o papel dos vilões; os patrulheiros, representados por cinco paspalhos, zoam a si mesmos, aos motoristas, e desonram seus cargos com orgulho - mas vivem esculachados pelos policiais.
E há o lado "dramático" do roteiro. O Governo de Vermont planeja reduzir gastos. Se os patrulheiros não mostrarem serviço, terão seu posto fechado. Quando surge um caso de tráfico de maconha, os trapalhões enxergam uma chance de vencer os policiais e manter o emprego.
O grupo de comediantes Broken Lizard, que dirige, roteiriza e ainda interpreta os Super-Tiras, não é muito conhecido do grande público. Mas o carisma inegável dos seus componentes e algumas piadas inspiradas garantem boas risadas. Preste atenção no ator "sério" Brian Cox, o capitão dos guardas rodoviários, em breve o novo vilão dos X-Men. Diante de tais descrições, não há muito o que dizer, além destas curiosidades - ficaria redundante explicar que o besteirol serve de diversão descompromissada, mas a escatologia pode incomodar os mais exigentes.
Acontece que Super-Tiras pode ser um grande objeto de uma análise mais profunda. Os comunicadores tratariam de "agenda-setting". Os sociólogos estudariam as "transformações culturais". Como? Basta comparar o filme com Loucademia de Polícia (Police academy, de Hugh Wilson, 1984), a óbvia fonte de referência e de inspiração.
Fica evidente como duas décadas podem transformar dois temas similares, com abordagens semelhantes, em produtos bem diferentes. Em 1984, a diversão maior ficava por conta do cadete negro que fazia sonoplastias absurdas. Agora, todo tipo de graça passa pela nojeira e pelo proibitivo - como um patrulheiro que agride atendentes de lanchonete e briga com estudantes do ônibus escolar. Naquela época, a questão sexual envolvia o mero fetiche por uma policial linha-dura. Hoje, vale sexo grupal com detentos e relações com animais. E a lista de comparações vai longe... Fica a sugestão aos acadêmicos.
Mas, se você apenas curte um filme com clichês trash por todos os lados, não pestaneje, assista sem maiores preocupações.
Ano: 2002
País: EUA
Classificação: 12 anos
Duração: 103 min
Direção: Jay Chandrasekhar
Roteiro: Jay Chandrasekhar, Kevin Heffernan, Paul Soter, Steve Lemme, Erik Stolhanske
Elenco: Jay Chandrasekhar, Steve Lemme, Kevin Heffernan, Paul Soter, Geoffrey Arend, Brian Cox, Erik Stolhanske, Marisa Coughlan