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Festival de Cannes | Análise dos vencedores

Steven Spielberg nega, mas seu júri fez da edição 2013 uma premiação politizada

27.05.2013, às 16H11.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Quando entregou ontem a Palma de Ouro a La Vie d'Adèle, no encerramento do Festival de Cannes, o presidente do júri, Steven Spielberg, disse que não era uma escolha política, que o filme é uma "grande história de amor", mas no mundo de hoje, particularmente na França, é evidente que a premiação adquire uma carga política.

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O drama sobre o despertar sexual de uma adolescente, que se apaixona por outra menina, chega num momento em que o debate sobre casamento gay gera na França não apenas revolta de religiosos e conservadores, mas também atos extremos, como o suicídio de um ativista de direita dentro da Igreja de Notre Dame, há uma semana. O fato de o diretor franco-tunisiano Abdellatif Kechiche ser de ascendência árabe torna mais aguda a premiação, numa França de inclinações cada vez mais xenófobas.

Adaptação da HQ Le Bleu est une Couleur Chaude, de Julie Maroh, La Vie d'Adèle não era o único filme com teor homossexual que chamou atenção em Cannes. Behind the Candelabra, de Steven Soderbergh, foi elogiado pelo trabalho do elenco (em especial Rob Lowe) e L'Inconnu Du Lac, que deu a Allain Guiraudie o prêmio de melhor direção na mosta paralela Un Certain Regard, ganhou destaque por transformar em suspense a premissa do encontro de pessoas do mesmo sexo. La Vie D'Adele já tem distribuição garantida no Brasil - pela mesma Imovision que trouxe ao país os dois longas anteriores de Kechiche, O Segredo do Grão e Vênus Negra -, ainda sem data definida, e Behind the Candelabra passará no Brasil na HBO.

A Palma de Ouro dada por Spielberg pode ser considerada corajosa - vamos torcer para que a versão de La Vie D'Adele exibida no festival, com três horas e algumas cenas de sexo, não seja mutilada comercialmente - mas nas demais categorias quem se saiu melhor foram os filmes que não dividiram demais o júri e a crítica.

Palma de Ouro à parte, é mais provável que Cannes 2013 seja lembrado pelos longas que geraram opiniões opostas (como Wara no Tate, de Takashi Miike, The Immigrant, de James Gray, ou Only God Forgives, de Nicolas Winding Refn) do que pelos demais vencedores. Houve algumas barbadas: a tradição de premiar com Melhor Direção os filmes esteticamente mais "afetados" continua (com o prêmio dado a Heli) e a premiada atuação de Bruce Dern em Nebraska provavelmente será lembrada também no Oscar. Outro que sai da França com um certo favoritismo para o Oscar é Inside Llewyn Davis, o elogiado longa dos irmãos Coen, que teve que se contentar com o Grande Prêmio do Júri, espécie de medalha de prata em Cannes.

A divisão das categorias na competição principal é pensada para pulverizar os prêmios, mas ainda assim alguns nomes saem de Cannes prestigiados, como Jia Zhang-ke, que fez em Tian Zhu Ding um raro (e violento) flerte com o cinema de gênero e saiu com Melhor Roteiro. Entre os desprestigiados, destacam-se dois: o italiano xodó de Cannes Paolo Sorrentino (que compareceu à cerimônia de entrega, sinal de que poderia sair com algum troféu, mas não levou nada) e o iraniano do momento, Asghar Farhadi, de A Separação, cujo Le Passé levou o troféu de Melhor Atriz (para Bérenice Bejo) de forma praticamente simbólica, porque Adèle Exarchopoulos, a protagonista de La Vie d'Adèle, dividiu a Palma de Ouro com seu próprio filme, por sua atuação.

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