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Festival de Cannes | Filme de Diane Kruger é ovacionado e entra na disputa pela Palma de Ouro

Longa alemão fala sobre ódio e o neonazismo na Europa

26.05.2017, às 10H11.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Revelada para Hollywood em Cannes, há 13 anos, quando estrelou Troia (2004), ao lado de Brad Pitt, a alemã Diane Kruger volta à Croisette com o que periga ser - por méritos estéticos e políticos - a Palma de Ouro de 2017. Centrado no trauma do terrorismo em toda a Europa e de olho aberto para os novos focos de neonazismo planeta afora, In The Fade chegou nos momentos finais da competição com fôlego (e poesia) para virar o jogo em prol do diretor teuto-turco Faith Akin. Ganhador do Urso de Ouro em Berlim em 2004 com a love story Contra a Parede, ele põe Kruger na pele de uma viúva que perdeu marido e filho num atentado... e quer o troco.

"Vivemos tempos em que o terror está ao nosso redor", disse a estrela à frente de sucessos como Bastardos Inglórios. "Eu mal consigo dormir desde que soube do atentado em Manchester. E há atentados por todo lado. É como se eu não atuasse nesse filme e, sim, vivesse aquela realidade".

Exibido diante de uma multidão em absoluto silêncio ao longo de 106 elétricos minutos, In The Fade se ergue a partir da espinha dorsal da obra de Akin: as contraindicações inerentes ao proceso de globalização e todo o seu multiculturalismo. Filho de um pescador e de uma professora, meio turco, meio alemão, o cineasta flagra o preconceito contra os imigrantes ao sugerir as causas da explosão que mata o marido de sua protagonista Katja (Kruger). Ele vinha da Turquia e cometeu um crime (tráfico) em seu passado. Mas mudou de vida... ao lado dela. A morte dele e do filho do casal espelha a tensão com o povo turco em terras germânicas e sublinha a xenofobia europeia.

"O medo está por todo lado pois vivemos sob um estado de guerra. Uma nova guerra, sem tanques ou helicopteros, que ocorre de forma simultânea em todo o mundo, em tragédias setorizadas. Este é o mundo globalizado: ele assusta e nos desafia", diz Akin, que arrebatou a Croisette com a solução de tom humanista que arruma para Katja. "Há algo mais importante do que a vingança: é o pertencimento. Este é um filme sobre maternidade e família".

Há um ano, ninguém entendeu por que a Alemanha saiu de Cannes de mãos vazias após todo o êxito de Toni Erdmann em concurso. Isso pode mudar agora, com Kruger (que virou "a" favorita ao prêmio de Melhor Atriz) e com Akin, que ainda inflamou o debate local sobre o papel da Netflix em festivais de cinema. O presidente do júri, Pedro Almodóvar, questionou esse lugar. Mas Akin discorda dele: "A cutura audiovisual tem muitas formas e elas têm que conviver com harmonia. Somos uma só família", disse Akin.

Cannes confere nesta sexta (26), no encerramento da mostra paralela Quinzena dos Realizadores a produção Brasil-EUA Patti Cake$, que foi sensação no Festival de Sundance, em janeiro. Produzido por Rodrigo Teixeira (Tim Maia), o filme segue os passos de uma jovem no universo do hip-hop. Já na seção Un Certain Regard, a Bulgária mete o pé na porta da cinefilia mundial com um drama escaldante sobre o ônus do capitalismo chamado Directions e rodado por Stephan Komandarev. No longa, a decisão de um taxista de dar um tiro no gerente de seu banco e em si mesmo deflagra um movimento em prol da ética, contra corrupção.

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