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11 Minutos | Crítica

Jerzy Skolimowski tenta fazer de Varsóvia um cenário de caos em filme-molecagem

05.10.2015, às 12H08.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Cinco anos depois de lançar Essential Killing, uma obra-prima de cinema de ação sobre a potência e a responsabilidade do gesto destrutivo, Jerzy Skolimowski transforma em 11 Minutos (11 Minutes) essa premissa do seu longa anterior em uma molecagem.

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Acompanhamos vários personagens cujas histórias se cruzam durante 11 minutos de suas vidas em Varsóvia, na Polônia, a começar por uma atriz recém-casada que se encontra com um diretor de Hollywood para fazer um teste num quarto de hotel (para desespero de seu marido, que acorda atrasado para o compromisso depois da ressaca do casamento), até um grupo de freiras que come cachorros-quentes e aguarda um ônibus na frente do mesmo hotel, epicentro da ação. Não falta o entregador de moto (para acelerar a ação) nem a grávida em trabalho de parto (para fins dramáticos).

A ideia de que vidas podem mudar definitivamente em menos de um minuto é o conceito fatalista por trás de 11 Minutos, mas Skolimowski não antecipa o tom sombrio, a não ser em estranhas aparições de uma figura no chuvisco de uma televisão ou em pontos pretos no céu - sugestão de realismo fantástico que acaba não se efetivando. Na verdade o cineasta polonês está mais interessado em acompanhar como pequenos gestos contribuem para definir esses instantes transformadores, desde o atrito de uma mão num sofá até o desespero de um bombeiro para liberar o caminho que o separa de uma vítima.

Se 11 Minutos não tem a mesma potência e a gravidade de Essential Killing, é porque, primeiro, não lida diretamente com as consequências da ação (elas virão apenas no final apoteótico, e assim se tornam um tanto inconsequentes) e, segundo, recorre muito mais a artificialismos de efeitos sonoros e jogos de câmera para tentar envolver o espectador.

A ideia é que tudo ao redor seja imprevisível, mesmo numa cidade modorrenta como Varsóvia. (Talvez Skolimowski se saísse com um filme melhor se tivesse rodado em lugares verdadeiramente cacofônicos como Xangai ou Nova York...) À falta de desordem, ele amplifica barulhos da cidade, sirenes, obras, e mesmo nas horas de correria a câmera fica frequentemente fechada em close-up ou plano americano acompanhando os personagens. Ao negar o contexto no enquadramento - tudo pode dar errado em torno das pessoas porque não vemos o que há ali - o diretor tenta estabelecer um suspense na marra.

O resultado parece um respiro juvenil na obra do polonês, que ficou 17 anos sem filmar antes de retomar sua carreira em 2008 com Quatro Noites com Anna. É como se Skolimowski descobrisse só agora o cinema digital como mídia do efêmero e da experimentação formal, com um relativo atraso em relação aos filmes de virada de século que faziam isso, como Corra, Lola, Corra (1998) e Time Code (2000). De qualquer forma, o desfecho catártico de arrancou aplausos na sessão em que estive, e a Polônia entrou na brincadeira: 11 Minutos é o inscrito pelo país a uma vaga no no Oscar de filme estrangeiro em 2016.

Nota do Crítico
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