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Notícia

Casablanca - 70 anos

Aula de roteiro, um dos maiores clássicos do cinema envelhece com saúde

26.11.2012, às 12H00.
Atualizada em 10.11.2016, ÀS 20H02

Em 26 de novembro de 1942, Casablanca teve sua primeira sessão pública, no Hollywood Theater, um cinema para 1.500 pessoas em Nova York, estranhamente dois meses antes da estreia oficial, em 23 de janeiro de 1943. A premiére fora antecipada para coincidir com o dia em que os Aliados - reforçados pelos EUA, que aderiram à Segunda Guerra semanas antes - invadiram o Norte da África e tomaram do Eixo a cidade estratégica de Casablanca.

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Havia, portanto, uma preocupação em privilegiar o conflito global como um ponto de interesse do filme; vários figurantes eram exilados de guerra e o próprio diretor Michael Curtiz, húngaro de origem judaica, emigrara aos EUA nos anos 1920. Se hoje, setenta anos depois, Casablanca é mais conhecido como uma fórmula ideal de drama, suspense, romance e comédia, do que propriamente como um filme de guerra, é porque Curtiz faz da história de Rick, Ilsa e Victor um elogio ao poder do cinema hollywoodiano de gênero.

O roteiro de Howard Koch e dos irmãos Julius J. Epstein e Philip G. Epstein - com revisão não creditada de Casey Robinson - é estudado até hoje por aspirantes a cineastas porque tem um equilíbrio raro entre elementos opostos: os tempos fortes versus os momentos de instrospecção, os diálogos graves sucedidos por alívios cômicos, as falas expositivas emendadas por comentários críticos sobre essas mesmas falas (quase sempre vindos de Louis Renault, um coro grego inteiro contido num personagem só). No choque, esses elementos opostos se neutralizam, por isso Casablanca parece tão harmônico e, na prática, tão fácil de assistir.

Depois de 70 anos, Casablanca não só envelhece com saúde como parece ter nesse seu traço fundamental, o paratexto, uma antecipação do pós-modernismo: é um filme plenamente consciente dos seus artifícios e que encontra, também no texto, maneiras de evidenciar essa própria artificialidade - para transformá-la em algo sincero ou pelo menos original. É um filme feito de estereótipos, por exemplo (o barman é russo, o contador é judeu, o músico é negro), e ao mesmo tempo ironiza essa tipificação, como na cena em que Louis, policial corrupto e estereótipo do francês entreguista, diz em voz alta que vai forjar o relatório da morte de Ugarte, pra quem quiser ouvir.

Nesse sentido, talvez seja o filme hollywoodiano que melhor lida com a consciência do clichê - esse "mal" incompreendido. Dá pra dizer que todas essas estratégias de autorreferência já existiam antes no teatro farsesco, mas é Casablanca que as combina à perfeição, numa cascata de frases de efeito jamais superada. O fato de a mais famosa delas - "Play it again, Sam" - nunca ser dita no filme é um reflexo de como o texto de Casablanca parece ganhar vida quase que espontaneamente.

A Warner Bros., e não seria diferente, aproveita como pode a longevidade de Casablanca; só os filmes de Stanley Kubrick foram tão relançados pelo estúdio quanto o clássico de 1942. Para celebrar este aniversário, fez-se em 2012 uma nova transferência do negativo original. O Blu-ray é menos lavado que a versão "Ultimate" de 2008, mas ainda assim a granulação é um pouco irregular: às vezes a imagem vem embaçada, e em um ou outro close-up o rosto de Ingrid Bergman parece "formigar" com os grãos ressaltados digitalmente. Ainda assim, a de 70 anos, que traz os mesmos extras da versão de 2008, é a melhor edição em alta definição do filme até hoje.

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