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Festival de Cannes | Com canibalismo e necrofilia, The Neon Demon é alvo de vaias

Novo filme do diretor de Drive critica o mundo da moda

19.05.2016, às 16H53.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Necrofilia, canibalismo, litros de sangue e muita - mas muita - nudez feminina: essa é a receita do thriller The Neon Demon, novo filme do dinamarquês Nicolas Winding Refn (Drive), que, por sua aposta radical na estética "gore" e por seu excesso de experimentação formal, foi vaiado inflamadamente no 69º Festival de Cannes. Ouviam-se ainda xingamentos do tipo "Que merda!" em muitas línguas, mas quase sempre de bocas grisalhas. Mas vaia e ofensas aqui devem ser relativizadas: como o preconceito contra o olhar estilizante do cineasta é grande, já se escutavam da escadaria do Palais des Festivals, antes da projeção, papos do tipo "o que este lixo faz aqui?" e coisas do gênero. Mas ataque algum atenua a potência visual do longa, menos ainda a impagável participação de Keanu Reeves, o Neo da franquia Matrix (1999-2003).

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Desde que ganhou o prêmio de melhor diretor aqui em Cannes, em 2011, de um júri presidido por Robert De Niro, Refn viu seu cacife na indústia crescer, assim como cresceu seu rol de antipatizantes. Seu longa anterior, Apenas Deus Perdoa (2013), também foi destroçado pelos críticos, avessos às cartilhas de gênero. De uma certa forma, The Neon Demon é uma reação dele à vaidade intelectual, encarnada aqui no mundo da moda. Elle Fanning vive Jessie, uma jovem modelo, virgem, de apenas 18 anos, que vai para Los Angeles tentar a sorte profissional nas passarelas. Mas lá é engolida (em muitos sentidos) por um universo de estranheza.

Mulheres de libidos misteriosas, um fashionita cheio de fogo (Alessandro Nivola, hilário) e uma vilã para fazer jus aos grandes psicopatas do cinema - Ruby, vivida com esplendor por Jena Malone - cruam o caminho de Jessie numa trama que não chega a se alinhar com o terror, como anunciado por Refn. É mais um suspense gore, sangrento e erótico, que evoca referênvias de David Lynch (em Mulholand Drive) e Brian De Palma (em Dublê de Corpo), fazendo alusão direta a Sob a Pele (2013), com Scarlett Johansson. Reeves tem presença curta, numa cena da qual não se deve falar para evitar spoillers.

Dois erros são evidentes em The Neon Demon: a) Refn joga os 20 primeiros minutos no lixo num arrastado ensaio de moda para fetichizar o corpo de Fanning; b) Usa Reeves menos do que deveria. Mas nada disso justifica a recepção, nem a postura pouco educada da imprensa: batendo portas, espiando celulares, praguejando no fundo da sala. 

Até o momento, The Neon Demon é o filme mais repudiado, seguido pelo também sombrio Personal Shopper, com Kristen Stewart. Por outro lado, o sucesso do brasileiro Aquarius, de Kleber Mendonça Filho, só faz crescer, com elogios de toda a Europa para Sonia Braga. Mais aclamado só Paterson, de Jim Jarmusch.

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