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Elon Não Acredita na Morte | Lourenço Mutarelli retorna ao cinema e incendeia o Festival de Brasília

Ícone das HQs, o quadrinista rouba a cena no thriller mineiro

25.09.2016, às 17H06.

Ícone pop das HQs e da literatura no Brasil, Lourenço Mutarelli roubou a cena no 49º Festival de Brasília, que termina nesta terça. Ele atua em Elon Não Acredita na Morte, um thriller mineiro de tons existencialistas recebido no sábado com fervor por uma plateia de 607 abarrotadas poltronas. Com direção de Ricardo Alves Jr., o longa-metragem de narrativa pouco convencional acompanha a busca de Elon (Rômulo Braga, mais forte candidato ao troféu Candango de melhor ator até aqui) pelo paradeiro de sua mulher desaparecida.

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Uma série de figuras vai complicar sua investigação, sendo Lourenço um solícito ex de sua esposa que pode acrescentar informações importantes sobre ela, ao mesmo tempo em que leva o derrotado protagonista a beber - vício já superado. Embora curta, a participação do autor de O Cheiro do Ralo contagiou o público e pode dar a ele, de acordo com a torcida local, um prêmio de coadjuvante.

"Este filme é uma produção pequenininha no qual tive uma única diária de filmagem, mas de enorme prazer, pois o diretor nos deu liberdade total para criar junto com o Rômulo", diz Mutarelli, quadrinista que, nos últimos dez anos, atuou em 16 produções, entre curtas e longas. "Às vezes aparecem convites como o do Ricardo em que o diretor quer valorizar nossa proposta criativa para um filme, o que é ótimo. E quando aparece convite da Anna Muylaert eu sempre aceito, porque filmar com ela é sempre ótimo. Eu tentarei seguir fazendo essa experiência como ator enquanto estiver me divertindo. Mas os convites nem sempre aparecem. Tenho agora um roteiro de curta para ler...".

Astro do cult O Natimorto (2009), Mutarelli fala com orgulho de sua indicação na categoria Melhor Coadjuvante ao Grande Prêmio do Cinema Brasileiro (a ser entregue no dia 4, no Teatro Municipal, do Rio de Janeiro), pelo sucesso de Que Horas Ela Volta?, de Muylaert. Mas não alimenta expectativas de vitória.

"Estou concorrendo com Chico Anysio [por A Hora e a Vez de Augusto Matraga], não tenho nem vez. Mas vai ser bom estar na festa", diz o ator, que tem ainda o projeto Nossos Ossos, de Snir Wein, para atuar, além de ter de honrar seus compromissos com as Letras, a finalizar o romance Livro IV ou O Filho Mais Velho de Deus. "É uma trama cômica, que se passa em Nova York, uma cidade eu considero bem sem graça".

SOBRE O FESTIVAL

Embora Elon Não Acredita na Morte seja um dos títulos de melhor boca a boca em Brasília desde sua exibição, ele dividiu a noite de sábado com um potencial ganhador de prêmios, egresso da mostra Panorama do Festival de BerlimAntes o Tempo Não Acabava, rodado no Amazonas. Com direção de Fábio Baldo e Sérgio Andrade, este drama sobre descobertas sexuais acompanha o processo de amadurecimento de um jovem indígena às voltas com o desejo e diante de uma luta contra tradições opressoras. Fala-se muito bem de seu roteiro: o mais vigoroso até aqui entre as ficções.

Ainda no fim de semana, na sexta, Brasília riu e se emocionou com um ensaio sobre a amizade entre duas mulheres de sotaque lusitano: o longa mineiro A Cidade Onde Envelheço, de Marília Rocha, que foi embalado por elogios em sua passagem por festivais em Roterdã e em San Sebastián. Na trama, uma portuguesa radicada em Belo Horizonte, Francisca (vivida por Francisca Manuel),acolhe uma conterrânea, Tereza (Elizabete Francisca), em seu apartamento, saindo de sua zona de conforto. Ambas têm fortes chances de serem laureadas.

Na disputa pelo prêmio principal, o de melhor filme, contudo, o concorrente mais badalado até agora é um documentário: Martírio, do indigenista Vincent Carelli, realizador do aclamado Corumbiara (2009). Num ano em que Brasília entra em erupção, sessão a sessão, com gritos de "Fora Temer!", esta investigação sobre o genocídio das tribos Guarani Kaiowá foi uma pólvora a mais no coração cinéfilo da capital do país, com imagens construídas ao longo de três décadas de observação de um povo em busca de dignidade.

Nesta segunda, Brasília acolhe seu último (e poderíssimo) concorrente: Deserto, o primeiro trabalho do ator Guilherme Weber (de Árido Movie) como cineasta, com base nas peripécias de uma trupe teatral para ocupar e reviver uma cidade fantasma. Um monólogo inicial do dirigente da trupe (vivido pelo veterano Lima Duarte) sobre a arte já é uma promessa de fortes emoções para este festival, quase cinquentenário. 

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