2022 em multiversos


O ano que passou fez a alegria dos fãs de cultura pop em todos os multiversos possíveis; relembre os destaques

A Cozinha

2022 está acabando, e não dá para negar que este foi um grande ano para a cultura pop:

voltamos ao cinema com grandes fenômenos; a TV e o streaming nos brindaram com grandes produções, e enquanto os shows foram retomados com toda força, grandes artistas da música também trouxeram álbuns aguardados – e isso sem nem falar das HQs e dos animes, que também deram muitos presentes para os fãs.

A seguir, recordamos como foi o ano que passou em cada um desses multiversos. Relembre com a gente, e até 2023!

FILMES

Por Julia Sabbaga

Se 2022 começou com um marco na história do Oscar - uma premiação que deu o principal prêmio da noite para um lançamento de streaming (CODA - No Ritmo do Coração) - o nosso ano que agora chega ao fim foi inevitavelmente marcado pelo comeback às salas de cinema. Nada deixou isso mais claro do que o blockbuster do ano, Top Gun: Maverick. Depois da insistência pelo lançamento em cinemas - com diversas ofertas de streaming sendo recusadas pelo astro e produtor Tom Cruise - a sequência do filme de 1986 fechou 2022 como o maior arrecadador do ano, com US$ 1,4 bilhão nas bilheterias mundiais.

E quando se fala em blockbusters é fácil já pular para dezembro, quando finalmente recebemos a esperada sequência de Avatar, e apesar de James Cameron e sua ambição terem dominado as manchetes por todo 2022, este também foi o ano em que o MCU se tornou a primeira franquia a ultrapassar os US$ 26 bilhões de renda acumulada, com os lançamentos de Doutor Estranho no Multiverso da Loucura, Thor: Amor e Trovão e Pantera Negra: Wakanda Para Sempre. A série de filmes da Marvel e sua performance nas bilheterias (bem atrás de Top Gun) no entanto, já exemplifica um novo mundo, em que o MCU se divide entre lançamentos em telona e telinha.

Nesse contexto, com a DC começando o ano com o aclamado Batman e fechando 2022 com Adão Negro e um reset absoluto no curso de seus heróis nas telas, foi a vez de um outro multiverso brilhar: Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo, um filme absolutamente fora da caixinha, brincou com a estrutura de filmes de herói para entregar algo inédito, que acabou quebrando os recordes de arrecadação da A24. Ao seu lado, outros filmes épicos originais também marcaram o ano por seus desempenhos na crítica e na bilheteria, como RRR, o filme indiano mais caro da história, e A Mulher Rei, uma fantasia misturada com realidade e emoção de sobra.

E enquanto as grandes arrecadações do ano seguem como grandes filmes de ação - o top 3 de 2022 é formado por Top Gun, Jurassic World: Domínio e Doutor Estranho 2 - tivemos um gênero que não apenas surpreendeu em performance como dominou as salas, persistentemente chamando o público aos cinemas durante o ano inteiro. O terror de 2022 não apenas entregou o retorno de franquias - o novo Pânico foi uma das primeiras estreias do ano e Halloween Ends veio para fechar a nova trilogia de Michael Myers - como sustentou lançamentos durante o ano inteiro, desde o terceiro de Jordan Peele, Não! Não Olhe!, passando por surpresas de crítica, como Sorria e Noites Brutais, até o improvável destaque do ano, Terrifier 2.

SÉRIES

Por Mariana Canhisares

É difícil condensar a experiência televisiva em 2022 ao redor de um só recorte, seja de gênero, característica em comum ou escopo, porque, como tem sido tendência há algum tempo, os últimos 12 meses ilustraram bem a era prolífica, rica e surpreendentemente duradoura das séries. A pandemia tem sua parcela de responsabilidade, é claro, considerando que a necessidade do isolamento moldou em alguma medida nossos hábitos de consumo e impulsionou a já então vigente guerra dos streamings. No entanto, a valorização da TV como ferramenta narrativa é anterior e, talvez também por isso, as plataformas tenham investido pesado nestas produções.

Dois exemplos disso são as séries A Casa do Dragão e O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, ambas obras de fantasia com orçamentos gigantescos que chegaram à HBO Max e ao Prime Video, respectivamente, com a pressão de, no mínimo, se igualar aos títulos dos quais derivaram — definição esta que também se aplica, em maior ou ou menor grau, aos seriados dos universos Star Wars e Marvel, assim como Pacificador, da DC. Competindo diretamente pela atenção do público, é interessante observar como cada uma explorou sua relação com o fandom: enquanto uma se valeu do novelesco para mobilizar as discussões nas redes sociais, a outra abriu mão do “memeável” para apostar na complexidade do seu material-base. Mesmo assim, as duas roubaram a cena e foram assunto, do início ao fim, entre as mais variadas demografias.

Esse, porém, não é o padrão. A quantidade e variedade de séries disponíveis promove, na maior parte do tempo, uma dispersão da audiência. Então, ainda que alguns títulos estourem suas respectivas bolhas — como também foi o caso de The Boys com o universo dos quadrinhos, Heartstopper com os adolescentes e The Bear com os foodies —, mantiveram-se “bolsões” de conteúdos. Os aficionados por true crime tiveram uma avalanche de conteúdo, mas com qualidade inconstante — se Black Bird foi um exemplo de drama responsável e bem trabalhado, Dahmer derrapou e flertou com a romantização do criminoso. Já os nerds de comédia tiveram todo o tipo de formato com os quais se deliciar, desde o whodunit de The Afterparty até as “sitcoms” de ambiente de trabalho, Abbott Elementary e Our Flag Means Death — isso sem mencionar o retorno das muito bem estabelecidas The Marvelous Mrs. Maisel e Hacks. Já quem é mais exigente e demanda narrativas complexas e cinematográficas foi presenteado com belos episódios de Barry, Ruptura e Better Call Saul.

Em outras palavras, não faltaram opções do que assistir na TV. E se você mal deu conta de acompanhar todas essas produções, fique tranquilo: não apenas você não está só, como estamos todos fadados a falhar mais uma vez diante das promessas de lançamentos para o próximo ano.

MÚSICA

Por Caio Coletti

2019 foi o ano de Billie Eilish. 2020, o de Dua Lipa. 2021, o de Olivia Rodrigo. Um trio de jovens superestrelas virando o pop cantado em inglês de cabeça para baixo e marcando seus nomes como potências culturais para serem reconhecidas. Mas e 2022? Em um cenário ditado por novidades, que sobrevive através da criação de novos ícones para as gerações que se sucedem e estão sempre em busca da música que os represente, os últimos doze meses foram… estranhos. Não ruins, mas certamente estranhos.

Falar dos álbuns mais impactantes de 2022 é falar de uma geração de popstars que já teve seu tempo, já conquistou o seu público, e hoje fala com uma plateia mais entrincheirada na própria identidade. Beyoncé retornou, no Renaissance, com a missão expressa de resgatar o DNA negro da dance music, abusando de samples e participações especiais em um disco mais forte pelo trabalho em equipe envolvido nele. The Weeknd, enquanto isso, foi pelo caminho oposto e explorou os limites de suas extravagâncias eletrônicas (e as fronteiras históricas delas com o seu querido R&B) no temperamental e brilhante Dawn FM.

A história (artista veterano lança grande álbum que renova a atenção em torno de sua música e importância por alguns meses) se repetiu várias vezes, em vários níveis, durante 2022: Björk criando uma elegia curiosamente otimista para a própria mãe no Fossora; Stromae retornando à cena com propósito renovado em Multitude; Florence + the Machine transformando a pandemia em matéria prima para uma catarse sublime em Dance Fever; Taylor Swift expurgando noites mal dormidas através do electropop do Midnights.

Todos esses - e outros! - foram muito bem-vindos, é claro, mas de novidade mesmo 2022 só trouxe o que o mercado americano resolveu “emprestar” da América Latina… e, bom, ninguém ao sul do Texas descobriu só em 2022 o talento de Anitta para construir hinos dançantes que não saem da sua cabeça, ou de Bad Bunny para transformar o reggaeton em um espaço expressivo único. O recado aqui parece ser outro: ou a música anglófona pisa um pouco no acelerador cultural, ou vai ficar comendo poeira.

Enquanto isso, na Coreia…

Para ser bem justo, o principal concorrente do pop americano nas rádios e paradas internacionais (ele mesmo, o k-pop) tampouco teve um grande ano. E os pontos mais interessantes dele nos últimos doze meses foram inteiramente culpa… deles de novo, os veteranos. Do Red Velvet ao Brave Girls, passando pelas investidas solo de Taeyeon, Hyo, Onew e J-Hope, até os novos álbuns de Epik High, HyunA e BoA, o mito do k-pop como “música de adolescente” ficou difícil de provar. Panela velha é que faz comida boa?

HQs

Por Nico Garófalo

Enquanto a DC ainda quebra a cabeça para entender como o Superman se encaixa no futuro de sua franquia cinematográfica, o Azulão e sua família tiveram um 2022 incrível nos quadrinhos. Esse ano começou com a conclusão de Supergirl: A Mulher do Amanhã, de Tom King, Bilquis Evely e Matt Lopes, que voltou a mostrar Kara como uma das personagens mais complexas e poderosas do selo. Pouco depois, Phillip Kennedy Johnson, Will Conrad e Riccardo Federici lançaram a incrível Saga do Mundo Bélico, que mostrou o Superman juntando um grupo de heróis da Terra para derrotar Mongul e salvar os habitantes do planeta-título da escravidão. Fechando o “superano” da editora, Mark Waid e Dan Mora têm contado histórias incríveis e explorado a amizade de dois dos maiores heróis de todos os tempos em Batman/Superman: Os Melhores do Mundo.

A Marvel também tem grandes títulos que merecem destaque. Demolidor, por exemplo, segue em ótima fase sob o comando de Chip Zdarsky e artistas como Marco Checcetto, Rafael De Latorre, Mike Hawthorne e Chris Samnee. O núcleo dos mutantes também continua ótimo com títulos como Immortal X-Men, X-Men: Red e a divertidíssima X-Terminators, que trouxe um olhar bem descompromissado para a linha dos Homo superior. O destaque da Casa das Ideias no ano, no entanto, é Capitã Marvel. Ainda com roteiros de Kelly Thompson, a revista de Carol Danvers tem engatado uma história incrível atrás da outra e nos faz perguntar por que a editora ainda não confiou uma de suas grandes sagas anuais à quadrinista até agora.

Fora das “duas grandes”, o ano foi ainda mais promissor. A BOOM! Studios segue expandindo de forma gloriosa a mitologia dos Power Rangers, enquanto a Image lançou sua própria franquia de tokusatsu com a incrível Radiant Black, que já se expandiu para diversos outros títulos. Mas o melhor lançamento do ano lá fora foi It's Lonely at the Centre of the World, de Zoe Thorogood. A história é intimista, intensa e cheia de metalinguagem e é uma leitura catártica para todo mundo que já se sentiu empacado na vida.

2022 também foi cheio de tesouros para os fãs de gibi nacional. A dupla Melissa Garabeli e Phellip Willian, que ano passado lançou o lindo Calmaria, voltou com o fofíssimo Big Hug; IaraNaika encerrou, depois de quatro anos, a história de Kelly e Jade em 48km (que, aliás, arrecadou mais de R$ 160 mil em sua campanha no Catarse); Eric Peleias e Gustavo Borges lançaram Como Fazer Amigos e Enfrentar Feiticeiros na CCXP22, fechando o que esperamos que seja a primeira de muitas trilogias; o belíssimo Ninguém É Perfeito, de Yorhán Araújo, foi lançado pela Planeta; Cecília Marins, Bárbara Teisseire e Giulia Tartarotti publicaram a ótima reportagem em quadrinhos sobre o mundo do BDSM Amarras; e a Eleven Dragons e a Social Comics lançaram Death Hunt, história original nunca publicada de Stan Lee e que virou realidade graças aos trabalhos de Rick Troula, Keoma Calandrini, Tai Silva, Greg Tocchini, JP Sette, Ademar Vieira, Jamille Anahata e Sâmela Hidalgo. Óbvio, há uma infinidade de trabalhos nacionais - independentes ou não - incríveis que não couberam neste parágrafo, mas que sempre têm espaço na coluna do nosso amigo Érico Assis, que continua usando sua plataforma para divulgar o trabalho dos talentosíssimos artistas brasileiros.

ANIMES E MANGÁS

Por Pedro Henrique Ribeiro

Quem acompanha as temporadas de anime certamente ficou feliz com os lançamentos de 2022. O ano foi recheado de novidades como as estreias dos títulos Chainsaw Man, Spy x Family, Cyberpunk: Mercenários e Kotaro Vai Morar Sozinho. E enquanto esses títulos estrearam, outros se despediram — ou pelo menos seguiram sua caminhada rumo à despedida. A segunda parte do arco final de Attack on Titan, a terceira e última temporada de Mob Psycho 100 e o último capítulo do mangá Kaguya-sama são alguns dos exemplos. E claro, o anúncio de que One Piece está oficialmente caminhando para seu final também marcou muitos fãs, mesmo os que já esperavam por isso.

Entre fins e recomeços, uma coisa se destacou: os retornos! Grandes títulos ganharam fôlego em 2023 e tiveram retornos triunfais. O principal entre eles certamente é o mangá de Hunter x Hunter, que após mais de mil dias em hiato, retornou pelas mãos de seu criador. Yoshihiro Togashi surpreendeu a todos ao criar uma conta no Twitter para atualizar seus fãs sobre o andamento das páginas inéditas da obra.

Além disso, o volume 37 (capítulos 381–390), que ainda não havia sido impresso, começou a ser publicado em novembro, após o retorno da obra. Quem também retornou foi Berserk. Após a lamentável e prematura morte do criador Kentaru Miura, em 2021, o mangá voltou a ser publicado em junho deste ano no Japão, com supervisão de Kouji Mori, amigo de infância a quem Miura confidenciou as reviravoltas de sua história. Ainda no universo dos mangás, os retornos aconteceram também nas bancas brasileiras, com várias reimpressões que incluíram Akira, Hunter x Hunter, Nana e muitos outros.

Já nos animes, o principal retorno foi o de Ichigo Kurosaki e seus amigos. O anime de Bleach ganhou uma adaptação animada de seu arco final, tendo estreado no Japão em outubro. Porém, sua distribuição fora da Ásia é feita pela Disney, que só deve trazer o anime para a América Latina em janeiro de 2023. Ainda antes do ano acabar, os otakus foram agraciados com a notícia de que o mangá Blue Exorcist (Ao no Exorcist), da mangaká Kazue Kato, ganhará uma nova adaptação animada.

E ainda falando em animações, os cinemas do Brasil foram dominados por otakus. Com vários títulos em cartaz este ano como Belle, My Hero Academia: Missão Mundial de Heróis, Sword Art Online: Progressive, Jujutsu Kaisen 0, uma estreia especial de Oddtaxi: In the Woods, Dragon Ball Super: Super Hero e One Piece: Red. Seja nos mangás, nas telinhas ou nas principais salas de cinema, 2022 foi o ano dos otakus e tudo indica que o destino reserva um futuro TOP para todos eles!

Publicado 27 de Dezembro de 2022
Textos Caio Coletti (@caiocoletti), Julia Sabbaga (@jusabbaga), Mariana Canhisares (@maricanhisares), Nicolaos Garófalo (@NikoGarofalo) e Pedro Henrique Ribeiro (@OiPhRibeiro)
Edição Beatriz Amendola (@bia_amendola)
Design Paola Murbach (@paprycca)
Coordenação Jorge Corrêa (@jorgecorrea_)