Dois filmes de língua espanhola rodados por cineastas autorais, ambos fora de concurso pelo Urso de Ouro, são alvos de debate e matérias de polêmica, por razões distintas, no 67ª Festival de Berlim: de um lado, o thriller de suspense El Bar, filmado em Madri por Álex De La Iglesia; do outro, Últimos Días En La Habana, do cubano Fernando Pérez. O primeiro é promessa de blockbuster. O segundo é candidato a cult. Um chocou pelo excesso de sangue - mas muito, a ponto de ter espectador nauseado - o outro incomodou pelo niilismo.
Diretor de O Dia da Besta (1995), De La Iglesia fez uma especie de 'Jogos Mortais' sabor paella, com tripas e miolos à mostra: frequentadores do tal El Bar do título são acossados lá dentro por um atirador de elite e, confinados, passam a desconfiar uns dos outros. Tudo acaba no esgoto, com fugas por águas imundas. O espanhol passa por aqui nesta quarta (15) para falar de sua estética pop de muito exagero.
Já Últimos Días En La Habana desceu azedo por gargantas acostumadas às ideologias castristas: trata-se de um conto sobre amizade, com um pé na ficção e outro no documentário, sobre a relação entre um soropositivo e um lavador de pratos num bairro paupérrimo da capital cubana. Na vinda a Berlim, Pérez, aclamado mundialmente por Suíte Havana (2003), não teve pudor ao falar da morte de Fidel: "A perda dele foi uma espécie de crônica de uma morte anunciada: a fraqueza de saúde afastou Fidel do poder lá no meu país há tempos", diz o cineasta.
Na quinta (16), a Berlinale promete aquecer corações apaixonados por animês com a projeção de uma cópia inédita de Ghost in the Shell (1995), de Mamoru Oshii, em tela grande, padrão IMAX, para servir como esquenta para a estreia europeia de Vigilante do Amanhã, com Scarlett Johansson. Antes, na quarta (15), o evento mais esperado do festival não é uma projeção e sim um debate: um dos favoritos ao Oscar deste ano, o diretor Raoul Peck, do Haiti, vai dar uma aula sobre o cinema do real ao comentar seu doc I Am Not Your Negro e sua ficção O Jovem Karl Marx.
Sábado (18) a Berlinale chega ao fim, com a entrega dos prêmios decididos pelo júri chefiado pelo diretor holandês Paul Verhoeven (Elle). Até o momento os filmes mais badalados da competição são The Other Side of Hope, de Aki Kaurismaki, da Finlândia; Una Mujer Fantástica, de Sebastián Lelio, do Chile; e The Party, de Sally Potter, do Reino Unido. O pior até agora é o alemão Bright Nights.