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Festival de Berlim | Comédia inglesa com ator de Harry Potter é ovacionada

The Party, da diretora Sally Potter, tem Timothy Spall no elenco

13.02.2017, às 11H54.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Pequenininha em termos de duração (71 minutos) e precisa nos alvos políticos ao mirar hipocrisias dos ingleses (e de outros povos), a comédia em preto e branco The Party, da sexagenária cineasta britânica Sally Potter, é o único dos concorrentes ao Urso de Ouro no 67º Festival de Berlim, até agora, a ter sido acolhido com ovação popular, pontuado por gargalhadas do começo ao fim. Não há uma frase no roteiro, escrito pela cineasta, que não esbanje ironia, sobretudo por sair da boca da nata do cinema europeu, começando com Timothy Spall, o eterno Rabicho da franquia Harry Potter. A seu lado estão astros de distintas gerações e nacionalidades como o irlandês Cillian Murphy (o Espantalho de Batman Begins), a inglesa Kristin Scott Thomas (de Missão Impossível), a americana Patricia Clarkson (de Vicky Cristina Barcelona) e o mítico ator alemão Bruno Ganz, dos cults Asas do Desejo (1987), A Queda! (2004).

Queria que este filme pudesse ser encarado como um antídoto para a cultura de superproduções que estamos vivendo hoje, resgatando o prazer de uma história simples, com grandes atores e que cultuasse o ser humanos e suas excentricidades”, diz  Sally, em resposta ao Omelete em Berlim, onde tem fortes chances de ser premiada com o troféu de melhor direção, da mesma forma como Ganz e Spall passaram a ser encarados como favoritos à láurea de melhor ator.

Ambientado em alguns cômodos de uma casa, The Party acompanha as confusões que se instauram durante uma ceia na casa da nova Ministra da Saúde do Reino Unido, Janet (Scott) no momento em que seu marido, o ex-professor Bill (Spall), faz um par de revelações bombásticas aos convidados. Estão nessa festa: um casal de lésbicas (Cherry Jones Emily Mortimer); um investidor do mercado financeiro com o nariz inflamado de cocaína, Tom (Cillian); a melhor amiga de Janet, April (Clarkson, cujos diálogos são os mais ferozes do filme) e seu namorado germânico, o espiritualista Gottfried, vivido por Ganz numa atuação hilariante.   

É bom não só poder representar um alemão gente boa mas como poder fazer parte de uma comédia, coisa rara de me oferecerem”, disse Ganz, na disputada coletiva do filme, que nasceu da preocupação de Potter com o enfraquecimento da esquerda na Inglaterra.

Diretora do cultuado Orlando – A Mulher Imortal (1992), a cineasta diz ter buscado uma fotografia mais formalista, que esculpisse cada cena buscando a verdade de cada ator e evitando uma narrativa teatral. “Tentei jamais dirigir os atores de uma maneira muito ‘encenada’, empostada, como se o cenário fosse um palco: a movimentação desenha a ação do filme, que o russo Alexey Rodionov fotografou como base na força do preto e branco”, diz a diretora, cujo longa mais recente foi Ginger & Rosa (2012). “Os filmes que mais me influenciaram na vida são em preto e branco”.

Aliás, também é PB o filme de ficção brasileiro mais elogiado (até agora) da esquadra de 13 produções nacionais na Berlinale 2017Vazante, de Daniela Thomas, clicado pelo fotógrafo peruano Inti Briones. A revista Variety rasgou elogios ao longa – incluído na seção Panorama, paralela à corrida pelo Urso de Ouro - pela potência visual da recriação do Brasil escravocrata de 1821.

Além de The Party, dois outros filmes em competição disparam no boca a boca de Berlim, sendo um do Chile e outro do Japão. Já existe uma torcida organizada por aqui (e com toda razão) em torno da vitória de Daniela Veja, estrela do drama chileno Una Mujer Fantástica, na disputa pelo prêmio de melhor atriz. E mais do que mérito, pelo trinômio empenho + talento + ferramental cênico farto, a premiação desta mulher trans seria uma forma de reconhecer um dos pleitos sociais, sexuais, comportamentais e políticos mais urgentes da atualidade: a inclusão dos transsexuais. O novo filme do diretor Sebastián Lélio (de Glória) relata o inferno que se abate sobre a vida da cantora trans Marina (Veja) depois que seu namorado morre (subitamente, de aneurisma), despertando uma onda de agressão e de repulsa por parte da família do finado. Já o darling japonês de Berlim começa com um filme de gângster, passa pela comédia, vira melodrama e regressa à ação, com litros de sangue: Mr. Long, de Sabu. Nele, um matador de aluguel de Taiwan perdido em terras nipônicas vira cozinheiro para levantar o dinheiro necessário para regressar a seu lar. Mas contas não pagas de seu passado serão cobradas, com violência.

Nesta segunda (13), a presença do Brasil no festival vai se estender também pelo território da teledramaturgia, com a exibição de dois produtos da TV Globo no evento. Nesta segunda, Berlim projeta episódios de Os Experientes, feita sob a supervisão de Fernando Meirelles, e a versão hispânica de SuperMax, dirigida pelo argentino Daniel Burman (de O Abraço Partido). 

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