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Crítica

Tron: O Legado | Crítica

O Windows Vista da Sétima Arte

08.12.2010, às 19H43.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H12

Em 1982, Tron - Uma Odisséia Eletrônica (Tron) ousou empregar a computação gráfica de forma maciça em um longa-metragem. Tanques poligonais, motocicletas que deixavam rastros de luz e embates gladiatoriais em arenas digitais encheram a tela, enquanto trafegavam por esse mundo luminoso, o "Grid", personagens com figurinos fluorescentes, engajados em uma luta para derrubar o ditador Master Control.

25 anos se passaram e a técnica da CGI não é mais novidade faz tempo, deixando o Tron original como uma curiosidade histórica, cultuada por alguns fãs, mas esquecida - ou desconhecida - pela maioria das pessoas. Mas eis que a Walt Disney Pictures decidiu que chegou a hora de reinventar Tron, transformá-lo em franquia, e chamou para conduzir esse projeto, batizado Tron: O Legado, Joseph Kosinski, um diretor de curtas e comerciais sem experiência prévia no cinema (algo que lembra a trajetória do diretor do original, Steven Lisberger).

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A trama começa alguns anos depois dos eventos do primeiro filme, quando Kevin Flynn (Jeff Bridges), o bilionário dono da Encom, narra a seu filho de sete anos, Sam, suas fantásticas visões de futuro. O desaparecimento do pai, porém, gera uma mudança de poder e postura na direção da empresa. Mais 20 anos se passam e o rebelde Sam (Garrett Hedlund) ocupa seus dias lutando contra a própria companhia que herdou, até que surge uma pista sobre o paradeiro do pai... E ele é transportado ao mundo digital que o velho Flynn descobriu há tantos anos.

Como a revolução técnica de Tron foi o maior mérito do imaginativo filme oitentista, uma nova desculpa técnica era necessária para manter essa tradição, além das óbvias melhorias em qualidade visual e efeitos. Entra em cena Clu, personagem digital humano com papel de destaque e que divide as telas com os atores reais. Com o rosto que Jeff Bridges tinha na produção original, o vilão de Tron: O Legado causa uma certa estranheza inicial, mas logo se torna a prometida revolução técnica da produção. Ao final quase dá pra esquecer que trata-se de um construto.

Clu é o único rosto antigo da atualização milionária dos temas oitentistas. A reinvenção high tech retrô funciona perfeitamente bem na nova produção. O que era quadradão e opaco ganha transparências, níveis e texturas, uma evolução impressionante, mas esperada, e coerente com a temática. É o tipo de atualização estética que se acompanha em sistemas operacionais, por exemplo. O som também foi igualmente aprimorado, com a adição brilhante do duo francês Daft Punk à trilha sonora, fazendo (com direito a uma participação especial) um DJ set inspiradíssimo, um dos elementos mais empolgantes de Tron: O Legado.

Toda a perfumaria técnica-visual-sonora, porém, não salva a produção de problemas sérios de roteiro e edição dramática, prova da inexperiência do cineasta estreante. Faltaram aparas no texto, revisões de situações e diálogos, além de coerência narrativa. Personagens são mal-desenvolvidos, a começar pelo protagonista, Sam. Motivações são substituídas por outras, que se adequam melhor a determinadas necessidades do texto naquele momento. Péssimos diálogos são disparados. Personagens somem, outros aparecem e trocam inexplicavelmente de lado. Sem direcionamento, ficam questões demais no ar ao final - e poucas realmente mereciam existir, já que parecem ter sido criadas de maneira aleatória.

Em meio a todos os problemas do roteiro, os atores fazem o que podem. Olivia Wilde interpreta Quorra com enorme graça. Michael Sheen surta como o dono da boate "Fim da Linha", engatando referências cinematográficas de improviso. Jeff Bridges resgata em Kevin Flynn, o Robinson Crusoé digital, ecos zen-hippies de O Grande Lebowsky, papel fundamental na sua cinematografia. Já Garrett Hedlund... Esse surge como a próxima geração da canastrice, andando baloiçante, braços abertos no contra-luz, como se estivesse em um comercial de calça jeans dirigido por Michael Bay.

Fica a impressão ao final de que a continuação não deve ressuscitar franquia alguma. A intenção de realizar mais sequências fica escancaradamente óbvia, mas o reboot no sistema simplesmente merecia uma preocupação maior com a estabilidade do programa. Tron: O Legado é o Windows Vista da Sétima Arte, onde lamentavelmente não é possível fazer atualização via download.

Nota do Crítico
Bom
Tron - O Legado
Tron: Legacy
Tron - O Legado
Tron: Legacy

Ano: 2010

País: EUA

Classificação: 12 anos

Duração: 125 min

Direção: Joseph Kosinski

Elenco: Garrett Hedlund, Jeff Bridges, Olivia Wilde, Bruce Boxleitner, Yaya DaCosta, Serinda Swan, Beau Garrett, Elizabeth Mathis, James Frain, Amy Esterle, Brandon Jay McLaren, Michael Sheen, Owen Best, Michael Teigen, Daft Punk, Ron Selmour, Conrad Coates, Kis Yurij

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