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CCXP | Sean Gordon Murphy fala sobre a polêmica de Punk Rock Jesus

Com uma garrafa da cachaça, quadrinista também falou sobre trabalhos com Mark Millar e Scott Snyder

06.12.2014, às 21H11.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H35

Na sexta-feira de CCXP - Comic Con ExperienceSean Gordon Murphy chegou ao palquinho do Auditório Ultra acompanhado de uma garrafa de cachaça. "Acabei de ganhar isso de um cara ali fora. Se vocês não se importarem, vou tomar agora. Espero que tenha pra todo mundo."

O artista de Joe O BárbaroVampiro Americano: Seleção Natural, Hellblazer: Cidade dos Demônios e outros trabalhos continuou à vontade ao longo da apresentação. Começou agradecendo pelo convite ao Brasil e disse que tinha ouvido falar em boicotes a sua Punk Rock Jesus por aqui. "Mas não sei se foi verdade. Procurei na internet e não achei nada. O Brasil é uma república, um país livre, então imagino que vocês não boicotem literatura".

Punk Rock Jesus

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Nos EUA a HQ sobre a segunda vinda de Jesus - que vira ídolo pop, de mohawk verde - sofreu ataques. "Não sei o quantos vocês conhecem da religiosidade no meu país. Lá eu sou chamado de 'católico em recuperação'. Já expliquei em outros lugares como foi minha história de vida com a religião. Fui criado em família católica, tentei viver sem religião por um mês e acabei nunca olhando para trás. Mas tenho esposa e família religiosas."

Murphy contou que sofreu muitas represálias pela série nos EUA. "Perdi muitos leitores só por conta da capa. Recebi emails de gente dizendo que eu não entendia o amor de Cristo, que precisava ler a Bíblia." Nas convenções em que ele participa, a HQ polêmica já provocou discussões várias vezes. "Eu consigo sacar na hora o quanto a pessoa é religiosa, e raramente eu não consigo me conectar com ela. Pouquíssimas vezes eu tive que dizer 'olha, desculpa, eu não acredito no que você acredita. Se você for contra ciência, contra direitos dos gays, a gente pode se desentender.'" E brincou: "A maioria dos artistas leva crítica do tipo 'você desenhou errado a capa do Superman!'. Eu tomo 'você vai arder no inferno!'"

O mediador Levi Trindade perguntou sobre as principais influências de Murphy: "Jorge Zaffino, Sergio Toppi e Bill Watterson". Quanto à trajetória de carreira, Murphy falou da sorte de ter pais que apoiaram seu talento e pagaram seus estudos, assim como no plano de fazer o maior número de amizades possível na indústria de quadrinhos. "Na minha primeira convenção, quando ainda estava na faculdade, entendi como se entra nos quadrinhos. Meu objetivo foi fazer o maior número de amizades entre profissionais, persistir e continuar trabalhando. E esperar a sorte. No começo não foi fácil, mas aí por 2007 eu tive algum sucesso".

O artista mencionou o convite de Grant Morrison para desenhar Joe o Bárbaro como grande oportunidade. Outra foi sua amizade com Scott Snyder - que pouco depois apareceu no painel para acompanhar Murphy no palco e na cachaça.

Snyder: "O Sean é uma pessoa que te inspira assim que você o conhece. Ele tá sempre se desafiando. The Wake, por exemplo, é um trabalho que eu não pensei em fazer com outro artista que não ele." Na minissérie, que este ano ganhou um Prêmio Eisner (e, segundo a Panini, sai entre fevereiro e março no Brasil), os dois trabalharam com um método improvisado: Snyder entregou o início do roteiro, Murphy acrescentava cenas que não estavam no script, Snyder improvisava diálogos e trama a partir dos desenhos... "Foi uma das HQs mais desafiadoras que eu já fiz. E era pra ser", disse o desenhista.

Nos trabalhos em que está envolvido agora, ele diz que o esquema é outro. "Mark Millar me diz que tem que ser aquilo que está no roteiro e eu não posso mexer" - ele e o roteirista escocês estão trabalhando em Chrononauts. Murphy diz que está com agenda quase cheia para os próximos dois anos com este projeto e com Tokyo Ghost, com o escritor Rick Remender.

Mas não totalmente cheia. Murphy tem planos para uma continuação de Punk Rock Jesus - "estou esperando a hora certa, com a editora certa" - e trabalhos com um personagem icônico - "vou continuar enchendo o saco desse cara aqui pra fazer mais Batman", apontando para Snyder.

Os dois disseram que o momento atual é sem precedentes na história dos quadrinhos, principalmente com o apoio das fãs a HQs e autores pouco convencionais como no material autoral que sai pela Image Comics. Seria o melhor momento para quem quer entrar na indústria de quadrinhos. E a própria DC Comics, segundo os dois, está mudando em função disso. "Estamos vendo as coisas mudarem por lá, cuidando o cenário para saber a hora certa de atacar", concluiu Murphy.

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