Filmes

Entrevista

A Garota Desconhecida | "A vida é uma fonte rica de dramaturgia", dizem Irmãos Dardenne

Filme que gerou polêmica em Cannes chega ao Brasil

23.02.2017, às 13H22.
Atualizada em 23.02.2017, ÀS 14H05

Thriller investigativo sobre culpa, negligência e exclusão, A Garota Desconhecida (La Fille Inconnue), um dos mais controversos concorrentes do Festival de Cannes em 2016, vaiado lá por sua estética seca e sociológica, estreia no Brasil nesta quinta (23), marcando a volta ao circuito autoral de uma das grifes mais premiadas do cinema autoral: os Irmãos Dardenne, da Bélgica. Mestres de um realismo nas raias do documentário, Jean-Pierre, de 65 anos, e Luc, de 62, têm duas Palmas de Ouro – conquistadas por Rosetta, em 1999, e por A Criança, em 2005 - além de cerca de 50 prêmios em seus currículos, cujo maior sucesso recente foi Dois Dias, Uma Noite, pelo qual Marion Cotillard concorreu ao Oscar de melhor atriz, em 2015. Sem abrir mão da reflexão social sobre exclusões econômicas e étnicas que caracteriza sua obra, a dupla carrega o novo filme de tintas de suspense.

Somos obcecados pela observação, com o mínimo de interferência, seja de música, seja de excessos de interpretação: existem atitudes tomadas sem muita reflexão que mudam vidas num estalar de dedos e é nelas que estamos interessados”, disse Jean-Pierre ao Omelete, em Cannes, referindo-se a um deslize da médica Jenny, vivida por Adèle Haenel no filme.

Em A Garota Desconhecida, a Dr. Jenny, cansada após um plantão, recusa-se a atender a campainha do ambulatório ao fim de seu turno: é uma moça, assoberbada, pedindo ajuda. No dia seguinte, fica sabendo que uma jovem morreu e passa a acreditar que poderia ter evitado aquela morte. A partir dali, ela se embrenha numa investigação para saber quem era a vítima e o que aconteceu com ela, mergulhando num submundo onde sua segurança corre riscos.

Dizem que nosso cinema é estruturado a partir de uma lógica de contos morais, o que nem sempre me parece preciso, mas que, neste caso, faz sentido, pois esta é uma trama sobre responsabilidade. O que rege o enredo é uma discussão sobre como se sentir responsável por alguém que mal conhecemos?”, disse Luc, que mantém com Jean-Pierre a produtora de maior prestígio do audiovisual belga: a Les Films du Fleuve, que já produziu sucessos de público tipo Eu, Daniel Blake (2016) e Ferrugem e Osso (2002). “Nosso maior cuidado é não construir uma luz que parece artificial, exageradamente dramatizada: é no personagem que está a iluminação que nos interessa mais e, esta, fica mais visível quanto mais limpo o Real a volta dessa figura estiver. A vida real é uma fonte rica de dramaturgia”.

Para o cineasta, A Garota Desconhecida é um retrato das diferentes e silenciosas formas de violência contra a mulher que já foram institucionalizadas. “As mulheres ainda são muito oprimidas na sociedade, mesmo as que ocupam posições sociais de poder. No fundo, o que tentamos é driblar os horrores do mundo e denunciá-los”, disse Jean-Pierre, explicando a mecânica de trabalho com o irmão. “A gente já conversou com os irmãos Coen várias vezes para entender como eles trabalham juntos. Pra nós, é fácil. Somos uma só pessoa”.    

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