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Cultura Pop no Brasil | Um judoca vira faixa preta na arte de filmar

Cavi Borges agita o cinema brasileiro produzindo novatos e veteranos

21.07.2016, às 14H58.

É difícil encontrar alguma produtora no Brasil que tenha tantos projetos de longa-metragem de médio, baixo e até de baixíssimo orçamento em andamento quanto a Cavídeo, um canteiro de criação derivado de uma locadora de DVDs (a mais disputada do Rio de Janeiro até hoje), cujo idealizador veio das artes marciais: o ex-judoca e cineasta Carlos Vinícius Borges, o Cavi. A lista de filmes que ele tem para desovar nas telas nos próximos meses beira 20 títulos, incluindo exercícios de veteranos das telas como Sergio Ricardo (Bandeira de Retalhos), José Sette Barros (Quebranto) e Luiz Carlos Lacerda (Murilo & LúcioLúcio & Murilo - O Que Seria Deste Mundo Sem Paixão?), ou de novos talentos feito Taciano Valério (Giga) e Rodrigo Guéron (Barra Amor/ Barra Ódio). 

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Venho mantendo uma média de dez filmes por anos”, orgulha-se Cavi, que foi da Seleção Brasileira de Judô dos 17 aos 24 anos, tendo sido campeão sul-americano em 1996. “Fui campeão estadual pelo Rio de Janeiro 16 vezes. Fui campeão brasileiro quatro vezes. Até o Flávio Canto eu enfrentei. Tenho mais de 300 medalhas em casa. Um dia, eu derreto tudo e uso o ouro para fazer um filme”. 

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Seu cardápio é variado, inclusive entre os estreantes de luxo que abraça nos sets. Um dos mais aclamados atores brasileiros da atualidade, Chico Diaz, chamou Cavi para produzir seu primeiro filme como diretor: uma adaptação do livro A Lua Vem da Ásia, de Campos de Carvalho. O mesmo fez o cronista e diretor teatral Marcus Vinícius Faustini. Procurou o mestre do judô para viabilizar seu longa de estreia na ficção: Vende-se uma Moto. O crítico Mario Abbade não teve dúvidas ao buscar uma cabeça pensante que pudesse ajudá-lo na execução do documentário Neville D’Almeida – Cronista da Beleza e do Caos: Cavi era o cara.

Tenho tocado em paralelo um projeto de relançar em DVD a obra completa de grandes diretores nacionais, como Maurice Capovilla e Jairo Ferreira, por exemplo. Estamos recuperando filmes que foram rodados em película e passando para o formato digital”, diz o diretor, que esteve no Festival de Cannes, em 2010, concorrendo na Semana da Crítica com o curta-metragem A Distração de Ivan, codirigido por Gustavo Melo. “Já estamos preparando uma versão longa deste filme”.

Neste momento, como diretor, ele está filmando Heróis, um documentário sobre dois refugiados africanos, do Congo, que vão participar das Olimpíadas. É um filme integrante de uma série documental da Casa de Cinema de Porto Alegre chamado A Olimpíada Passou por Aqui. Realiza ainda um projeto misturando vídeo, dança e cinema chamado Salto no Vazio, em parceria com sua mulher, a atriz Patrícia Niedermeier.

Eu luto pra manter vivo um cinema de paixão, onde sinta-se a visão de mundo na qual um diretor acredita, independentemente do que o mercado quer”, diz Cavi, que já dirigiu 30 filmes e já produziu quase 200, ao longo de 20 anos dedicado ao cinema. “O que me interessa é o tesão de filmar”.

Para fazer justiça a essa história de amor pelas telas, o Cine Joia, templo de resistência de cinéfila em Copacabana, no Rio de Janeiro, promove desta quinta até o dia 27 de julho a mostra Semana Cavídeo, dedicada ao acervo de Cavi. Serão exibidos longas como Casa 9, de Luiz Carlos LacerdaParaíso, Aqui Vou Eude Walter Daguerre, e Dois Casamentosde Luiz Rosemberg Filho. Este último, um mestre da estética de invenção nos anos 1970, ficou anos sem visibilidade em circuito ou mesmo em festivais até firmar uma parceria com o judoca. Juntos, eles tiraram do papel uma vigorosa experiência narrativa chamada Guerra do Paraguai, recebida como um acontecimento autoral no último Cine PE, o festival de Recife, em maio, de onde saiu com o prêmio da crítica. E os dois já estão fazendo um novo filme: Cinema Pornô.

Acredito no cinema independente, que gosta do que faz. Comecei filmando com diretores de periferia, quase sempre egressos de favelas. E agora, o leque está abrindo, trazendo nomes de diferentes gerações. Tenho buscado parceria também com diretores de outros estados e quero também filmes de outros países. Se esses projetos vão dar bilheteria ou não, isso é uma consequência. E torço para que isso acontece. Mas o mais importante é filmar aquilo que está no nosso desejo”, diz Cavi. “A questão é seguir em frente, sempre fazendo, fazendo e fazendo”.    

O Oscar da Latinidade

Muso nº 1 da Argentina nas telas, Ricardo Darín vai ser homenageado no Uruguai, neste domingo, com uma láurea especial pelo conjunto de sua carreira dada em uma premiação que se candidata ao posto de Oscar Ibero-americano: o prêmio Platino. Há hoje galardões de peso capazes de celebrar a força da América Latina nas telas, como o prêmio Fênix ou mesmo o Grande Prêmio do Cinema Brasileiro, com seu troféu Oscarito. Mas os Platinos chegam não apenas para expandir a celebração da força estética audiovisual do continente como também para incentivar uma integração de toda a indústria de língua espanhola e portuguesa das nações ibéricas, do Brasil e das pátrias hispânicas das Américas: são, ao todo,  23 países reunidos em um projeto cinematográfico comum. Fruto de uma sinergia entre a Entidade de Gestão de Direitos dos Produtores Audiovisuais (EGEDA) e a Federação Ibero-americana de Produtores Cinematográficos e Audiovisuais (FIPCA), a cerimônia já está em sua terceira edição, que será realizado no Centro de Convenções de Punta del Este, tendo o colombiano O Abraço da Serpente, de Ciro Guerra, e o guatemalteco Ixcanul, de Jayro Bustamante, como campeões de indicações. São 13 categorias ao todo e ambos concorrem em oito frentes cada. 

Além dos dois, concorrem na categoria principal, a de melhor filme, os longas: O Clã, de Pablo Trapero (Argentina); O Clube, de Pablo Larraín (Chile); eTruman, de Cesc Gay (Espanha). O Brasil só aparece como coprodutor do argentino Paulina, de Santiago Mitre, indicado aos prêmios de melhor atriz (Dolores Fonzi) e som. Darín concorre como melhor ator por Truman, mas já garantiu para si um troféu-tributo em honra de suas glórias cinematográficas do passado.

Além dos dois, concorrem na categoria principal, a de melhor filme, os longas: O Clã, de Pablo Trapero (Argentina); O Clube, de Pablo Larraín (Chile); e Truman, de Cesc Gay (Espanha). O Brasil só aparece como coprodutor do argentino Paulina, de Santiago Mitre, indicado aos prêmios de melhor atriz (Dolores Fonzi) e som. Darín concorre como melhor ator por Truman, mas já garantiu para si um troféu-tributo em honra de suas glórias cinematográficas do passado.

Munição renovada

Realizador dos premiados Colegas (2012) e A Despedida (2014), o cineasta Marcelo Galvão vai adentrar as veredas da violência com O Matador, um faroeste no Nordeste. Na trama, um homem criado na caatinga, isolado de tudo e de todos, resolve ira atrás de seu pai e, na jornada, vai parar em uma cidade sem lei, onde, para sobreviver, ele tem de pegar em armas, tornando-se um assassino infalível. As filmagems começam no dia 4 de agosto. O português Diogo Morgado é o protagonista e sua conterrânea Maria de Medeiros, que foi a namorada de Bruce Willis em Pulp Fiction (1994), também vai estar no elenco. A trupe de atores inclui ainda Mel LisboaPaulo GorgulhoMarat DescartesDaniela Galli Igor Cotrim.

Esportes.Doc

Dois documentários sobre esportes, coproduzidos pela GloboNews e Globo Filmes,  serão exibidos no mais popular canal a cabo de notícias do país em sintonia com o calendário olímpico: A Corrida do Doping e Miller & Fried: As Origens do País do Futebol. O primeiro, dirigido por Paulo Markun e realizado em parceria com o documentarista francês Xavier Deleu, terá exibição na Globo News no sábado que antecede o início dos jogos, 30 de julho, às 20h30m, e debate com atletas e especialistas se as competições sediadas no Rio de Janeiro em 2016 serão as mais  limpas ou mais sujas da história. O longa reúne depoimentos como o da esportista russa Yulyia Stepanova, que, junto com o marido, denunciou o uso sistemático de produtos proibidos entre os atletas do seu país.

 Já Miller & Fried: As Origens do País do Futebol estará na programação da Globo News no dia da final olímpica do futebol masculino, 20 de agosto, às 20h30m. O documentário de Luiz Ferraz, resgata a origem do futebol no Brasil a partir das histórias de dois ícones: Charles Miller e Arthur Friedenreich. O filme mostra como o futebol chegou e se organizou por aqui, caindo no gosto popular no país. Reúne imagens raras e dos primeiros times do Brasil, como o Germânia (atual Esporte Clube Pinheiros), Paulistano e SPAC, e também depoimentos dos biógrafos de Miller e Fried,  John Mills e Luiz Carlos Duarte, respectivamente, de Carlos Miller Neto, neto de Charles Miller, e dos jornalistas Celso Unzelte, Paulo Vinícius Coelho e Marcelo Duarte nos trazendo dados e curiosidades sobre esse início do futebol no Brasil.

Flashes de Murilo

Há uma indústria de mostras cinematográficas em plena atividade hoje nos centros culturais brasileiros e, entre as ofertas do ano deste terreno das retrospectivas, há uma atração obrigatória chegando ao Rio de Janeiro, nas telas da Caixa Cultural: O Cinema de Murilo Salles – O Brasil em Cada Plano. É uma chance rara para as novas (e, sobretudo, as novíssimas) gerações conferirem a carreira do mais suicida (em termos da coragem de correr riscos em prol da imagem) de todos os diretores brasileiros que estrearam em longa metragem na década de 1980. Em cartaz até o dia 31 deste mês, o evento exibe neste domingo, dia 24, o trabalho mais pop do cineasta: o premiado Nome Próprio, de 2007, ganhador do Kikito de melhor filme em Gramado.

CURTA ESSA:

Castillo y El Armado, de Pedro Harres: Nesta sexta-feira, dia 22, ao meio-dia, e neste domingo, dia 24, às 8h20m da matina, o Canal Brasil exibe uma das mais premiadas animações de DNA brasileiro dos últimos anos. Falado em espanhol, este curta iniciou sua carreira internacional pelo Festival de Veneza de 2014 e saiu papando prêmios pelo mundo a partir de então. Com uma direção de arte estonteante, que flerta com o horror, a trama acompanha a rotina de um estivador de cais do porto que, um dia, cansado de suportar as carências de sua família, fisga um exótico peixe. 

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