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Festival de Gramado | Cinebiografia de Elis Regina estreia e convence na competição

E O Roubo da Taça arranca gargalhadas apesar da plateia esvaziada

28.08.2016, às 12H03.

O Festival de Gramado iniciou na noite de sábado sua seleção competitiva de curtas e longas-metragens de 2016 testemunhando uma ovação, como poucas vezes experimentou em seus 44 anos de existência, para Elis, cinebiografia de Elis Regina (1945-1982) estrelado por uma Andréia Horta em estado de graça.

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Estrela da recente novela Liberdade, Liberdade, a atriz mineira alcança um novo patamar em sua carreira ao ceder corpo e alma para a recriação dos fatos mais marcantes da vida da cantora ícone da MPB, imortalizada por hits como "O Bêbado e a Equilibrista" e "Como Nossos Pais". Ao fim da projeção, os cerca de 800 espectadores que abarrotaram o Palácio dos Festivais aplaudiram de pé a equipe do diretor estreante Hugo Prata, por sua recriação do Brasil dos anos 1960 a 1980 pela via musical.

"Eu mantive mulheres por perto na hora de escrever o roteiro, trabalhando com roteiristas como Patrícia Andrade e Vera Egito, para contar a história de Elis Regina sem cair em armadilhas machistas", diz o cineasta. "Apenas retratar o quanto Elis Regina foi brilhante como cantora seria chover no molhado e, por isso, eu preferi seguir outro caminho: explicar o arco dramático dela, abalado pela ditadura militar e por uma série de experiências afetivas que a deixaram exausta", diz Prata, que alcança um padrão visual sofisticado graças ao trabalho do fotógrafo Adrian Tejido.

Em seu longa, previsto para estrear até o fim do ano, as canções que celebrizaram a voz de Elis são passadas em revista como espécie de mosaico dramático que traduz as diferentes fases da carreira da cantora, a partir de sua chegada ao Rio de Janeiro, em 1964, egressa de Porto Alegre. Claro que a origem gaúcha dela pesou, vide o bairrismo local, na consagração do filme em Gramado, mas a acolhida fervorosa ao filme não se limitou a isso: além de Andréia Horta, outros atores se destacam no longa, como Lúcio Mauro Filho vivendo o apresentador Miéle e Júlio Andrade no papel do performer Lennie Dale.

Terminado Elis, a comoção em Gramado prosseguiu com a entrega de um prêmio especial para o ator Tony Ramos pelo conjunto de sua carreira. Com o clima emotivo em alta, o cenário parecia hostil para uma comédia entrar em campo, sobretudo uma "comédia torta", malandra, como O Roubo da Taça, de Caito Ortiz. Mas, apesar de a plateia ter se diluído, já baleada pela hora (eram quase 22h30 quando o tributo a Ramos acabou), o filme de Ortiz entrou bem na competição, tendo Paulo Tiefenthaler (de Larica Total) como chamariz. O longa, ambientado no Rio de Janeiro de 1983, a partir do sumiço da Jules Rimet, o troféu conquistado pela Seleção Brasileira na Copa de 1970, carrega a logomarca da Netflix já em seus créditos de abertura, demarcando a entrada da plataforma no cenário dos festivais nacionais.

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"Fazemos hoje no Brasil comédias muito mal filmadas, entregues demais ao público em piadas muito facilitadas, e, a ideia aqui era mudar isso, sob a inspiração da grande comédia italiana dos anos 1970, e fazer uma espécie de chanchada", diz Ortiz, diretor de Estação Liberdade (2013). "Procurei investir em planos mais longos, sem cortes, o que favorece o talento dos atores", diz Ortiz. "Eu nasci no Rio e me mudei para São Paulo aos quatro anos. Mas usei fotos de época, dos anos 1980, para recriar o colorido carioca. O Rio tem muita cor."

Ganhador do prêmio de público no festival SXSW, no Texas, O Roubo da Taça foi um dos filmes brasileiros de maior visibilidade e de melhor boca a boca no Marché Du Film do Cannes (zona de negócios do evento francês), e buscou em Gramado um palco para aquecer seu lançamento. A trama acompanha as armações do vendedor de seguros Peralta (Tiefenthaler) para se apropriar da Jules Rimet e tirar dela o dinheiro necessário para quitar suas dívidas de jogo, aplacando a fúria de sua mulher, Dolores (Taís Araújo). Em cena, Stepan Nercessian tem seu brilho como um dirigente da CBF, assim como o rapper Mr. Catra, numa hilária participação como um potencial comprador do troféu. Mas o momento alto do longa - quiçá da noite - foi a sequência de Tiefenthaler dançando com a taça, só de sunga, e bebendo Toddy.

Neste domingo, a briga pelo Kikito de melhor filme segue com O Silêncio do Céu, de Marco Dutra, estrelado pelo argentino Leonardo Sbaraglia (de Relatos Selvagens) com Carolina Dieckmann. Os ganhadores serão conhecidos no dia 3 de setembro.

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