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Crítica

Apenas o Vento | Crítica

Premiado filme registra o vácuo da omissão do Estado na questão dos ciganos da Hungria

25.07.2013, às 20H07.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 15H03

O que diferencia Apenas o Vento (Csak a Szél, 2013) da maioria dos filmes-de-festival que perseguem seus protagonistas com uma câmera naturalista às costas, à moda Dardenne, é que o longa húngaro não trata de inadequação só num ambiente urbano. Sequer à natureza pertencem os ciganos filmados por Benedek Fliegauf - e a imagem do menino chicoteando plantas com uma vara é o maior emblema dessa violência.

apenas o vento

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Vencedor do Urso de Prata no Festival de Berlim, Apenas o Vento se baseia numa série de assassinatos com motivação étnica na Hungria. A família central do filme, porém, é fictícia; a mãe madruga para trabalhar como catadora de lixo no campo e como faxineira em uma escola, onde sua filha estuda, e o filho caçula passa o dia vagando pelo mato e furtando objetos, que ele organiza em um esconderijo caso vire alvo da onda de chacinas que tem vitimado outros ciganos na vizinhança.

Com exceção de uma videochamada na escola, em que conhecemos o pai da família, que aguarda em Toronto o momento em que conseguirá se reunir com a mulher e os filhos, o filme nunca sai desse microcosmo rural onde tudo parece provisório. A impermanência é a questão central do filme, mais profunda do que a natureza nômade dos ciganos, e é a partir dela que Apenas o Vento se articula, com a rotina dos personagens transformando-se em pequenos atos desesperados de organização.

Há uma urgência de ordem, por exemplo, não necessariamente um pedido de socorro ou de reconhecimento, na forma como a mãe esfrega com fúria o chão da quadra do colégio e repetidamente o vidro da janela, ou como a filha colhe flores com cuidado no mato. Ela não se sente à vontade sequer para urinar com privacidade no campo; o buquê de flores, por banal que seja, é a intervenção possível, o domínio possível.

Apenas o Vento se faz no acúmulo desses não-eventos para criar uma narrativa fortemente política sem ser panfletária, crítica à omissão do Estado. Num lugar onde as relações de poder substituem as demais e se institucionalizam (a garota presencia o estupro de uma colega e ainda assim consegue dar "boa tarde" na saída da escola), é irônico ver os policiais preocupados com a ordem num barraco destruído, depois de uma chacina, recolhendo cascas de pistache para não sujar o chão.

Apenas o Vento | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Ótimo
Apenas o Vento
Csak A Szél
Apenas o Vento
Csak A Szél

Ano: 2012

País: Hungria

Classificação: 16 anos

Duração: 86 min

Onde assistir:
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