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A Grande Muralha | Matt Damon estrela "filme de monstro" chinês cheio de magia

Longa chega ao Brasil em 23 de fevereiro

09.02.2017, às 13H49.
Atualizada em 09.02.2017, ÀS 15H02

Cercado de polêmica mundo afora pelo uso de astros de Hollywood do porte de Matt Damon numa história 100% chinesa, A Grande Muralha (The Great Wall), do controverso diretor Zhang Yimou (Lanternas Vermelhas), conseguiu driblar a antipatia dos puristas e emplacou sucesso popular na Europa, onde acumulou parte considerável dos US$ 219,2 milhões de sua bilheteria global, sendo parte dela oriunda da Alemanha. Em solo germânico, o filme é alvo de apaixonado boca a boca, mobilizando plateias nas salas de exibição de vários cantos daquele país, sobretudo os da capital, Berlim. O Omelete viu o filme em sessão aberta, no Sony Center, complexo de salas no coração do território berlinense, numa sessão cheia, apesar do frio de –6º nas ruas. A impressão inicial é de uma mistura de O Senhor dos Anéis com A Invenção Hugo Cabret, funcionando meio como epopeia de formação nacional, meio como fábula escapista, cujo ritmo não cai.  

Esperava-se que o longa-metragem pudesse entrar na Berlinale 2017, que começa nesta quinta – com a exibição do drama musical Django, de Etienne Comar, sobre o músico Django Reinhardt - e vai até o dia 19, mas, não. Foi direito pro circuitão, onde disputa plateias a tapa com o thriller de horror Fragmentado, de M. Night Shyamalan.

Fala-se (bem) de ambos os filmes na mídia local, com espaço maior para a aventura de Yimou, talvez pelo fato de ele ser encarado como “cria da casa”: em 1988, ele saiu de lá com o Urso de Ouro no Festival de Berlim, conquistado por seu Sorgo Vermelho, um drama que apresentou o audiovisual chinês moderno ao mundo, junto com Adeus, Minha Concubina (1993), de Chen Kaige.

Arrebatador em termos visuais, num investimento na transcendência mais fabular, sobretudo nas cenas de exércitos viajando em balões, A Grande Muralha combina a tradição asiática do gênero “filme de monstro” à cartilha do épico. Estamos numa China que parece ser a do fim dos anos 1200, quando guerreiros europeus visitam a região à cata de pólvora. Os mercenários William (Damon) e Tovar (o chileno Pedro Pascal, de Narcos) fazem parte da turba de invasores que buscam o “pó negro” dos chineses. Mas a passagem deles se dá num momento de conflito das tropas imperiais contra os Taoties, raça de répteis (ou algo assim) vinda de outro mundo que deseja se reproduzir pela Terra, comendo tudo o que se move. É mais uma metáfora para o canibalismo, tema da onda na ficção, vide The Walking Dead e derivados zumbis – não por acaso, um dos roteiristas é Max Brooks, do livro Guerra Mundial Z, filmado em 2013, com Brad Pitt.

Embora tenha Damon como astro, o filme – sintonizado com a marca autoral feminista de Yimou - dá maior ênfase a uma heroína: a comandante Lin Mei (vivida pela atriz Jing Tian), líder das tropas responsáveis por guardar a Grande Muralha da invasão de criaturas escamosas. É ela quem protagoniza os feitos físicos mais arriscados, por ser mestre de uma técnica de saltos para lutas com lanças. Entre os intérpretes asiáticos, destaca-se ainda a lenda Andy Lau (deConflitos Internos) como um estrategista de guerra nesta trama que peca por esvaziar o contexto político em torno da criação de um dos maiores monumentos da Humanidade.

Essa é uma crítica que alimenta a fama de pelego de Yimou, acusado de ser um “servidor do lado mais reacionário do Estado”, por evitar assuntos mais críticos ao regime chinês em seus longas atuais. A fama foi ampliada quando ele dirigiu a festa de abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, o que tolheu qualquer boca a boca fervoroso em prol de sua arte. O desejo de filmar com astros de Hollywood, como o galês Christian Bale, em Flores do Oriente (2011) tornou o diretor mais polêmico na visão dos críticos da Ásia. Mas nada dilui sua contribuição às narrativas audiovisuais, com filmes de tessitura dramática sofisticada como Tempo de Viver (Grande Prêmio do Júri em Cannes, em 1994) e Nenhum a Menos (Leão de Ouro em Veneza, em 1999). E, de quebra, ele ainda surpreendeu exibidores com as bilheterias milionárias de Herói (2002) e de O Clã das Adagas Voadoras (2004). A Grande Muralha caminha nessa direção, pelo menos no Velho Mundo.

O filme chega aos cinemas brasileiros em 23 de fevereiro. 

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