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Crítica

Amor Profundo | Crítica

Sobre o tempo e a cidade

09.05.2013, às 19H28.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 06H04

"Nós deixamos o lugar que amamos, e passamos a vida tentando reconquistá-lo", diz Terence Davies em seu documentário Of Time and the City (2008), sobre a Liverpool da sua infância, nos anos 1950. É de uma carência similar que trata Amor Profundo, filme de Davies que adapta a peça The Deep Blue Sea, de Terence Rattigan, de 1952.

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Doze aspirinas e duas ou três moedas, para ligar o gás da lareira do quarto, são tudo o que Hester Collyer (Rachel Weisz) tem para tentar se matar. Não é fácil viver nos escombros e na escassez da Londres do Pós-Guerra, e à beira do suicídio Hester sofre com suas decisões, depois que trocou seu marido, Sir William Collyer (Simon Russell Beale), juiz da Suprema Corte, por um piloto da Força Aérea britânica, o jovem Freddie Page (Tom Hiddleston).

A trama vai e volta constantemente no tempo, às vezes dentro de uma mesma cena, para contar o amor de perdição de Hester - uma das melhores interpretações da carreira de Rachel Weisz. Como em Fim de Caso, manter triângulos amorosos com a Segunda Guerra como pano de fundo implica muitas perdas, entre elas a da inocência.

Hester luta romanticamente em Amor Profundo não só para preservar sua inocência, mas também suas reminiscências de uma Londres específica - o lugar onde ela ama, cidade de quartos e bares decorados e enquadrados como cenografia de Technicolor, como memórias vivas. Por conta da guerra, Davies entende que essa é também uma luta de muitos outros, então os momentos mais felizes de Hester no filme são, frequentemente, catarses coletivas, seja o povo bebendo no pub ou a cantoria no túnel no metrô.

Transformar um anseio coletivo num drama particular - e assim dar a essa história íntima uma dimensão trágica - é o que faz de Amor Profundo um grande filme. Os escombros da guerra, em si, só aparecem no arrebatador plano final, mas até lá Davies deixa claro que estamos diante de personagens oprimidos pela História. Mais especificamente, oprimidos por perceberem nas pequenas coisas do dia a dia - no racionamento de comida, nas vitrines cheias de objetos que ninguém compra - a passagem da História.

Ou seriam privilegiados, e não oprimidos, por notar a História? Quando está com Freddie, ou lembrando de Freddie, Hester saboreia a passagem do tempo. As folhas das árvores no country club, a fumaça do cigarro, tudo se move lentamente, como se estivéssemos de fato submersos num mar azul profundo. Mas o tempo cobra seu atraso e não poupa ninguém, especialmente os apaixonados. Abandonada numa estação de metrô, no close-up Hester tem seu cabelo violentamente despenteado pela passagem do trem, como se o próprio tempo acelerasse diante de seus olhos.

Embora perca muitas coisas, o que Hester ganha é justamente uma dimensão do tempo, não apenas o seu, mas um "tempo coletivo", a História. Quando seu marido lhe pergunta sobre o que virá, ela sugere "esperar o futuro para ver". "Nosso futuro?", pergunta ele, com o egoísmo dos aristocratas que em todos os seus anos nunca sofrerão revezes. "Nosso não, O futuro", responde Hester.

Amor Profundo | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Excelente!
Amor Profundo
The Deep Blue Sea
Amor Profundo
The Deep Blue Sea

Ano: 2011

País: EUA, Inglaterra

Classificação: 14 anos

Duração: 100 min

Onde assistir:
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