O que ainda separa o cinema da TV? Essa é a grande discussão levantada pelo primeiro painel da Netflix no Hall H da San Diego Comic-Con 2017, que apresentou materiais inéditos de dois filmes que não passarão pelas salas de cinema: Death Note e Bright. Enquanto o primeiro título tem sua origem no interesse do público pelo anime presente catálogo do serviço de streaming, o segundo é uma das maiores apostas da marca. Com David Ayer (Esquadrão Suicida) no comando e Will Smith como protagonista, a Netflix quer fazer o primeiro “blockbuster sem sair de casa”.
Durante o painel - saiba como foi, Ayer elogiou a liberdade que recebeu (e cutucou várias vezes o nível de intromissão de grandes estúdios). Havia espaço e dinheiro para criatividade, segundo o diretor, para apostar na história saída da cabeça de Max Landis (Poder Sem Limites) sobre um humano (Smith) e um orc (Joel Edgerton) envolvidos em uma trama de fadas, elfos e varinhas mágicas.
É a segunda grande investida cinematográfica da Netflix em 2017, que no primeiro semestre promoveu Okja, mas com outras intenções. Ao lançar o longa em Cannes, o objetivo era declarar a produção da marca digna de prestígio cinematográfico, como fizera com Beasts of No Nation, e colocar mais lenha na discussão “streaming vs cinema”. Agora a ideia parece ser popularizar o alcance do serviço em um filme mais alinhado com elementos campeões de bilheteria: fantasia, ação e Will Smith.
Os trailers de Bright, contudo, não entregaram a pompa cinematográfica prometida, uma grandiosidade que deveria transparecer, não importa o tamanho da tela em que o conteúdo é exibido. Ayer brincou sobre gastar muito dinheiro para fazer o filme que queria, mas a escala da produção não parece ser digna de nota, com o grande chamariz do filme sendo mesmo o carisma de Smith.
De acordo com Ayer, situar uma trama policial em universo de fantasia serve para falar sobre temas que as pessoas não querem ouvir. Preconceito é a base para o roteiro (os Orcs são marginalizados nessa sociedade), que também lida com conspirações élficas e uma criatura mágica que precisa ser protegida. É uma abordagem interessante, que tanto pode surpreender pela sensibilidade, como decepcionar pelo retrato raso.
Não há como medir se Bright será um sucesso, já que a Netflix não divulga seus números - e não se trata de uma série, que poderia ser cancelada, indicando a baixa audiência. É um filme de grande orçamento que precisa agradar os assinantes do serviço e atrair novos para “arrasar quarteirões”. Longe da briga pelo topo das bilheterias, essa pode ser uma luta solitária e silenciosa. A moeda de troca possível seriam as redes sociais, mas ainda que determinem o nível de interesse público em um assunto, não há garantia que os posts serão convertidos em mensalidades.
Fato é que Bright representa uma nova era para Netflix, que ainda precisa justificar os investimentos do seu braço cinematográfico. Apostar em um filme de grande orçamento é a cartada final no objetivo de fazer do “cinema em casa” uma realidade comercial. A resposta será dada pelo público em dezembro, quando o filme chegar ao serviço.
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