A ilha da imaginação
A ilha da imaginação
Bons livros são assim. A Ilha de Nim, que inspirou o novo filme da Walden Media, é assim. Já a adaptação aos cinemas, A Ilha da Imaginação (Nim's Island, 2008), não chegou lá. Ficou num incômodo meio-termo, com boas interpretações, efeitos especiais pontuais mas uma história adaptada que não conseguiu se resolver a tempo.
Nim é a personagem principal, interpretada pela já não tão pequena Miss Sunshine, Abigail Breslin. Órfã de mãe e filha de um biólogo marinho, ela vive com o pai numa ilha secreta que não deve nada à de Lost: tem seus cocos e bananeiras, e também energia elétrica e Internet. É assim que Nim se comunica com o herói de seus livros, o aventureiro Alex Rover, sem saber que ele se trata de Alexandra Rover, uma escritora agorafóbica vivida por Jodie Foster. Quando o pai, Jack (Gerard Butler) desaparece em alto mar, cabe a Alex enfrentar seu medo de contato social para cruzar o oceano e salvar os dois. De quê, não fica muito claro, já que Nim é como uma versão moderna de Píppi Meialonga, personagem literária infantil com quem partilha a coragem sobre-humana e o amor pelos animais.
Ainda que inferior a outras produções da Walden Media, como A Loja Mágica de Brinquedos e o soberbo Ponte para Terabítia (ambos de 2007), A Ilha da Imaginação é um filme infantil acima da média para produções do gênero. Mas, como já vem virando costume, acabou ganhando na sua versão para o cinema um enxerto praticamente inexistente nos livros.
Ao contrário de Terabítia, que permitia um certo espaço para isso, as adições à Ilha da Imaginação acabaram colocando o filme numa crise de identidade. A começar pelo título em português, um tanto equivocado, já que a tal "ilha" e o dia-a-dia de Nim são "reais", enquanto Alex é quem vive conversando com personagens imaginários. É a eterna (e irritante) mania dos distribuidores brasileiros de rebatizar filmes com sobrenomes como "Da pesada" ou "Do barulho", talvez sonhando com uma menção no Hall da Sessão da Tarde.
O pôster também engana muito. Nele vê-se uma bússola (sim, dourada), um navio pirata, um capitão barbudo e até mesmo uma luta de espadas. Absolutamente nada disso é visto no filme. Quando ele começa, com uma lúdica e bem executada sequência de animação narrada pela personagem principal, espera-se uma história de fantasia, mas o roteiro sydfieldiano preocupa-se tanto em explicar os personagens e suas motivações que sobra pouco espaço para ela. E a tal "aventura" prometida no trailer nunca chega realmente a acontecer, até porque, nem no livro ela existe. Quando enfim você percebe que todas as expectativas estavam erradas, nem tanto por culpa da história, mas sim por todo o outro lado que faz Hollywood funcionar - o marketing - já é tarde. O filme acaba e fica aquela sensação de que podia ter sido muito mais.
Obs: Distribuído exclusivamente em cópias dubladas.
O livro - A Ilha de Nim
No embalo do filme, a Editora Brinque Book está lançando o livro que o inspirou - A Ilha de Nim. Sem a necessidade de faturar alto como o cinema para pagar cachês milionários, a obra da canadense Wendy Orr é bem menos pretensiosa. A autora se limita a explicar bem como uma menina pode viver duas semanas sozinha numa ilha, e sua relação com a autora de seus livros favoritos. Não tem nada de piratas que não existem ou personagens que saem de livros. Dentro do seu universo bem construído, tudo é mais factível, fluido e, por isso mesmo, mágico.
Como Alex Rover, Fábio Yabu também é autor de livros infantis.