Filmes

Crítica

Altas Expectativas | Crítica

Comédia romântica fala sobre deficiência de forma sensível e leva à reflexão

06.12.2017, às 12H24.
Atualizada em 06.12.2017, ÀS 14H01

Imagine a seguinte premissa para uma comédia romântica: um homem e uma mulher completamente diferentes se conhecem. Ele se encanta por ela, mas acha que não a merece. Ela, distraída com os problemas da vida, não repara nos sentimentos do rapaz e o vê apenas como um bom amigo. Vários filmes se encaixam nessa premissa e não é diferente com Altas Expectativas. O que difere o longa de vários outros é que essa é  a história sobre uma jovem melancólica e um homem que é um anão.

Dirigido por Pedro Antônio e Álvaro Campos, o filme é livremente baseado na história do comediante e ator Gigante Léo, que protagoniza a trama no papel de Décio. Falar sobre as deficiências no cinema também não é novidade, mas as melhores obras são aquelas que fazem isso com sensibilidade. E isso Altas Expectativas tem de sobra.

Décio tem seu trabalho, amigos e uma vida estabilizada. Ele tem sim uma deficiência física, mas não é dependente de ninguém. O ponto desse filme é tratar da questão emocional e do preconceito que ainda existe em muitas pessoas. Em uma cena, por exemplo, Décio ouve chacotas sobre sua estatura de um dito “comediante”. Como alguém que viveu - e provavelmente ainda vive - isso na pele, Gigante Léo entrega uma cena de confronto dura, necessária e também delicada. Ele se defende, mas vemos em seus olhos que aquilo o machuca.

Quando se trata do romance, o longa usa duas estratégias para falar sobre a deficiência de forma muito verdadeira e provocativa. Primeiro, a protagonista feminina Lena (Camila Márdila). Herdeira de um café, a jovem parece não ter a capacidade de sorrir. De um certo ponto de vista, isso também poderia ser considerado uma deficiência, já que é algo que a difere da multidão? O filme não dá a resposta, mas deixa essa pergunta no ar.

Outro detalhe que o longa coloca discretamente é a questão da ajuda. Pense nessa cena: um cadeirante está tentando atravessar a rua. O primeiro instinto da maioria das pessoas é ajudar. Mas a verdade é que muitas vezes quem tem deficiência não quer ajuda. E receber isso contra sua vontade é algo invasivo. Essa analogia é feita com sucesso usando Flávio (Milhem Cortaz), o namorado de Lena. Na ânsia de ser útil e superior, ele toma decisões contra a vontade dela e a diminui com essa atitude. Ela se sente uma coitada, algo comum para quem tem alguma deficiência. São momentos sutis, mas que provocam reflexão.

Em certo momento, Décio decide seguir carreira no humor, pois acredita que isso o ajudará na conquista. Quando trata desse tema, o roteiro fica um pouco confuso. A pessoa com deficiência pode brincar com suas limitações. As pessoas próximas, desde ela se sinta à vontade, também. As demais, não. O filme mostra esses dois tipos de humor, com e sem maldade, mas não os explica de forma clara. Para quem nunca conviveu com as deficiências, a mensagem termina confusa.

Altas Expectativas também trabalha visualmente deficiência e preconceitos. Para evidenciar a perspectiva de mundo de seu protagonista, os diretores colocam a câmera na altura do seu ponto de vista. Depois, quando alguém o olha com preconceito, a câmera sobe, evidenciando como alguns se sentem superiores perante ele.

Ao escolher uma história de amor como tema central, o longa trata ainda das inseguranças que são comuns na conquista, mas ficam ainda maiores quando um dos lados possui deficiência. Seguro de si no trabalho, Décio não acredita que pode conquistar Lena por conta de sua altura. De tanto ouvir que é incapaz, em algum momento ele acredita nisso.

Todos esses pontos expostos pelo filme são muito reais para as pessoas com deficiência. Acostumados a ouvir “brincadeiras” e serem olhados duas vezes nas ruas, os deficientes enfrentam uma barreira a mais em todos os problemas da vida. Porém, Altas Expectativas termina com uma mensagem positiva sobre aceitação e identidade. Como diz o também anão Tyrion Lannister para Jon Snow na primeira temporada de Game of Thrones: nunca esqueça quem você é. Décio transforma suas dificuldades em força e cria um escudo que preconceito nenhum pode abalar. Para nós que assistimos, só resta aplaudir.

Nota do Crítico
Ótimo
Altas Expectativas
Altas Expectativas
Altas Expectativas
Altas Expectativas

Ano: 2017

País: Brasil

Classificação: 12 anos

Duração: 90 min

Direção: Pedro Antônio Paes, Alvaro Campos

Roteiro: Pedro Antônio Paes, Alvaro Campos

Elenco: Leonardo Reis, Camila Márdila, Maria Eduarda, Felipe Abib, Milhem Cortaz

Onde assistir:
Oferecido por

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Omelete no Youtube

Confira os destaques desta última semana

Ao continuar navegando, declaro que estou ciente e concordo com a nossa Política de Privacidade bem como manifesto o consentimento quanto ao fornecimento e tratamento dos dados e cookies para as finalidades ali constantes.