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Cultura Pop no Brasil | Pavio aceso para o cinema de ação brasileiro

Realizador de comédias e de thriller de terror, Tomás Portella adentra um dos nichos mais polêmicos (e rentáveis, pelo menos lá fora) da indústria cinematográfica com Operações Especiais, filme com perfume de Tropa de Elite

16.09.2015, às 19H44.

Embora ponha o Capitão Nascimento no chinelo no quesito charme, Francis, policial vivida por Cleo Pires que mete o peito (e, com todo o respeito deste mundo, que peito!) na luta contra o crime, dá um aroma de Tropa de Elite a uma produção nacional com calda de adrenalina prevista para chegar às telas em 15 de outubro. O longa em questão se chama Operações Especiais e traz Cleo todo-poderosa na frente do cartaz, lançado há cerca de uma semana, para apresentar a personagem Francis à uma classe cinematográfica que ainda torce o nariz quando o assunto é filme de ação. O preconceito, praticado de dentro pra fora, a partir de um ranço (pseudo)intelectual de rejeição a produtos sabor pipoca que explorem a violência, tornou o gênero uma empreitada rara no nosso cinema. Mas diretores como Tomás Portella, que dirigiu a filha de Glória Pires no sucesso Qualquer Gato Vira-lata (2011), estão com fôlego e determinação para mudar essa realidade.

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Para construir uma narrativa original buscamos referências fora dos filmes de ação tradicionais que trabalham com o conceito de ‘ação e reação’. Buscamos uma forma de trazer tudo para um universo mais pessoal, de acompanhar nossos heróis muito de perto e humanizar nossa protagonista”, explica Portella. “Francis, a personagem da Cleo, é uma mulher de carne e osso, não uma super-heroína bem preparada e sem medo. Filmes como O Silêncio dos InocentesOs Intocáveis, Erin Brockovich e nossa maior referencia nacional em ação, Tropa de Elite, serviram em diferentes pontos como inspiração para o caminho encontrado no filme. 

Realizador do thriller de horror Isolados (2014), Portella está acostumado a transitar por gêneros variados, tendo dirigido ainda uma comédia romântica ainda inédita, chamada Desculpe o Transtorno, com Gregório Duvivier. Com um repertório narrativo variado, ele tenta esculpir uma espécie de ensaio sobre honestidade em Operações Especiais, preocupado em conceber um espetáculo tenso o suficiente para eletrizar plateias. Na trama, Francis não suporta mais a burocracia que emperra a Justiça na fictícia cidade de São Judas do Livramento, no interior do Rio de Janeiro. Em busca de um caminho oposto à bandidagem, ela se junta a um pelotão de agentes da lei incorruptíveis, comandados pelo delegado Paulo Fróes (Marcos Caruso). Mas sua missão não será das mais simples.

No Brasil é mais difícil identificarmos nossos heróis pela quantidade de problemas que temos. ‘Bad news is good news’, diz a imprensa internacional. Nossos exemplos de heroísmo ficam encobertos pela quantidade de noticias ruins. Na pesquisa para esse filme, tivemos um convívio intenso com inúmeros policiais civis do Rio de Janeiro e encontramos muitos casos de heroísmo e de agentes que fazem um trabalho sério e dedicado”, explica Portella, que trabalhou como assistente de direção em sucessos como Lisbela e o Prisioneiro (2003) e Meu Nome Não é Johnny (2008).

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Segundo o diretor, Francis é uma mulher comum. “Ela se difere bastante do herói clássico dos filmes de ação, porque não tem um motivo nobre para entrar na polícia nem possui super-habilidades. Francis é uma pessoa comum que acaba entrando num universo muito longe do seu e que tem de se adaptar e recriar seus próprios conceitos de vida e honestidade”, diz Portella, que incluiu no elenco, ao lado de Cleo, talentos como Fabrício Boliveira, Fabiula Nascimento e Antonio Tabet.

Fora Operações Especiais, a seleta nacional de thrillers de ação que estão a caminho inclui ainda Em Nome da Lei, de Sérgio Rezende, com Mateus Solano, e Reza a Lenda, de Homero Olivetto, com Cauã Reymond. O cardápio é de fazer salivar pela diversidade, mas realizadores como Portella sabem que variedade não é tudo neste país. Ainda...

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A realidade que eu vivo no cinema brasileiro depende muito do gênero do filme que estou fazendo e do que o projeto procura. A realidade da comédia e de seus subgêneros é muito diferente do resto. Fazer cinema é caro e o retorno financeiro da comedia facilita muito todo o processo de produção e lançamento. Aliás, facilita em alguns casos um pouco demais. Já nos outros gêneros, a coisa é diferente. Hoje não basta ter um excelente filme de suspense para fazer uma grande bilheteria, aí esta o maravilhoso O Lobo Atrás da Porta [um sucesso de crítica, premiado no mundo todo, que não entrou para o clube dos blockbusters apesar do boca a boca positivo ao seu redor] para provar”, diz Portella. “Potencial para agradar em diferentes frentes o cinema brasileiro tem. Mas precisamos de mais iniciativas pioneiras e ousadas, pois o mercado está acostumado a copiar modelos de sucesso. Quando um suspense nacional fizer um milhão de espectadores na venda de ingressos talvez o mercado passe a investir nesse gênero o suficiente para que ele alcance mais gente”.

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Mickey Rourke vem ao Brasil

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Fã de MMA, boxe e lutas em geral, o astro de O Lutador (2008) está cotado para protagonizar um filme sobre o circuito de UFC a ser filmado parte nos EUA, parte no Brasil. A equipe de produção já sondou locações em São Paulo e, agora, prospecta cenários no Rio de Janeiro. O longa-metragem vai se chamar Falcon e a direção é do alemão Josef Rusnak, realizador um cult do cinema sci-fi: 13º Andar (1999).  

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Neville em estado de graça

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Enfim, depois de muita enrolação, o Festival do Rio 2014 (1 a 14 de outubro) reservou uma vaga de honra em sua Première Brasil para um dos títulos nacionais mais cercados de expectativa entre todos os lançamentos do ano: A Frente Fria Que a Chuva Traz. Adaptado da peça teatral homônima do paranaense Mario Bortolotto, o longa-metragem marca a volta do cineasta mineiro às ficções em tela grande depois de uma ausência de 18 anos – período no qual ele se dedicou às artes plásticas e a documentários. Com produção assinada por Marcelo Ludwig Maia, da República Pureza (a mesma de Faroeste Caboclo), o novo filme do diretor de Os Sete Gatinhos (1980) faz um ensaio cruel (e sensualíssimo) sobre exclusões sociais. Na trama, jovens de alta classe média do Rio de Janeiro (vividos por estrelas da TV como Chay Suede e Johnny Massaro) promovem festas no topo de uma laje numa favela da Zona Sul carioca, administrada por Gru (Flávio Bauraqui). Mas uma mudança climática vai ser o estopim de um conflito entre os festeiros, Vítor, o cantor de pagode Raposão (Michel Melamede) e a garota de programa Amsterdam (Bruna Linzmeyer). Com um ritmo feérico, capaz de sufocar, sua narrativa – de um requinte plástico singular em sua fotografia – mostra um Neville de Almeida em seu apogeu como realizador. “Estamos tratando da assombrosa temática da falta de perspectiva ética e da ausência de bom senso por parte da classe média, aquela classe que cafetina as favelas atrás de diversão”, diz o cineasta, responsável por blockubusters como A Dama do Lotação, visto por 7 milhões de pagantes em 1978.   

Que a Força esteja com Camille Paglia

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Já que o assunto são transgressores, uma especialista em demistificar dogmas morais, a crítica de arte americana Camille Paglia cita o criador de Han Solo e dos Jedis em um de seus livros mais recentes a chegar ao mercado literário brasileiro: Imagens Cintilantes – Uma Viagem Através da Arte Desde o Egito Até Star Wars. Segundo a ensaísta de 68 anos, conhecida como “antifeminista profissional” em seu trabalho como acadêmica: “Ninguém reduziu a distância que separava a arte da tecnologia com mais êxito do que George Lucas”, escreve Camille na publicação, que sai aqui pela editora Apicuri e é leitura imperdível para cinéfilos da linha cabeça.

Um Mimo a mais

Chamado originalmente de Mostra Internacional de Música de Olinda, o maior festival de sonoridades instrumentais do país, autoproclamado apenas MIMO, também abre espaço generoso para filmes em sua programação, que tem início em Paraty, nos dias 2 e 3 de outubro. Entre as atrações deste ano estão os documentários Eu Sou Carlos Imperial, dirigido por Renato Terra e Ricardo CalilMy Name Is Now, Elza Soares, de Elizabete Martins Campos, e Xingu Cariri Caruaru Carioca, de Beth Formaginni, que será exibido pela primeira vez no Brasil. O festival será realizado ainda no Rio e em solo olindense em novembro.  

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A hora e a vez de Samantha

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A sinopse do longa-metragem brasileiro Tô Ryca é muito parecida com a do cult Chuva de Milhões (1985), com Richard Pryor (1940-2005): “Pessoa pobre de marré precisa gastar uma fortuna em um mês a fim de ganhar uma herança”. Mas como a pessoa em questão é a comediante Samantha Schmutz - um sinônimo vivo de riso frouxo nos palcos e na TV – essa premissa nos chega com cheiro de novidade, graças a especiarias da picardia brasileira. Samantha vive Selminha, uma frentista incumbida da tarefa de gastar R$ 30 milhões em 30 dias. Sob a direção de Pedro Antonio, o longa estreia em janeiro.   

Canosa na regência

Tímpanos em alerta: o melhor da música composta especialmente para a telona tem um lugar cativo, todas as quintas-feiras, na Rádio MEC FM RJ (99,3Hz). Seu lar é o programa Kinoscope, que ouvinte não cariocas podem ser acessar também via http://radios.ebc.com.br/mecfmrio. A curadoria fica a cargo do pesquisador que, nos anos 1970 e 80, levou o melhor do cinema brasileiro para os EUA: o exibidor e locutor Fabiano Canosa. Programador do Public Theatre, em Nova York, ele exportou o que havia de mais autoral na nossa produção audiovisual para os americanos. Agora, em sua militância radiofônica, Canosa luta para manter viva a apreciação das trilhas sonoras. “Em muitos casos, o cinema de mercado, para dar a seus filmes um toque de contemporaneidade, lança mão de músicas que se encontram nas estações AM, para popularizar seus filmes. Ademais, as orquestras têm custo e produtores desavisados preferem excluir do orçamento de seus filmes, a composição de música original, o que tanto realça a atmosfera dos longas.Porém, os blockbusters aprenderam a lição e combinam musica eletrônica com orquestral e seus orçamentos mais generosos conseguem incluir melodias dos discípulos de mestres como Max Steiner ou Bernard Herrmann, da Era de Ouro do cinema, com partituras de John Williams, Howard Shore ou Danny Elfman. Temos hoje, sobretudo, Alexandre Desplat, entre os compositores mais sólidos da atualidade, que se adaptam aos tempos e ao mood dos filmes aos quais emprestam seus talentos. É o caso de Marco BeltramiAlan SilvestriGustavo SantaolallaJorge Drexler e, aqui no Brasil, Plínio Profeta,Wagner Tiso e Francis Hime”, diz Canosa. Nesta quinta, ele apresenta uma coletânea de composições de Maurice Jarre (1924-2009) em sucessos como Nas Montanhas dos Gorilas (1988).

Mais sons ao redor

Uma das cabeças mais inquietantes do cinema pernambucano na atualidade, Kleber Mendonça Filho, diretor do sacrossanto O Som ao Redor (2012), termina esta semana as filmagens de seu novo longa-metragem: Aquarius. O realizador conseguiu o feito de ter Sonia Braga, musa maior do audiovisual brasileiro nos anos 1970 e 80, como sua protagonista. Na trama, ela interpreta uma crítica de música aposentada que tem o dom de viajar no tempo.   

Uivando de novo

Consagrado no Brasil e no exterior com O Lobo Atrás da Porta (2013) e já envolvido em um projeto de longa-metragem estrangeiro a ser rodado na Jordânia, o cineasta paulista Fernando Coimbra terminou seus compromissos ao lado de José Padilha na série Narcos com fome de Brasil. Seu próximo longa-metragem de DNA brasileiro será Os Enforcados, cujo roteiro já está em andamento, para ser produzido pelos irmãos Caio Fabiano Gullane, os mesmos de Que Horas Ela Volta?, o sucesso da hora. “Será um filme sobre um casal que comete um crime junto e vê toda a sua confiança ruir e se transformar em pura paranoia. É um filme sobre a corrupção”, explica Coimbra.

Se o assunto são roteiros novos...

...o diretor Daniel Ribeiro, responsável pelo aclamado Hoje Eu Quero Voltar Sozinho (visto por 206 mil pagantes em 2014, para a alegria do mercado exibidor), está no rascunho de um longa-metragem novo. O título ainda não foi definido, mas se trata de uma trama sobre um transsexual. 

E já que falamos de Que Horas Ela Volta?...

Visto por quase 150 mil espectadores nos cinemas brasileiros, o aclamado longa-metragem de Anna Muylaert, com Regina Casé de empregada doméstica, está começando sua expansão por territórios hispano-americanos. O filme acaba de ser vendido para a Argentina, o Chile, o Paraguai e o Uruguai. “Furamos um bloqueio, pois, no começo da nossa carreira, havia uma história de que os latinos, apesar da proximidade com a nossa realidade, não se interessaram pelo filme”, orgulha-se Anna, que já exportou sua comovente trama sobre maternidade/ luta de classes também para a Ásia, via Taiwan e Coreia.

Poema bélico

Respeitado como sendo um dos mestres do cinema de invenção no Brasil em função de cults como A$$untina das Amérikas (1975) e Crônica de um Industrial (1978), Luiz Rosemberg Filho está às voltas agora com a montagem de um longa-metragem zero km, já rodadinho e azeitado para estrear: A Guerra do Paraguai. A trama resgata um dos episódios mais violentos da História da América do Sul sob um olhar poético, a fim de discutir a imoralidade dos conflitos armados. O ator Chico Diaz interpreta um índio paraguaio na produção, cujo elenco reúne ainda Alexandre DacostaAna Abbott e Patrícia Niedermeier. “O personagem central do filme é o tempo e, a partir dele, há uma discussão sobre como é possível comemorar vitória num conflito em que milhares são massacrados”, diz Rosemberg, que lançou este ano Dois Casamentos, encerrando um jejum de 37 anos longe das telas.  

Acerca de regressos às salas de exibição...

Produtor do supracitado A Guerra do ParaguaiCavi Borges vai encerrar outro hiato notório do nosso cinema. Ele vai produzir o primeiro longa que José Sette Barros (de Um Filme 100% Brasileiro) roda depois de 20 anos de ausência do cinema. O projeto se chama Quebranto e se trama de uma trama futurista baseada na obra literária do irlandês James Joyce (1882-1941). Otávio Terceiro Helena Ignez estão no elenco.

CURTA ESSA

Tempos Idos, de Maurício Rizzo: Destaque da programação do 22º Festival de Vitória, encerrado nesta quarta-feira, esta produção de 15 minutos se impõe pela doçura com que aborda a perenidade de uma história de amor, apoiado em um elenco magistral. A produção, pilotada pelo ator e também roteirista Maurício Rizzo, um dos autores do humorístico Tá No Ar, é estrelada por Louise CardosoRogério Fróes e Maria Pompeu. Na trama, uma mulher investiga o passado dos pais, um casal de terceira idade que viveu momentos turbulentos à sombra de uma traição.

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*Com DNA luso-pop-suburbano carioca, Rodrigo Fonseca é crítico de cinema, roteirista e professor de história das narrativas audiovisuais, com dupla cidadania na Terra-Média de Tolkien, e nos rincões da Atlântida de Aquaman. Michel Gondry é o seu Godard e a pornochanchada, a sua alegria nas horas de solidão.

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