Espécie de Game of Thrones nas Minas Gerais do século XVIII, com sequências de ação eletrizantes, o thriller político de época Joaquim, concorrente nacional ao Urso de Ouro no Festival de Berlim, impressionou a Europa por uma carga quase classica de filmes de aventura mesclada com uma reflexão política de fina ironia. Dirigida pelo pernambucano Marcelo Gomes (aclamado no Festival de Toronto de 2012 com 'Houve Uma Vez Eu, Verônica'), esta coprodução com Portugal apresenta a gênese do mito de Tiradentes, narrando as peripécias do mártir da Inconfidência antes de seu engajamento no movimento.
"Estamos reproduzindo até hoje no Brasil, a cada dia, violentos processos de colonização extintos há 250 anos, e isso preciso mudar", diz Gomes, que leu na coletiva de imprensa de Berlim uma carta escrita por todos os cineastas brasileiros lá presentes pedindo a atenção da mídia internacional sobre os riscos à diversidade artística e à autonomia de expressão do cinema impostos pela atual Presidência do país, numa direta alusão ao Governo Temer. "Gosto de fazer filmes sobre coisas que não conheço, como a mudança de paradigma de um soldado da Coroa Portuguesa que vira rebelde. É importante este entendimento num momento em que passamos por um retrocesso de nossas políticas culturais num governo ilegítimo".
Joaquim José da Silva Xavier, o futuro Tiradentes, é vivido por um dos mais promissores atores do Teatro Brasileiro hoje, Julio Machado, visto na TV como um capataz feroz na novela 'Velho Chico'. Sua atuação impressionou a Berlinale: houve quem enxergasse em seu semblante ecos do jovem Lula, em sua fase de líder operário. Machado é agora o maior rival do sueco Stellan Skarsgärd ao prêmio de Melhor Ator (por 'Return to Montauk').
"Antes das filmagens, passei um mês instalado no local que reproduzia a paisagem do século XVIII bucando me integrar àquele mundo e traduzir Joaquim como um homem da terra, movido por um ideal de esperança", diz Machado.
Antes de 'Joaquim', a Berlinale projetou, em competição um de seus filmes mais fracos, egresso da Coreia do Sul: 'On The Beach At Night Alone', de Hong Sangsoo (de HaHaHa), diretor superestimado, dono de um formato narrativo - muita fala, em ambientes onde se come e bebe sem parar - reaproveitado a cada filme. Na trama, uma atriz em busca de sentido na Arte e na vida fala com amigos e com colegas sobre inquietações.
Sábado o Festival de Berlim chega ao fim, com a cerimônia de premiação, tendo - até agora - a comédia 'The Other Side of Hope', do diretor finlandês Aki Kaurismäki, como favorita ao Urso dourado, seguida de perto por 'Colo', de Portugal, e 'Una Mujer Fantástica', do Chile.
